As recentes operações das forças de segurança realizadas no lago de Itaipu para destruição de portos clandestinos impediram o fluxo contínuo de pelo menos 300 barcos carregados de contrabando por noite. As embarcações são usadas pelos contrabandistas que buscam mercadorias no Paraguai para trazer ao Brasil, onde são comercializadas.
Comandante do COBRA e segundo-tenente da PM, Vitor Cristiano Dorecki afirma que uma alternativa boa para fiscalizar o lago são bloqueios fluviais físicos, a exemplo da chalana usada pela Polícia Federal em Guaíra com outras forças de segurança.
“Vimos que depois que foi instalado esse bloqueio os índices de criminalidade tiveram uma diminuição absurda. Em uma noite, por exemplo, chegavam a passar uma média de 300 barcos, e agora não passa quase nada”, diz Dorecki.
O tenente explica que as organizações criminosas que atuam na região do lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, formam uma extensa rede. “Eles conseguem cooptar pessoas dos mais diversos níveis sociais para atuar como olheiros, batedores de carga, pilotos de embarcação, condutores de veículos etc.”
A região do lago de Itaipu abrange 16 cidades do Brasil (15 no estado do Paraná e uma em Mato Grosso do Sul). O lago fica na fronteira entre Brasil e Paraguai e foi formado para ser o reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, em uma área de 1.350km², 170km de extensão, largura máxima de 12km e largura média de 7km.
Destruição de portos
Outra ação para impedir o crime no lago de Itaipu é a destruição de portos clandestinos usados pelos contrabandistas e traficantes. Desde 2020, forças de segurança e defesa estaduais e federais realizam a Operação Importunus, para acabar com esses pontos.
Em 2021, na segunda edição da operação, foram inviabilizados 41 portos clandestinos. Em setembro de 2022, na quinta fase, mais cinco portos foram destruídos. No dia 16 de novembro, em mais uma ação integrada, PF, BOPE, BPFron e COPE concluíram a primeira etapa da operação Lago Seguro. Utilizando máquinas, os policiais fecharam portos e as respectivas rotas de acesso.
Outro objetivo da operação foi proteger o meio ambiente porque os portos implicam derrubada de árvores, acúmulo de lixo e resíduos nas margens do lago, além de causar possível contaminação da área pelo despejo de óleo, combustível e agrotóxicos usados ou descartados nos locais.
Entre as principais mercadorias contrabandeadas (proibidas de entrar no Brasil) ou descaminhadas (sem pagamento de imposto) estão cigarros, drogas, armas e agroquímicos.
Logística do crime
Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), realça que é evidente a necessidade de atacar a logística do crime, assim como as forças de segurança têm atuado, mas em uma escala maior e com a articulação e integração entre os municípios, estados e União.
Para Barros, é necessário o aprimoramento, em conjunto com o Paraguai, do processo de cooperação para fiscalização no lago de Itaipu. “Em uma área como esta, o crime demonstra que tem muito mais estrutura do que o mercado formal, com muito mais agilidade, muito menos burocracia e com volumes muito maiores do que os volumes de trânsito de mercadorias formais.”
Ele ainda destaca que pelo mapa dos portos clandestinos é possível observar que o crime se utiliza de logística multimodal porque as áreas são cercadas por aeródromos, estradas rurais, municipais, estaduais e a BR-163, considerada principal artéria de toda a logística.
Na tese doutoral da Universidade Autônoma de Lisboa, Barros chama atenção para o que ele nominou como o mercado e as rotas de “commodities ilícitas”. Ele analisa a utilização da infraestrutura pública, no caso a hidrovia, pelo crime transfronteiriço, que se apropria das rotas mercantis lícitas e acessa as cadeias globais de valor para exportar tais “commodities”.
Com informações de assessoria
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