O dilema de Misiones: reabrir fronteiras, sim; mas não com o Paraguai!

A província foi a que mais arrecadou em 2020, graças à fronteira fechada. E repete a dose este ano.

A província foi a que mais arrecadou em 2020, graças à fronteira fechada. E repete a dose este ano.

O governador da província de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, está com um tremendo abacaxi nas mãos. A partir das novas medidas de flexibilização adotadas pelo governo argentino, as fronteiras poderão ser reabertas, “de forma gradual e cuidadosa”.

Leia: Governo argentino anuncia abertura gradual e cuidadosa das fronteiras

É o que o governador vinha reivindicando já há algum tempo. E voltou a insistir durante a posse dos novos ministros do governo de Alberto Fernández, na segunda-feira, 20.

Ahuad havia apresentado protocolos ao governo nacional, para reabrir o turismo entre Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu, e contava com uma resposta positiva.

Ela veio, mas não significa que apenas a fronteira Puerto Iguazú-Foz pode ser reaberta. E as fronteiras com o Paraguai?

É aí que mora o dilema do governador.

ARRECADAÇÃO

Em 2020, depois que foi fechada a fronteira entre Posadas, capital de Misiones, e a cidade paraguaia de Encarnación, a situação econômica da província mudou quase radicalmente.

O comércio vendeu como nunca, houve abertura de novos negócios e o governo da província viu a arrecadação aumentar
81%, o maior crescimento registrado entre as 23 províncias argentinas. Outras também tiveram bom resultado, mas a que mais se aproximou de Misiones foi Cordoba, com aumento de 51% na arrecadação.

O que explica o sucesso de Misiones? Enquanto a fronteira com o Paraguai estava aberta, moradores de Posadas e de outros municípios (inclusive da capital, Buenos Aires), faziam suas compras em Encarnación, onde o preço é muito mais em conta.

Roupas, calçados, eletrônicos, materiais de construção – quase tudo era adquirido no país vizinho. E as lojas de Posadas viviam às moscas.

A arrecadação do governo mostra isso. Em 2019, foi de 18 bilhões de pesos (equivalente a cerca de R$ 970 milhões, ao câmbio atual); em 2020, passou a 34 bilhões de pesos (R$ 1,8 bilhão).

Para este ano, a previsão orçamentária era de que a arrecadação atingiria 35 bilhões de pesos (R$ 1,88 bilhão), mas só entre janeiro e agosto chegou a 38 bilhões (mais de R$ 2 bilhões), conforme informações publicadas no portal Misiones Cuatro.

SEM ÊXODO

O chefe da Agência Tributária de Misiones, Rodrigo Vivar, calcula que cerca de 120 bilhões de pesos (nada menos que R$ 6,4 bilhões) sairiam da Argentina, em 2020, rumo ao comércio e aos serviços no Paraguai, se não fosse a fronteira fechada.

A Agência Tributária de Misiones estima que, em 2022, deverão ser arrecadados pela província 59,4 bilhões de pesos (cerca de R$ 3,2 bilhões), um crescimento de 67% em relação a este ano.

Obviamente, o setor que calcula a arrecadação de Misiones não levou em conta, nesta projeção, a reabertura da Ponte San Roque González, a principal travessia fronteiriça entre Misiones e o Paraguai.

O portal Misiones Cuatro ironiza dizendo que, ao que tudo indica, o setor entende que a fronteira com o Paraguai continuará fechada “por razões sanitárias”.

Se depender só do governador, é isso mesmo que acontecerá. Mas haverá pressão de todo lado. Que dilema!

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