* Alexandre Palmar
O cruzamento da Avenida República Argentina com Paraná, no centro de Foz do Iguaçu, foi transformado numa mistura de circo, torre de babel e arena neste fim de setembro. Diariamente, dezenas de homens e mulheres, dos mais variados naipes, tentam vender seu peixe para motoristas e uns pedestres que desafiam o trânsito.
Os jornaleiros são os mais antigos e considerados os verdadeiros donos do pedaço. Aos berros, vendem os diários e os semanários locais, com suas manchetes para todo tipo de leitor, desde aqueles ávidos por informações, classificados, ofertas de empregos até para os sedentos por sangue (dos outros).
Nem tão antigos como os vendedores de jornal, mas com direito a usucapião do ponto, os comerciantes oferecem frutas, balas, doces, água e um suspeito suco de laranja engarrafado. Tem alguns que comercializam produtos mais ousados como camisinhas. ''Tudo para garantir a comida da noite'', brinca o autônomo Severino Rocha, 69 anos.
Já os panfleteiros exibem de promoções a cursos que ensinam a ganhar dois mil reais por mês. ''Hã?! O distribuidor sabe como ganhar dinheiro e repassa papel?'', questiona Severino. Os folhetos têm solução até para as multas dos pardais, cuja uma das câmaras espalhadas na cidade está a poucos metros daquele batalhão de gente.
Os argentinos artistas de rua são figuras novas na área. Com a crise no país vizinho, alguns deles cruzaram a fronteira em busca de reconhecimento. Enquanto o semáforo está fechado, os ''hermanos'' de semblantes pintados divertem a todos com malabarismos e brincadeiras. Também quebrados, brasileiros retribuem, mas quase sempre com palmas.
Os cabos eleitorais, ah, esses sim, são bem representados em gênero, número e grau. Tem aquele sempre com uma saudação mecânica saindo da boca, aquele que joga o santinho (o papel, não o candidato) dentro do veículo. Diferente dos patrões, acostumados a jogar sujo pelo poder, o pelotão chega até a brincar durante a disputa por voto.
Por enquanto, portadores de deficiência, garotos de rua e mães com criança no colo estão fora de cena por causa da concorrência na região. Junto com milhões de desempregados, trabalhadores informais e pedintes iniciaram a contagem regressiva para a criação de dez ou oito milhões de empregos. Vai depender de quem o povo escolher como novo presidente. E da palavra do eleito.
* Alexandre Palmar é jornalista em Foz do Iguaçu e editor do H2FOZ.
* Publicado na Folha de Londrina, em 25 de setembro de 2002.
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