Qual é o futuro do comércio de Ciudad del Este?

Com baixa nas vendas, muitos lojistas fecharam as portas ou mudaram de setor.

Duramente atingido pela pandemia de covid-19, o comércio de Ciudad del Este segue amargando prejuízos pela ausência de compristas deste lado da fronteira. De acordo com a Câmara de Comércio de Ciudad del Este, o volume de vendas está 60% menor se comparado ao período anterior ao início da pandemia.

“A pandemia não acabou e está se prologando. Isto está deixando muitos efeitos negativos nas empresas”, afirma o presidente da Câmara de Comércio, Juan Ramírez. Ele diz que muitas empresas estão reduzindo o quadro de funcionários e fechando ou mudando a linha de produtos comercializados para poder sobreviver.

Entre os setores que tiveram redução de vendas estão o de cosméticos, vestuário e eletrodomésticos, incluindo televisão e ar-condicionado. Também caiu a procura por alguns equipamentos, como os fotográficos, pelo fato de muitos profissionais estarem sem trabalho por não ter mais eventos. Por outro lado, aumentou a procura por equipamentos para gravar vídeos e fazer lives. Já os lojistas que trabalham com celulares estão conseguindo manter o patamar das vendas.

Com baixa nas vendas, muitos lojistas fecharam as portas ou mudaram de setor. Foto: Marcos Labanca

O comerciante Joel Pastorini informa que o movimento no comércio tem sido impactado nos últimos anos não apenas em razão da pandemia e de decretos para conter a circulação de pessoas. Os controles aduaneiros rígidos e a desvalorização do dólar também contribuem. Com a queda da receita, Pastorini foi obrigado a reduzir em mais de 50% o quadro de funcionários. “É complicado lidar com uma situação dessa, mas a única opção que a empresa teve foi reduzir o número de funcionários.”

Nas ruas de Ciudad del Este não se vê mais o costumeiro movimento de pessoas amontoadas atrás de bugigangas. E a ocupação dos hotéis em Foz do Iguaçu revela algo parecido, mostrando que o número de turistas na fronteira está baixo. Em março, a média de ocupação nos estabelecimentos foi de 13,5%; e no mês de abril, de 15% – uma trajetória em queda se comparada com janeiro (31,5%) e fevereiro (26,2%).

O comércio de Ciudad del Este segue amargando prejuízos pela ausência de compristas deste lado da fronteira. Foto: Marcos Labanca

Comércio deve passar por reconfiguração

Para o economista e presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis Weber, a perspectiva é que as vendas continuem baixas e aos poucos Ciudad del Este mude de atividade, principalmente em razão da abertura de free shops em Foz do Iguaçu.

O maior desafio, avalia, é descobrir o que fazer com o centro da cidade. Para ele, são poucos os setores competitivos do comércio local, apesar de o movimento girar em torno de US$ 300 milhões por mês.

A crise afeta principalmente os informais e os pequenos comerciantes estrangeiros – árabes e chineses. Muitos mesiteros paraguaios acabaram voltando às comunidades, permanecendo na área rural. “Ciudad del Este nunca teve uma oportunidade tão boa de começar uma reconversão urbana e planejamento como agora”, ressalta Weber.

Segundo o economista, a pandemia mostrou que o agronegócio é o motor do comércio de Ciudad del Este. O setor vem caminhando bem, e as demandas do campo movimentam os negócios neste período de crise.

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