Quadrilhas buscam carros deste lado da fronteira para revender por preços mais baixos
O furto e o roubo de veículos com placas estrangeiras aumentaram 37,2% em Foz do Iguaçu entre 2020 e 2021. Os dados, da Secretaria de Estado da Segurança Pública, indicam que em 2020 foram subtraídos 180 automóveis na cidade. Em 2021, o total foi de 247. A maior parte dos carros tem placas paraguaias. Neste ano foram registradas 32 ocorrências até 30 de abril.
As quadrilhas responsáveis pelos furtos e roubos envolvem paraguaios, e como as vítimas têm o costume de fazer denúncia apenas em Foz do Iguaçu fica mais fácil passar com o automóvel pela aduana paraguaia porque não há registro da ocorrência lá.
Ao observar as estatísticas, é possível visualizar como a Ponte da Amizade é usada como corredor para veículos furtados e roubados. Entre março e setembro de 2020, quando a ponte permaneceu fechada em razão da pandemia da covid-19, ocorreu queda no número de furtos e roubos de veículos em Foz. Com a reabertura, o índice voltou a aumentar (ver infográfico).
Freddy García, subcomissário e subchefe do Departamento de Controle de Automotores de Alto Paraná, no Paraguai, diz que a prática de roubar e furtar carros paraguaios em Foz aumentou nos últimos três anos. As quadrilhas lucram porque revendem os bens por preços mais em conta e com documento falsificado em cidades distantes da fronteira, como a capital, Assunção, ou Pedro Juan Caballero, no limite com Ponta Porã (MS).
Na avaliação de García, os veículos paraguaios são roubados em Foz porque as vítimas não dão queixa para a Polícia Nacional do Paraguai, restringindo-se a fazer o boletim em Foz. “O negócio é bom porque não tem denúncia”, ressalta.
Na mira das quadrilhas estão principalmente os carros da montadora Toyota, incluindo Premio, Allion, Allex e Runx. Boa parte é do ano de 2002 em diante.
De acordo com García, pelo menos 60% dos veículos roubados em Foz são recuperados em Ciudad del Este quando os proprietários prestam queixa lá. A ocorrência pode ser registrada na Polícia de Turismo, com base situada na aduana de Ciudad del Este.
Enquanto os bens subtraídos em Foz são destinados à revenda, os carros de placas paraguaias roubados em Ciudad del Este são geralmente desmanchados para abastecer o mercado ilegal de autopeças ou usados em delitos, conforme García.
O Paraguai não tem fábrica de automóveis. Boa parte dos veículos que circulam no país é seminova e importada principalmente do Chile. A maioria é da marca Toyota e adquirida com até cerca de 70 mil quilômetros rodados.
Vítima teve quatro veículos furtados em Foz
Um paraguaio que estuda e trabalha em Foz do Iguaçu teve quatro veículos de placas paraguaias furtados na cidade – dois nas imediações de uma faculdade situada no centro e outros dois, incluindo uma moto, em frente ao Hospital Costa Cavalcanti. Ele preferiu não ser identificado.
No primeiro furto, em 2019, o homem não usava nenhum tipo de dispositivo de segurança no carro, e os ladrões levaram o veículo em cinco minutos, logo após ele estacionar. A constatação foi feita posteriormente por imagens de câmeras de segurança. O estudante conseguiu compensar a perda porque tinha seguro. Com a indenização, ele comprou um automóvel do mesmo modelo, que também foi furtado. No entanto, desta vez, conseguiu recuperar o bem.
Tempos depois, quando trabalhava no Hospital Costa Cavalcanti, o paraguaio teve o mesmo carro furtado novamente, apesar de ter instalado GPS e corta-corrente. Uma semana depois de subtraírem o veículo, levaram a moto dele.
Em meio a esses acontecimentos, um fato o surpreendeu. Cerca de três anos depois do primeiro furto, ele recebeu a ligação de uma pessoa do Paraguai querendo que o automóvel fosse transferido do nome dele para o nome do atual proprietário, que vivia em Assunção. Na ocasião do primeiro furto, o veículo foi subtraído com todos os documentos.
O que causou estranheza ao rapaz foi o fato de ele ter feito denúncia na polícia paraguaia e encaminhado todos os procedimentos legais para acionar o seguro. Porém, quando foi checar novamente, três anos mais tarde, a queixa de furto havia desaparecido do sistema.
Estudante teve carro furtado este mês
Outra vítima é uma estudante que também pediu para não ter o nome divulgado. Ela teve um Toyota furtado nas imediações da faculdade onde estuda. Logo que percebeu que o automóvel não estava mais no local, entrou em contato com a Polícia Militar e obteve orientação para procurar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Ponte da Amizade. Além de fazer o registro na PRF, ela também cruzou a fronteira e comunicou a ocorrência à polícia paraguaia e, em seguida, à Polícia Civil.
Depois de ter feito os boletins, a estudante acionou o seguro do veículo e agora aguarda os trâmites para poder ser indenizada. “Não desejo pra ninguém passar por essa situação, chegar no local e não encontrar o seu carro é horrível”, comenta.
[…] No último dia 15, precisamente, o H2FOZ publicou matéria especial relatando que ações como o furto e o roubo de veículos com placas estrangeiras (principalmente paraguaias) cresceram 37,2% em Foz do Iguaçu entre 2020 e 2021. Para ler a reportagem da jornalista Denise Paro, na íntegra, clique aqui. […]