Os efeitos das eleições primárias argentinas bateram às portas dos moradores de Puerto Iguazú. Racionamento de mercadorias e aumento do dólar e de produtos nas prateleiras dos supermercados afetaram o município que faz fronteira com Foz do Iguaçu.
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Chamada de PASO – eleição Primária, Aberta, Simultânea e Obrigatória –, a votação definiu os candidatos que irão às urnas no primeiro turno marcado para 22 de outubro e deixou rastros de um furacão com a vitória do candidato ultraconservador, o economista Javier Milei (La Libertad Avanza), com 30% dos votos.
O comércio foi um dos setores que mais sentiram os efeitos das primárias. “Em quatro dias, a caixa de azeite subiu quatro mil pesos”, diz o comerciante Bem Hanna, 38 anos. Outro produto que pesou no bolso foi a carne, que passou de 2.200 para 4.200 pesos.
Com a alteração dos preços, o comerciante precisou reajustar o valor do sanduíche, de 1.900 para 2.800. Quem perdeu foi o consumidor. Em alguns supermercados, havia filas para comprar carne, inclusive em razão da presença de brasileiros que cruzam a fronteira em busca de preços mais atrativos.
Nos postos, as filas para abastecer se mantêm, chegando a faltar combustível. O litro da gasolina na Argentina está em torno de R$ 3,20, atraindo os brasileiros, que pagam em Foz do Iguaçu cerca de R$ 5,70.
Proprietário de um restaurante no centro de Puerto Iguazú, o comerciante Nícolas Domacinovic, 48 anos, é contrário à realização das eleições primárias.
Para ele, esse pleito trouxe incertezas ao mercado, fez o dólar subir e deu chances para o voto tático do eleitor, ou seja, a escolha de candidatos ruins para prejudicar um partido. As prévias, segundo Nícolas, deveriam ser feitas pelos próprios partidos.
Milei causa rechaço em uns, mas agrada a outros
As propostas do candidato ultraconservador Javier Milei dividem a opinião dos moradores de Puerto Iguazú. Nas primárias, ele levou a melhor e foi o mais votado na cidade, com 52,35% dos votos válidos, seguido pelo candidato governista Sergio Massa, que fez 19,04% dos votos.
Para Nícolas, Milei é um produto da extrema-direita mundial, capitalista. “Hoje temos um pré-candidato a presidente que é um produto de uma desestabilização criada por outros poderes.”
Ele ainda lembra que há um presidente brasileiro que promove o BRICS (referindo-se a Lula) e que o pré-candidato argentino não quer negociar por ser contra a entrada da Argentina no grupo. Esse desencontro desestabilizaria o Mercosul.
O estudante Isaias Benitez, 16 anos, aposta em Milei para o país virar o jogo político-econômico. “Ele vai dolarizar. O peso [moeda argentina] não vale nada, dólar vale muito mais.” Isaias também destaca a proposta do candidato de privatizar o ensino, porque em vez de o dinheiro do estado ser destinado ao estado, será direcionado às famílias para administrá-lo.
Valentin Xanax, 23 anos, colombiano e amigo de Isaias, contesta. “Você que pensa, com Milei vai ter mais pobreza e menos trabalho”, dispara.
Daniel Pla, comerciante argentino que já viveu no Brasil, também apoia Milei. Dizendo-se admirador do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, ele afirma que a população argentina está cansada de viver mal, de políticas ruins, e que a opção nova é o ultraconservador.
De acordo com ele, cada governo que passou foi muito ruim (impostos, propinas…), um pior que o outro, e se não mudar a Argentina será um país comunista. “Os argentinos estão pedindo um Bolsonaro e um Bukele [o atual presidente direitista de El Salvador]. Estão copiando os bons.”
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