Ciclofaixa na Vila A: direito ou aventura ao pedalar?

Via que deveria ser uma boa notícia tem se mostrado ineficiente e curiosamente malfeita

Texto: Mayara Godoy – Portal Bicicletismo

A reportagem é uma produção conjunta entre o Bicicletismo e o H2FOZ. 

No começo do mês de julho, a prefeitura anunciou a nova ciclofaixa da Avenida Sílvio Américo Sasdelli, que engloba toda a extensão da via, nos dois sentidos. O que deveria ser uma boa notícia, porém, tem se mostrado, até o momento, ineficiente e curiosamente malfeito.

Nós chegamos a anunciar, num post sobre a conversa que tivemos com a Prefeitura de Foz, que a Sasdelli estava incluída no plano de expansão da malha cicloviária da cidade. O que não imaginávamos era que seria desse jeito.

Imagem aérea divulgada pelo Foztrans – Foto: reprodução 

Tecnicamente, a ciclofaixa consiste apenas em uma demarcação, com um risco vermelho, de uma estreita faixa do lado esquerdo da avenida, em ambas as direções. Apesar de muito bonito olhando de cima, como nesta imagem, de perto os problemas ficam bem evidentes.

O primeiro problema, e o mais óbvio, é justamente o fato de a faixa ser localizada à esquerda do tráfego, e não à direita. Embora a legislação permita que a ciclofaixa seja demarcada no lado esquerdo, na prática ela gera muitos transtornos para os ciclistas.

Para fazer a conversão, carros bloqueiam a ciclofaixa – Foto: Marcos Labanca/H2FOZ

Conversão perigosa

Um dos principais problemas é que, ao fazer a conversão, os motoristas estão acostumados a olhar para o lado direito – ou seja, para a pista de mão contrária – para verificar se vêm outros veículos. Não é de praxe que o motorista cheque o seu retrovisor esquerdo, pelo qual ele enxergaria um ciclista trafegando pela ciclofaixa. Além disso, ao parar no retorno, o carro acaba bloqueando as ciclofaixas nos dois sentidos.

No post que fizemos no Facebook, o Ramon Fernandes Lourenço comentou sobre uma situação muito perigosa pela qual passou, justamente por esse problema:

“Quase voei por cima de um carro ao descer pela avenida, enquanto o indivíduo cruzava as três vias (duas da rua e a ciclofaixa) para entrar (à esquerda) na rua de baixo do Gramadão.”

Cadê os tachões?

Outro problema é que, até o momento, não foram instalados os tachões de separação, para dar um mínimo de proteção ao ciclista – assim, o carro consegue trafegar por cima da ciclofaixa livremente.

Tachões são necessários para a segurança dos ciclistas – Foto: Marcos Labanca/H2FOZ

Asfalto desnivelado

Um dos principais problemas que eu vejo nessa improvisação é que, pela demarcação simplesmente ter sido feita de qualquer jeito, ao lado esquerdo da pista de rolamento, ela abrange justamente a área onde termina o asfalto, o que gera um desnível que pode ser bem perigoso para os ciclistas.

Asfalto deteriorado é risco para quem anda de bike – Foto: Marcos Labanca/H2FOZ

A Renata Rocha também comentou, ressaltando esses problemas:

“Pode até haver boa intenção por parte da Foztrans, mas não houve nenhum estudo, pois as faixas pintadas próximas ao canteiro central, com desnível da pista, buracos, bueiros, acabam dando uma falsa sensação de segurança aos ciclistas e colocando os mesmos em risco.”

Interrupção

Além de tudo que citamos acima, esta ciclofaixa tem uma peculiaridade muito iguaçuense: quem frequenta a Vila A sabe que, em frente ao Supermercado Líder, por pressão dos comerciantes locais, foram designadas (de maneira totalmente irregular) faixas de estacionamento ao lado esquerdo da pista, margeando o canteiro.

Além de ser algo caótico para os próprios motoristas, essas vagas também causam um efeito bastante adverso para a tão distinta ciclofaixa: ela é interrompida neste pedaço, que vai da esquina da Avenida Eng. Hildemar Leite França até a esquina com a Rua Tamanduá. Depois, tudo volta ao normal. Curioso, não? Se você estiver passando por ali, já sabe: é a hora de levantar voo com a bike!

