
As três últimas notícias sobre tráfico de cocaína no Paraguai:
Cão “entrega” mulher

No sábado, 8, no aeroporto Silvio Pettirossi, o cão Akira, da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), detectou a presença de cocaína na bagagem de uma paraguaia que ia viajar a Madri.
A inspeção revelou que havia dois quilos de cocaína distribuídos em 12 pacotes pequenos. O valor da droga, no mercado europeu, seria de 200 mil euros (perto de R$ 1,3 milhão).
Da Bolívia

Também no sábado, a Secretaria Nacional Antidrogas apreendeu 403,9 quilos de cocaína, na região do Chaco. A droga era transportada, junto com outras cargas, num caminhão que vinha da Bolívia.
Laboratório

Na quarta-feira, 5, agentes da Senad, depois de um trabalho de inteligência, descobriram um laboratório de processamento de cocaína e pasta base, numa extensa área rural dentro do Parque Nacional Paso Bravo, departamento de Concepsión.
Havia no local três pistas clandestinas usadas pelos traficantes. Segundo os agentes da Senad, o Parque Nacional Paso Bravo, que tem 100 mil hectares, está sendo utilizado ultimamente por estruturas do tráfico aéreo de cocaína.
TERRENO PROPÍCIO
Segundo a matéria, o sociólogo Carlos Peris fez um estudo no qual mostra que os narcotraficantes encontraram no Paraguai um terreno propício para lavar seus ganhos com a venda de drogas, com investimentos no ramo da construção civil, compra de terras, postos de gasolina, hotéis, universidades de fronteira e até farmácias.
Peris também destaca que o Paraguai deixou de ser um território de passagem de droga para se tornar um elo ativo na produção de cocaína. Ele chegou a essas conclusões cruzando dados do Ministério Público, Senad, polícia e Ministério do Interior, de 2016 a 2020.
Na sua pesquisa, ele descobriu que o tráfico de drogas no Paraguai passou por várias etapas, desde a era dos grupos policiais/militares de fronteira (1950-1967), passando por hierarcas militares (1967 a 1989), patrões regionais (1989 a 2001) até chegar à fase atual, a era dos empresários, em que a produção, o transporte e a distribuição são feitos numa cadeia sob a lógica do arrendamento e da prestação de serviços.
CONTÊINERES
A organização internacional InSight Crime, lembra o Última Hora, analisa que o Paraguai está imerso em novas dinâmicas criminais, principalmente na questão relacionada às drogas, com destaque para a cocaína.

Isso explica porque, em 24 de fevereiro deste ano, a polícia europeia fez a maior apreensão de cocaína da história do continente. Foram 23 toneladas apreendidas nos portos de Hamburgo (Alemanha) e Antuérpia (Bélgica). Toda essa cocaína tinha origem paraguaia e chegou à Europa por via fluvial e marítima, dentro de contêineres.
Peris ressalta que o problema é que não há um maior controle nos portos, o que nenhum país faz, para que as mercadorias cheguem ao destino o mais rápido possível. “Quer dizer, se a cocaína circula nos contêineres é justamente porque existe uma política de não controlar os portos, não só no Paraguai como em todo o mundo, para que as mercadorias, legais ou ilegais, cheguem o antes possível. Do contrário, seriam portos mortos”, avalia.
LOGÍSTICA
Os policiais, para não fiscalizar a passagem da droga, recebem até US$ 400. E um piloto pode chegar a cobrar até US$ 2 mil por voo.
Por esses e outros fatores, apenas 2% da droga que circula é apreendida. Segundo o Observatório Paraguaio de Drogas, entre 2019 e 2020 foram apreendidos no Paraguai 7.313 kilos de cocaína, dos quais 4.313 kg em 2019 e 3 mil kg em 2020. A queda no ano passado foi devido às restrições internacionais provocadas pela pandemia, que afetaram o movimento de contêineres nos portos, com diminuição das importações.
“Não é de surpreender a profunda relação existente entre as importações por via portuária e o narcotráfico”, diz um informe do observatório.
O sociólogo Carlos Peris afirma que o próprio Observatório de Drogas das Nações Unidas sustenta que a maioria do tráfico de cocaína é feita em contêineres.
“Como o contêiner tem que fluir, somente 2% são revistados”, explica.
No mapa do tráfico no Paraguai, os locais em que mais traficantes usufruem os lucros da cocaína e outras drogas são Ciudad del Este, Assunção, Encarnación, Filadelfia, Caaguazú e Salto del Guairá.
A REDE LOGÍSTICA E OS CUSTOS
- US$ 500 a US$ 1.000 recebem por mês peões de fazenda para receber e preparar aviões.
- US$ 10.000 até US$ 15 mil correspondem aos ganhos de donos de áreas pelas terras propícias à montagem de pistas.
- US$ 800 por viagem é o ganho de quem segue com a droga na bagagem (os “mulas”).
- US$ 400 vão para a mão dos policiais que fazem vistas grossas.
- US$ 12.000 recebem os estivadores or viagem, para colaborar com a ocultação da carga de drogas em barcaças.
- US$ 2.500 até US$ 5.000 é o ganho dos vigias portuários para não verificar o contêiner com drogas. Esse é o valor para cada carga.
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