Por Osmar de Souza Almeida Junior
Como uma mudança sociopolítica e um problema de saúde fizeram com que Luciano Castilha desse uma chance à magrela
O ano de 1988 foi marcante para a história do Brasil. No final daquele ano, mais precisamente em 5 de outubro, o deputado federal Ulysses Guimarães fazia o discurso referente à homologação da Carta Magna. As suas palavras valorizavam os esforços obtidos por brasileiro ávidos pela “Constituição cidadã”.
O empresário Luciano Castilha tem poucas lembranças dessa época. Foi quando sua família decidiu deixar Santa Lúcia, a 170 km de Foz do Iguaçu. A cidade tratou de acolher o garoto, que tinha somente 11 anos. A expectativa era a de superar os desafios e fincar raízes sólidas na fronteira. O lugar escolhido foi o Parque Residencial Morumbi 2.
A falta de estrutura na região não o abalou. Em pouco tempo, Luciano encontrou uma forma de ajudar nas despesas de casa. Aos 14 anos abriu uma pet shop no bairro. O auxílio dos pais foi um fator preponderante para que ele tomasse a iniciativa. As tarefas do dia a dia e o empenho que tinha na escola acabaram afastando-o de um hobby antigo: pedalar de bicicleta pelo bairro e conhecer mais de perto a vizinhança.
O Morumbi era considerado um bairro perigoso. Os índices de violência chegavam a números alarmantes. A desigualdade social também acarretava o cenário de dificuldades estruturais. Havia restrições dentro de casa. O pai, Lourenço Castilha, além de professor, era como um guia para os acontecimentos menos inesperados. Ao longo do tempo, Luciano foi perdendo amigos para o crime. O futuro parecia obscuro para aquela região, que foi considerado um dos bairros mais perigosos na região.
Mudança de vida
Entrou para a faculdade em Santa Terezinha de Itaipu. Conheceu a esposa, Cláudia, depois de ter terminado a graduação. A companheira se tornou o “braço direito” dele na organização da pet shop. Os anos de dedicação ao trabalho causaram danos à saúde. O deslize em relação ao peso o obrigou a procurar um médico. Sabendo que a situação era crítica, recebeu o diagnóstico com preocupação: obesidade mórbida. E o recado do médico foi direto: “Faça uma atividade física e leve a sério”!
Voltou a pedalar, mas nem por isso a escolha trouxe benefícios em curto prazo. O corpo não estava preparado para uma mudança tão abrupta. Luciano precisou entender que necessitava estabelecer metas para que o seu corpo se adequasse à exigência da atividade física. Com o processo de melhor condicionamento, ele redescobriu uma paixão que estava adormecida havia anos. O esforço físico foi recompensado. Além da melhora da saúde, ele teve o apoio da família. Seus pais e a mulher entraram nessa empreitada e começaram a dar as primeiras pedaladas.
“A condição social da bicicleta causa uma
mudança transformadora na sociedade”
Realmente Luciano está certo. Estudos comprovam que o uso contínuo da bicicleta diminui os níveis de estresse. A preferência por esse tipo de transporte também causa efeitos positivos ao meio ambiente. A emissão de carbono é reduzida até a marca de 10%. O custo mensal também valoriza a inclusão desse transporte no cotidiano das pessoas. Em comparação a automóveis, a bicicleta economiza cerca de R$ 451; e para quem usa ônibus, o valor chega a R$ 138.
Casa do Ciclista
O empresário afirma que os deslocamentos são mais curtos e o nível de dificuldade é mínimo. Ainda que haja a preocupação da família, a intenção é continuar pedalando. A sua paixão pelo esporte é tão evidente que em 2012 ele abriu a Associação Ciclística Cataratas do Iguaçu. O projeto abarcou a participação de outros ciclistas e visa a incentivar o uso frequente de bicicleta pelas pessoas.
A casa já recebeu visita de turistas de todos os continentes e é a única no país que recebe viajantes a custo zero. Depois de seis anos de sua abertura, o espaço já conseguiu a estabilidade financeira – o que impulsiona Luciano a planejar novas metas.
Morumbi Hoje
Depois de 30 anos morando no mesmo bairro, hoje ele vê uma mudança significativa. Agora, as culturas de formação estão mais descentralizadas e dão vazão a novas aberturas. O município se encontra mais participativo na formação do caráter social e pedagógico da população. A relação do turismo com a cidade poderia fazer a intermediação entre os incentivos técnicos e os direitos de cada indivíduo. Uma dessas experimentações foi o Fórum de Mobilidade Urbana, ocorrido em 2016 e 2017, que teve a participação de instituições de ensino.
Automóveis x Bicicletas
A maior parte do fluxo é composto por veículos motorizados, o que obriga os ciclistas a estarem usufruindo a faixa com os devidos cuidados. Luciano acredita que o ciclista conquista o respeito a partir do momento em que ele se movimenta devidamente uniformizado e com os equipamentos.
As empresas também deveriam incentivar o uso da bicicleta. Essa falta de planos acaba criando prejuízos na relação entre motoristas e ciclistas. Da parte do trânsito seria viável essa concentração de ciclistas. Além das garantias de melhora na circulação de veículos.
Constituição
O texto apresentado pelo deputado Ulysses Guimarães assegurava os direitos essenciais ao exercício da cidadania. Os reflexos desses esforços trouxeram benefícios em longo prazo. Luciano pôde integrar-se à comunidade em que vivia com o estabelecimento das normas vigentes no país.
Hoje ele vê mais recursos para a manutenção do equilíbrio tanto em suas atividades profissionais como na relação com a região em que mora. Luciano e sua família souberam lidar com as conquistas. Ele cumpre seu direito de ir e vir pedalando e conhecendo cada vez mais os costumes e hábitos dos povos.
* Osmar de Souza Almeida Junior é acadêmica de Jornalismo no Centro Universitário UDC.
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