Sinalização… cadê?

Como se não bastassem todos os problemas, muita gente sequer sabe o que significa aquela pintura vermelha, porque não há nenhuma sinalização. As ciclofaixas deveriam ter, além da sinalização horizontal – indicando tratar-se de uma faixa exclusiva para bicicletas e da indicação de direção –, placas indicativas com o símbolo da bicicleta.

Mobilidade urbana é um direito de toda a população – Foto: Marcos Labanca/H2FOZ

Conscientização

Por último, mas não menos importante: nada adianta gastar um monte de tinta vermelha – que logo logo desaparecerá sem manutenção – se não for feito o básico, que é conscientizar os usuários. Para que uma ciclofaixa ou ciclovia cumpra seu papel, as pessoas precisam saber o que é, para que serve e como se usa.

Não tenho dados estatísticos, mas todos os dias observo as pessoas trafegando de bicicleta pela avenida, e pouquíssimas utilizam a faixa. E, destas, algumas ainda trafegam pela contramão.

É necessário investir, e muito, em educação de trânsito, em campanhas de conscientização, em divulgação, em esclarecimentos. Caso contrário, não surtirá nenhum efeito e não haverá a tão desejada segurança para todos.

São necessárias campanhas de educação no trânsito – Foto: Marcos Labanca/H2FOZ

Respostas da Prefeitura de Foz 

Os editores do H2FOZ pediram respostas à prefeitura sobre os principais problemas apontados pela reportagem. As respostas foram encaminhadas pela assessoria de comunicação. Leia:

H2FOZ: A ciclofaixa está localizada no lado esquerdo da pista de rolagem. Embora seja legalmente prevista, não é a adequada, pois nela os veículos fazem a conversão expondo os ciclistas ao risco de atropelamento. Isso porque os motoristas não costumam olhar para trás à esquerda na avenida para ver se vêm ciclistas. A prefeitura implantará alguma medida para diminuir os riscos de acidente?

Prefeitura: Os cruzamentos foram todos sinalizados com a continuidade da ciclofaixa inteiramente pintada em vermelho com as bordas brancas, conforme prevê o CTB. Nos cruzamentos devidamente sinalizados, a preferência é do ciclista. Os condutores dos demais veículos devem estar atentos à presença de ciclistas nos cruzamentos, pois estão corretamente sinalizados. 
 
H2FOZ: A ciclofaixa foi demarcada num asfalto desnivelado, com lombadas e rachaduras. A prefeitura vai reparar as rachaduras? Corrigir o desnível? Encurtar a largura das lombadas para que estas não avancem sobre as ciclofaixas?

Prefeitura: A ciclofaixa da Avenida Silvio Américo Sasdelli foi implantada aproveitando uma largura da pista que era pouco utilizada pelos demais veículos devido à vegetação que invadia a faixa da esquerda. Quanto às lombadas, não há necessidade de removê-las da ciclofaixa, tendo em vista que estão sinalizadas. A sarjeta existente, que cria uma descontinuidade longitudinal no pavimento da ciclofaixa, poderá ser nivelada no futuro, buscando mais conforto aos ciclistas. 

H2FOZ: A prefeitura colocará tachões ao longo da ciclofaixa para delimitar o espaço para as bicicletas e tentar impedir o uso do espaço por motoristas, garantindo assim o mínimo de segurança aos ciclistas? Se sim, quando?

Prefeitura: Sim, os tachões serão instalados no mês de agosto.

H2FOZ: Quais outras sinalizações serão implantadas ao longo do percurso para garantir a segurança de todos no trânsito?

Prefeitura: Serão instaladas placas e tachões.

H2FOZ: Será realizada uma campanha de conscientização para motoristas respeitarem os ciclistas? Quando?

Prefeitura: Sim, ao longo do ano.
 
H2FOZ: Qual é a extensão total da ciclofaixa na Avenida Silvio Américo Sasdelli? Ela será ampliada?

Prefeitura: O trecho da Silvio Américo Sasdelli, entre a Tancredo e a Garibaldi, tem 2.600 metros. São cinco quilômetros de ciclovia, nos dois lados da avenida. Existe um projeto em andamento para a construção de ciclovias na Avenida Andradina, na Tarquínio Joslin e na Garibaldi.

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