No caminho de volta, estudantes de medicina cruzam a fronteira para fazer aulas práticas

Muitas instituições retomaram o ensino neste mês para fechar o ano letivo de 2020

Após quase um ano de extenuantes aulas on-line, aos poucos os brasileiros que cursam medicina no Paraguai começam a fazer o caminho de volta à fronteira para ter aulas práticas. Seguindo os protocolos sanitários, muitas instituições de ensino retomaram aulas em laboratórios para completar a carga horária de 2020. No entanto, as aulas teóricas presenciais não começaram, por isso a maioria ainda continuará com os estudos a distância pelo menos até metade do ano.    

A decisão de oferecer aulas práticas cabe às próprias instituições. Na Universidade Privada del Este (UPE), as aulas já começaram, e as turmas foram divididas em grupos menores com tempo limitado para as interações. Entre as aulas práticas estão a de anatomia e histologia e fisiopatologia. 

A tendência neste primeiro semestre nas instituições do Paraguai é oferecer aulas híbridas, ou seja, continua o ensino via plataformas virtuais para conteúdos teóricos, enquanto as práticas serão retomadas seguindo os protocolos sanitários. Esse é o caso da Universidade Central del Paraguay (UC). Lá as aulas práticas começam em fevereiro respeitando os protocolos, tais como lavagem constante das mãos, medição de temperatura e uso de máscara e de álcool gel.  

Apesar da liberação, os estudantes não são obrigados a cursar aulas práticas presenciais, caso não se sintam à vontade ou sejam de grupos de risco. Nesse caso, é possível, conforme a instituição, repor o conteúdo quando tudo normalizar-se. 

Baque econômico

A reconfiguração no panorama acadêmico mexeu com a economia de Ciudad del Este, onde se estima haver cerca de 15 mil alunos de medicina. Muitos imóveis ficaram vazios, e restaurantes e lanchonetes, abertos nas proximidades de algumas instituições, acabaram fechando.

Até mesmo em Foz do Iguaçu muitos estudantes abriram mão de pagar aluguel de casas e apartamentos para voltar à cidade de origem, a fim de economizar, devido à impossibilidade de frequentar aulas presenciais. Quem está voltando à fronteira começa a procurar locais de moradia para se fixar novamente na região.  

Mas as perspectivas de retomada são boas inclusive com a chegada de novos estudantes. A brasileira Mariellen Bueno, que cursa medicina na Universidade Central del Paraguay, e é funcionária da instituição, diz que nesta semana diversos brasileiros que querem cursar medicina foram conhecer a universidade. 

Experiência com aulas virtuais não agrada a todos 

Embora sejam necessárias em época de pandemia, as aulas virtuais não agradaram a alguns estudantes. 

Um brasileiro que preferiu não se identificar reclama da qualidade das aulas on-line em uma instituição de ensino superior que fica no país vizinho. Ele conta que a plataforma tem muitos erros e que muitos tópicos não foram repassados porque os professores não puderam ministrá-los.

O brasileiro também se queixa porque a universidade, além de cobrar as dez mensalidades ou cotas que são de praxe, exigiu o pagamento extra de mais quatro alegando ser para as aulas práticas. 

“Acreditamos que alguns paraguaios têm a exata concepção de que nós brasileiros somos ricos ou burros, porque somos tratados como tal. Nunca somos respeitados e, ao contrário do que dizem, o ensino também deixa muito a desejar! Fazem a famosa propaganda enganosa, e nós que temos um sonho somos ludibriados e atraídos para a armadilha”, afirma.

O estudante relata ter sido obrigado a fazer um empréstimo, em plena pandemia, para cumprir os compromissos financeiros com a instituição. 

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