Brasileiros que vivem no Líbano tentam fugir dos bombardeios israelenses e retornar a Foz do Iguaçu. Com o recrudescimento dos ataques, eles temem pela vida, têm dificuldades para conseguir voos comerciais e apelam para uma operação de repatriamento do governo brasileiro.
Em um vídeo enviado à comunidade árabe-libanesa de Foz do Iguaçu, uma brasileira relata dificuldades para deixar o país. Casada com um libanês, Valquíria Alves Levino Zimer, 37 anos, tem 4 filhos, três nascidos no Brasil e um naturalizado brasileiro. Ela está no país há 10 anos. “A cada minuto que passa, a cada segundo, está mais perigoso ficar aqui”, relata.
A brasileira foi obrigada a deixar a casa onde morava, em Keyla, Vale do Bekaa, região onde morreram o iguaçuense Ali Kamal Abdallha, 15 anos, e o pai dele, Kamal Hussein Abdallhah, 64 anos, que moraram em Foz.
Valquíria, que morou em Foz do Iguaçu, também solicita ao governo visto de refugiado para 4 sobrinhos libaneses, adolescentes e crianças, que ajuda a criar e também precisam deixar o país. “É para que eles tenham uma chance de sobreviver à guerra e poder crescer”. Ela diz que muitas crianças estão morrendo no Líbano.
Em outro vídeo, a mãe dela, Raquel Alves Levino Rosa, que atualmente vive no Rio Grande do Sul, faz um apelo às autoridades para o repatriamento porque a família não tem condições de arcar com os custos da passagem. “A gente não consegue mais descansar, dormir e trabalhar. É muito triste”.
Valquíria tem sobrinhas em Foz do Iguaçu que também apelam por ajuda. “A gente não sabe mais o que fazer, além dos filhos minha tia tem mais 4 sobrinhos que cria como filhos”, diz Kethlin Alves, 24 anos. São 3 adolescentes e uma criança de 9 anos, cujos pais não conseguem criar.
Cresce demanda de passagens via agências de Foz
A demanda por passagens no trecho Líbano-Foz do Iguaçu aumentou 30% a 50%, diz Patrícia Andrade, agente de viagens na Frontur Turismo. Ela diz que ao dia são feitos cerca de 20 a 30 atendimentos para solicitação de passagens e troca de voos cancelados.
A dificuldade de conseguir passagens deve-se a indisponibilidade e ao cancelamento de voos, que ocorrem diariamente. Como rota alternativa de retorno, muitos brasileiros seguem para a Síria para tentar voos de volta ao Brasil.
Quando conseguem voos, os brasileiros arcam com o prejuízo. O bilhete de última hora custa cerca de R$ 9,5 mil a 12 mil. Em momento de tensão e alta demanda, o preço das passagens está elevado e as poucas opções existem são caras.
Cerca de 21 mil brasileiros vivem no Líbano, conforme dados do Itamaraty. É a maior comunidade brasileira radicada no Oriente Médio.
No Brasil, estima-se que há 3,2 libaneses e descendentes, 20 mil delas vivem em Foz que tem a segunda maior colônia árabe-libanesa do país, depois da de São Paulo (SP). Em Foz do Iguaçu, pelo menos 90% dos libaneses têm parentes no país.
Governo brasileiro estuda repatriação
Segundo informe da Agência Brasil, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, conversou com o chanceler do Líbano, Abdallah Bou Habib, um possível plano de repatriação. O encontro ocorreu em Nova York durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
Ainda de acordo com a Agência Brasil, o governo também conversa com a Síria para uma possível repatriação. Com a escalada dos conflitos, muitos libaneses estão fugindo para a Síria.
Desde o início dos ataques israelenses, há 12 meses, mais de 1.570 pessoas foram mortas no Líbano, 700 delas nas duas últimas semanas.