A província de Misiones, na Argentina, terá “mais uma preocupação” no momento em que as fronteiras forem abertas, diz o portal argentino Economis: “a expansão das free shops brasileiras é uma ameaça para a economia, que passa o primeiro ano sem o assédio de assimetrias com o Paraguai e o Brasil”.
O portal cita o temor dos empresários de Ciudad del Este, “a meca das compras baratas, que também se vê incomodada com a atenção que estão conseguindo os produtos livres de impostos em Foz do Iguaçu”.
Diz o Economis que esta é “a mesma preocupação que sustenta há vários anos a Confederação Econômica de Misiones”, província onde fica Puerto Iguazú. Para a entidade, a situação geográfica da província, que faz fronteira com o Brasil e o Paraguai, exige com urgência uma revisão das políticas fiscais.
Misiones reivindicava há dois anos tornar-se zona franca, com isenção de impostos nacionais para empresas de bens e serviços que se dediquem à exportação ou demonstrem sua inserção na cadeia exportadora.
No entanto, tanto o presidente Mauricio Macri como o atual, Alberto Fernández, não aprovaram a reivindicação que, segundo a proposta, poderia aumentar as exportações da província num valor entre US$ 400 milhões e US$ 1,1 bilhão por ano.
Seriam beneficiadas, diretamente, Posadas, que se une à cidade paraguaia de Encarnación por uma ponte internacional, e Puerto Iguazú, com foco no comprador brasileiro. Só o Sul do Brasil representa um mercado de mais de 25 milhões de pessoas, diz estudo sobre o assunto.
Alejandro Haene, presidente da Confederação Econômica de Misiones, disse que esta proposta seria uma das principais para garantir o futuro econômico da província. Outra, seria conseguir que o governo argentino executasse obras de infraestrutura há muito tempo aguardadas.
O veto de Alberto Fernández foi “um baldaço de água gelada” para as pretensões de Misiones, diz Economis, mas agora o próprio ministro de Produção, Matías Kulfas, colocou o tema em agenda ao abordar a regulamentação de um artigo das micro, pequenas e médias empresas, como forma de reparar o dano às expectativas locais.
O setor empresarial, no entanto, agora desconfia das boas intenções do governo de Alberto Fernández, que neste caso considera igual ao de Mauricio Macri. O ex-presidente, quando esteve em Misiones, disse que não tinha ideia de que a província queria ser uma zona franca, apesar de vários meses de campanha dos candidatos do partido Cambiemos.
Para o Economis, “a agressiva política de fronteiras que o Brasil impõe preocupa por sua expansão inclusive a Ciudad del Este”.
EMPREGO E RENDA
É curiosa a reação tanto de paraguaios quanto de argentinos em relação às lojas “free” das fronteiras brasileiras, uma medida analisada há vários anos como forma de garantir mais desenvolvimento a essas regiões, atraindo consumidores do Brasil e movimentando a economia.
O presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira (Idesf), Luciano Barros, disse que “a instalação de lojas francas se torna ainda mais importante porque a geração de emprego e renda é vital não só do ponto de vista social e econômico, mas também de segurança pública nas fronteiras”.
Ele também disse que as lojas francas de Foz contribuem para incrementar o turismo na fronteira, aumentando a possibilidade de o turista adquirir produtos estrangeiros – US$ 500 nos países vizinhos e US$ 300 nas free shops locais. No caso das free shops de Foz, vendem também produtos brasileiros com impostos baixos (3%), contra 6% para importados.
A matéria do Idesf mostrando o crescimento das lojas francas no Brasil – hoje são 20, instaladas ou em processo final de aprovação – mereceu destaque no Economis, que abriu o texto falando do risco que elas vão representar quando a fronteira argentina reabrir.
A CRISE EM IGUAZÚ
Em outra reportagem, Economis aborda a crise de Puerto Iguazú, provocada principalmente pelo fechamento da fronteira com o Brasil.
Segundo o portal, o lançamento do programa Ahora Iguazú, do governo da província, planejado para fortalecer o consumo e a hotelaria local com injeção de recursos, além da vinda de turistas do país, “fizeram mover o eletrocardiograma de Puerto Iguazú, cidade paralisada pela pandemia e pela ausência de visitantes estrangeiros”.
No entanto, “o esforço e os programas são escassos para um paraíso preparado para atrair o mundo”, diz Economis.
A empresária Patricia Durán Vaca, pioneira no conceito “eco lodges”, com o lodge Aldeia da Selva, além de ter criado o Bio Centro Iguazú, onde os turistas podem conhecer a variedade de animais e vegetais da região, diz que, apesar de tudo, “estamos começando a trabalhar”.
O empresário Jorge Antonio, do setor gastronômico (é proprietário do restaurante Aqua), concorda: a gastronomia está começando a despertar, depois de vários meses muito difíceis.
Ele dá exemplos de como a crise está braba. Em janeiro de 2020, o Parque Nacional Iguazú recebeu 188 mil visitantes. Neste janeiro, deve fechar com 22 ou 23 mil. Os restaurantes, em dezembro, trabalharam com 10% da clientela normal, enquanto os hotéis, em média, estão com 15% de ocupação.
“Estamos trabalhando para cobrir os custos, nada mais”, diz o empresário. E ainda tendo que absorver os fortes aumentos em produtos que compõem a oferta gastronômica, como a carne e os lácteos, explica.
Jorge Antonio lembra que, nos primeiros 15 dias de janeiro de 2020, cruzaram a Ponte da Amizade 525 mil pessoas.
“Este tremendo volume de gente, de consumidores, de pessoas que vêm para gastar, que vêm para desfrutar o destino, que vêm para embarcar num avião a outro destino no país ou fora, esta gente não está (aqui). Naturalmente, estamos numa situação delicada.”
A reabertura da fronteira, prevista para outubro, não saiu. Ficou pro fim do ano, o que também não aconteceu. Há expectativa de que reabra apenas ali por maio.
Isso vai depender do comportamento da pandemia na Argentina, no Brasil e no Paraguai, e do acesso a vacinas por parte dos três países. Pode, portanto, demorar mais ainda até que o trânsito fronteiriço volte à normalidade total.
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