Autoridades do Paraguai vão a Buenos Aires discutir reabertura da fronteira com Argentina

Há uma dificuldade a mais, além dos casos e mortes por covid-19, que dificultam a negociação: para a província de Misiones, o fechamento da fronteira foi positivo.

H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

A diretora de Migrações do Paraguai, Ángeles Arriola, anunciou que na próxima terça-feira, 24, uma comitiva paraguaia irá até Buenos Aires, na Argentina, para discutir a reabertura das fronteiras entre Encarnación-Posadas e entre Alberdi-Formosa.

Na verdade, é mais uma tentativa para convencer os argentinos, que por enquanto estão irredutíveis, devido à pandemia, que mantém alto nível de contágios e mortes no país.

“Os pedidos por parte do governo paraguaio foram reiterados e ao mesmo tempo rejeitados”, diz o jornal Hoy.

O comércio nas duas cidades paraguaias, Encarnación e Alberdi, depende dos argentinos para sobreviver, da mesma forma que Ciudad del Este, por exemplo, depende dos compradores brasileiros.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou recentemente que as fronteiras do país estarão fechadas até dezembro.

Misiones sem interesse

Mas não é só o governo nacional da Argentina que não tem interesse na reabertura das fronteiras com o Paraguai (e nem com o Brasil). A província de Misiones, desde que as fronteiras com o Paraguai fecharam, aumentou sua arrecadação.

Os milhares de moradores de Posadas, capital de Misiones, e de outras cidades da região, passaram a fazer compras no comércio local, o que deu novo fôlego à economia regional.

A comerciante Norma Blanco admitiu ao portal Misiones Cuatro essa vantagem obtida pelas lojas de Posadas com o fechamento da fronteira. Antes da pandemia, segundo ela, pelo menos 50% dos moradores cruzavam ao país vizinho para fazer compras. “Iam por cultura, por preços, por costume”, explicou.

Crise e desemprego

Na quinta-feira, a manifestação reuniu centenas de trabalhadores e comerciantes. Eles consideram que é graças a isso que obtiveram alguns benefícios.

Enquanto isso, em Encarnación, cerca de 4 mil trabalhadores informais sobrevivem com uma ajuda do governo de apenas R$ 350 mensais para novembro, dezembro e janeiro, junto com kits de alimentos. Devem ser beneficiados também com o custo zero para os serviços de água e luz.

Segundo o jornal La Nación, os trabalhadores atribuem esses benefícios às contínuas manifestações, que incluíram o fechamento da Aduana, impedindo a entrada de caminhões da Argentina e a saída de caminhões do Paraguai para o país vizinho.

Na quinta-feira, 19, um novo grupo organizado de trabalhadores e de comerciantes legalmente constituídos de Encarnación voltou a fazer manifestações, tanto para pedir a reabertura da ponte San Roque González de Santa Cruz, que liga a Posadas, até mais assistência econômica e benefícios.

Nidal Mustafa, comerciante que faz parte da comunidade árabe-libanesa, disse que muitos de seus antigos compatriotas abandonaram suas lojas e retornaram ao Líbano, porque quebraram com a crise econômica. Eles estavam na região desde os anos 1980.

“Eu vim com 21 anos. Nós mantivemos nosso idioma e religião, assistimos (a cultos) na mesquita aqui de Encarnación, mas temos documentos (paraguaios) e todos aprendemos espanhol para poder trabalhar”, disse Mustafa.

Já a comunidade oriental taiwanesa de Encarnación é formada por cerca de 10 comerciantes, que há mais de 30 anos chegaram à região na fronteira com Posadas.

Uma das representantes dessa comunidade, Susana Liao de Huang, comentou com o jornal que se sente como paraguaia, já que se criou e estudou no país.

“Sei o que é passar necessidade e passar fome. Por minha própria convicção, fui à manifestação, hoje (quinta), e me uni à luta”, disse.

Segundo ela, os taiwaneses atuam mais em insumos de computadores e acupuntura, enquanto os coreanos se dedicam mais à venda de roupas.

Cenário epidemiológico

Na reunião entre os governos dos dois países, será analisado o cenário epidemiológico na Argentina e no Paraguai, para avaliar a possibilidade de reabertura da fronteira, conta o jornal Hoy.

O governador Juan Schmalko, do departamento de Itapúa (cuja capital é Encarnación), lamentou que as autoridades paraguaias não vejam a região com os mesmos olhos que veem Ciudad del Este, onde a fronteira com o Brasil está reaberta há mais de um mês.

O prefeito de Encarnación, Luis Yd, disse que não pode ser usada a desculpa da pandemia para manter os moradores “bloqueados ou fechados”.

Resta convencer o presidente argentino, Alberto Fernández, e o governador de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, que por motivos diferentes preferem manter a situação como está. Fernández, para não expandir a pandemia; Ahuad, pra segurar o dinheiro dos ‘misioneros’ na própria província, sem atravessar a ponte com o Paraguai.

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