A cotação da moeda argentina volta a despencar. O dólar paralelo, o “blue”, já vale 200 pesos (R$ 11).
Fronteiras abertas, com bons preços no mercado interno para brasileiros e paraguaios. Mas e os argentinos que querem vir a Foz ou a Encarnación, o que fazem? Pra compras ou turismo, o peso cada vez vale menos.
A reabertura das fronteiras com o Brasil e o Paraguai mostrou como a economia argentina é um fiapo sustentado pela aposta do governo nas eleições parlamentares de 14 de novembro.
Neste fiapo suspenso estão o congelamento de preços de produtos de consumo e o atraso no aumento de tarifas públicas, o aumento dos gastos públicos e o descontrole da inflação, entre outras tragédias econômicas que são típicas do país, seja qual for o governo de plantão.
DÓLAR A “12 REAIS”
Quanto maior a crise, mais os argentinos se desesperam em busca de dólares para se proteger da inflação e dos riscos. Resultado: o dólar “blue”, que é o “mais ou menos” ilegal, já está perto dos 200 pesos (mais de R$ 11). Em fevereiro, este tipo de dólar valia 143 pesos.
Antes da pandemia, os argentinos costumavam ir à cidade paraguaia de Encarnación, na fronteira com a capital de Misiones, Posadas, para trocar pesos por dólares ou reais.
A primeira moeda era para fazer uma poupança à prova de inflação; os reais, para passar férias de verão no Brasil. E o Paraguai era escolhido porque sua moeda, por incrível que pareça a muita gente, é considerada forte. A inflação é baixa e a desvalorização cambial passa longe do que acontece na Argentina. E mesmo no Brasil.
Ao comprar dólares no Paraguai, o argentino tinha uma vantagem cambial, embora pequena, e ainda por cima burlava os mecanismos de controle do governo sobre o câmbio.
Pois bem. O jornal paraguaio ABC Color noticia que o guarani, a moeda do Paraguai, agora “cobra protagonismo como moeda de câmbio e poupança em Posadas”.
GUARANI NO PARALELO
Com a reabertura da Ponte Internacional San Roque González de Santa Cruz, que liga Posadas a Encarnación, conta o ABC Color, surgiu um fenômeno na cidade argentina: o surgimento do “guarani blue”.
A exemplo do “dólar blue”, o “guarani blue” é operado paralelamente ao câmbio oficial. E não por lojas de câmbios, mas por cambistas informais, que atuam nas ruas.
Uma fonte de Posadas disse ao jornal que existem duas razões pelas quais o turista argentino se interessa pela compra de guaranis: uma é pela escassez de dólares; outra, é buscar alguma vantagem tendo guaranis no bolso, ao ir a comércio ou restaurante no Paraguai, ante um peso cada vez mais deprimido.
Mas o guarani não é trocado em casas de câmbio oficiais de Posadas, que atuam somente com dólares, euros e reais. O “guarani blue” é das ruas, destaca o ABC Color.
Uma garantia ao ir fazer compras no Paraguai, mas pode servir até como moeda de poupança, ante a deterioração progressiva do peso, com a inflação que já passa de 50% em 12 meses.
NERVOSISMO
Um economista ouvido pelo portal Misiones on Line, Gerardo Alonso Schwarz, diz que o dólar blue, mesmo com a alta dos últimos dias, cresceu pouco mais de 20%, ante o dobro da inflação, quando deveriam subir no mesmo ritmo.
“Há nervosismo por causa das eleições (parlamentares) e porque se espera um salto na desvalorização depois dos comícios”, afirmou.
O Misiones on Line também destaca como é bem mais difícil para o argentino frequentar os bons restaurantes de Encarnación, como antigamente.
A tradicional churrascaria de Encarnación “Novo Rodeio – Rey do Lazo”, por sinal brasileira, cobra por pessoa 3 mil pesos, o dobro do que se paga para comer bem em restaurantes de Posadas. Mas, claro, Encarnación tem outras opções mais baratas.
No entanto, mesmo com preço alto para o padrão argentino, a demanda da “Novo Rodeio” está boa, segundo os responsáveis.
A Argentina autoriza a entrada de 1.600 pessoas por dia, em Posadas, o que inclui os argentinos que atravessam para ir a Encarnación. O número foi dobrado para atender a demanda, mas ainda assim a quota será pequena quando diminuir a burocracia pra ir de um país ao outro.
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