Paraguai em expectativa com reabertura da fronteira argentina

A partir desta sexta, 1, reabertura deverá ser gradual, com base na experiência de Puerto Iguazú.

A partir desta sexta, 1, reabertura deverá ser gradual, com base na experiência de Puerto Iguazú.

Um ano e sete meses depois, com a economia em frangalhos e muita gente desempregada, os moradores de Encarnación, no Paraguai, esperam com ansiedade que a Argentina cumpra o prazo de reabrir suas fronteiras com os vizinhos, a partir desta sexta-feira, 1.

Desde o dia 27, funcionam de forma experimental os corredores seguros no Aeroporto de Ezeiza (Buenos Aires), na Ponte Tancredo Neves e no Passo Cristo Redentor, em Mendoza, fronteira com o Chile.

O governo da província de Misiones disse que vai aguardar o decreto nacional, mas, se não for publicado, irá reivindicar formalmente que sejam abertas as fronteiras de Posadas com Encarnación, no Paraguai, e de Bernardo de Irigoyen com Barracão (PR) e Dionísio Cerqueira (SC).

As duas cidades brasileiras formam, com o município argentino, uma só comunidade, unida por avenidas e separada apenas pela fiscalização imposta depois da pandemia.

O portal Misiones Cuatro informa que, em Encarnación, há muita expectativa e entusiasmo, principalmente porque, em vários pontos, a economia é complementar à de Posadas. Mas, sem os argentinos, Encarnación viveu um ano e sete meses de uma crise que gerou desemprego, miséria e desalento.

OS PREÇOS

Encarnación, chamada de “Pérola do Sul”, é uma das mais bonitas cidades paraguaias, muito procurada no verão por suas praias (de rio). Foto Juan Jose Rotela Azcona / Facebook

Segundo Misiones Cuatro, “as diferenças de preços entre um e outro país estimulariam um comércio interfronteiriço muito importante”.

O jornalista Oscar Bogado, de Encarnación, disse a Misiones Cuatro que há grande possibilidade de que cidadãos paraguaios cruzem a ponte San Roque González de Santa Cruz para se abastecer em Posadas de combustíveis, alimentos e artigos de primeira necessidade, como os de limpeza, que são muito mais baratos na Argentina, com a atual cotação do peso.

De outro lado, em Encarnación há uma “notória diferença” em benefício dos compradores argentinos. Ele citou o caso dos pneus de carros, que são muito mais baratos.

Não é por acaso que comerciantes e funcionários de Misiones estão muito preocupados. Durante a pandemia, o comércio de Posadas cresceu, houve investimentos e a arrecadação de Misiones foi a que mais aumentou entre todas as 23 rovíncias argentinas.

A reabertura da ponte deverá provocar fuga de divisas, com queda na arrecadação e, novamente, uma possível crise em alguns setores do comércio de Posadas.

À parte as questões econômicas, o jornalista paraguaio lembrou que há no departamento de Itapúa (onde fica Encarnación) muitas pessoas que há mais de um ano e meio esperam para reencontrar-se com familiares que ficaram no lado argentino.

BOA VONTADE

Embora sempre tenha defendido a reabertura da Ponte Tancredo Neves, o governador de Misiones, Herrera Ahuad, está disposto a defender também que seja liberado o trânsito em outras fronteiras da província.

O vice-governador, Carlos Arce, disse que estão “bem avançados os protocolos” da província, com essa finalidade, mas que ainda falta conhecer “as letras miúdas” do decreto nacional para avançar tanto na fronteira com o Paraguai como em Bernardo de Irigoyen, conforme o portal Misiones on Line.

Para ele, é preciso levar em conta “a situação sanitária, a porcentagem de gente vacinada, precisa pôr tudo na balança para estabelecer o número de pessoas que poderão passar”, disse.

Em Posadas, a infraestrutura para controle epidemiológico está preparada já faz algumas semanas. O Centro de Fronteira tem todas as instalações prontas, a exemplo de Puerto Iguazú. Por isso, se o governo argentino autorizar, amanhã mesmo pode ser reaberta a ponte San Roque González de Santa Cruz, para habilitar a passagem do trânsito vicinal e de turistas, bem como de argentinos.

Mas, como já se sabe que o governo argentino é moroso e burocrático, há possibilidade de que a reabertura fique para o final de outubro ou primeiras semanas de novembro, como aventa Misiones on Line.

O dia 1º de novembro foi a data anunciada pelo governo para liberar totalmente as fronteiras, permitindo o ingresso no país de pessoas de qualquer parte do mundo.

CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO

Tanto o governo nacional quanto o da província sempre justificaram a manutenção do fechamento das fronteiras com base nos números da pandemia.

Mas, hoje, a situação epidemiológica nas cidades que têm fronteira com Misiones está controlada, de acordo com as autoridades sanitárias, distante do cenário de terror que os informes estatísticos reportavam entre maio e junho.

A VII Região Sanitária do Paraguai, que inclui os municípios de Itapúa (entre eles, Encarnación), registrou em setembro apenas 24 casos de covid-19, ou menos de um por dia. Em maio, foram notificados 6.646 casos; em junho, 3.857. Em Encarnación, já quase não se registram casos diários.

Em Barracão e Dionísio Cerqueira, não há nenhum paciente internado com covid-19. Em Dionísio Cerqueira, havia na terça-feira passada dois casos de vírus ativo e em Barracão, seis.

PROTOCOLOS

A princípio, se nada for alterado, os protocolos aplicados para as fronteiras que devem reabrir nesta sexta são os que vigoram em Puerto Iguaçu.

O visitante deve apresentar esquema completo de vacinação, com a segunda dose aplicada 14 dias antes do ingresso. Terá que fazer uma “declaração jurada”, para o setor de Migrações; mostrar PCR negativo feito até 72 horas antes. E fazer um teste de antígeno no posto argentino.

REGIÃO DE FRONTEIRA

A província argentina de Misiones, lembra o portal Misiones on Line, é “90% fronteira”. De um lado, o Rio Iguaçu separa a província do Brasil; de outro, o Rio Paraná faz limite com o Paraguai.

Depois da reabertura gradual na ponte Tancredo Neves, os olhares estão postos na ponte Roque González de Santa Cruz, entre Posadas e Encarnación.

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