Uma polêmica em torno da erva-mate está colocando em lados opostos paraguaios e argentinos na região de fronteira. O ponto de partida foi uma carta escrita pelo governador da província argentina de Misiones, Hugo Passalacqua, questionando a liberação de importação de erva paraguaia, concedida pelo governo do presidente Javier Milei.
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No documento encaminhado ao ministro da Economia, Luis Caputo, Passalacqua lança dúvidas sobre a qualidade do produto importado do Paraguai (e, em menor medida, do Brasil) e afirma que “a aberta importação desfere um golpe do qual o setor levará décadas para se recuperar”.
O pano de fundo da discussão é econômico, uma vez que o produto oriundo do Paraguai tem preços competitivos e boa aceitação no mercado argentino. Os principais prejudicados com as importações são, justamente, os produtores de mate em Misiones, que representam parte influente do setor agrícola da província.
Em resposta às afirmações do governador argentino, o Centro Ervateiro do Paraguai emitiu um comunicado no qual defende que “a qualidade do produto paraguaio é igual ou melhor à obtida em território argentino”.
“Compreendemos as intenções de proteger um bem tão emblemático para a região, como a erva-mate, sempre e quando sejam legítimas, mas não quando são baseadas no desprestígio e na desqualificação sem evidências científicas sobre diferença de qualidade. Nos sentimos traídos”, pontua a entidade agrícola paraguaia.
Em entrevista ao canal GEN, a assessora de qualidade do Centro Ervateiro Paraguaio, Rosa Sosa, citou que as alegações de que a erva produzida no Paraguai ou no Brasil teria quantidade de metais pesados acima dos limites permitidos são improcedentes. “Foi feito um estudo, e os níveis são os mesmos, aqui e na Argentina”, afirmou.
Atualmente, além de atender ao mercado interno, a produção paraguaia de erva-mate é exportada para 27 países, incluindo nações cultural e geograficamente distantes, como países do Oriente Médio (Egito, Emirados Árabes Unidos, Líbano e Síria), Ásia (Japão, Taiwan e Coreia do Sul) e Europa (Reino Unido, República Tcheca e Polônia).
Patrimônio regional
De nome científico Ilex paraguariensis, a erva-mate é uma planta típica de regiões como o vale do Rio Paraná, tendo sido descrita para a ciência, pela primeira vez, em 1820, pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, após passagem pelo Paraguai.
A erva cresce de forma nativa em partes dos territórios do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, tendo sido amplamente utilizada pelos indígenas da região, ao longo do tempo, para atos de confraternização e boas-vindas. Tal costume foi herdado pelos demais moradores da região, que incorporaram bebidas à base de mate às suas tradições.
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