O Diário Oficial da Argentina publicou a prorrogação do fechamento das fronteiras com os países vizinhos e a proibição de voos de e para o Reino Unido até 13 de março. A medida faz parte de todas aquelas adotadas para controle da pandemia, que incluem distanciamento social, uso de máscaras e restrições à circulação.
Também está suspenso o ingresso de turistas, por via aérea, terrestre ou marítima, provenientes dos países vizinhos: Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile.
O adiamento já era esperado. Este prazo curto, certamente, é porque pode ser que seja alterada a partir de 13 de março a proibição de voos ao Reino Unido e outras restrições de viagens aéreas. Mas as fronteiras devem continuar fechadas, sem previsão de quando vão reabrir.
A situação da covid-19, nos três países – no Brasil, já há um movimento para um lockdown total -, certamente não vai ajudar o governo argentino a rever a decisão. Principalmente porque a vacinação segue lenta, tanto lá como no Brasil (nem se fale no Paraguai).
Para a província de Misiones, da qual a vizinha Puerto Iguazú faz parte, a fronteira fechada foi um bom negócio. Como destacou o jornal argentino La Nación, em reportagem publicada em dezembro, “a quarentena e o fechamento das fronteiras trouxe resultados econômicos surpreendentes” para Misiones”.
A arrecadação de impostos provinciais superou 100%, a partir de julho de 2020, quando nenhuma outra província conseguiu sequer empatar o crescimento da arrecadação com as perdas provocadas pela inflação em 2020 (ainda não anunciada oficialmente. O governo fala em 29%, mas as pesquisas apontam para algo em torno de 50% no ano).
O “segredo” de Misiones é que o dinheiro da província que ia para o Paraguai, para compras e turismo, agora fica no lado argentino, circulando e fomentando a atividade econômica, lembrou La Nación.
“Misiones é, de longe, a província que mais cresceu”, disse o jornal. E é por isso que, com exceção do setor turístico, nenhum empresário quer que se reabram as fronteiras. Até profissionais como eletricistas, encanadores, manicures e cabeleireiras, citou o jornal, têm hoje mais trabalho, já que não competem com os paraguaios que vinham a Posadas (capital de Misiones) para fazer esses serviços.
“Não há nenhum trabalhador informal que não esteja trabalhando bem”, disse ao La Nación Suzel Vaidel, da Ademi, agência público-privada de fomento a microempreendedores.
DO OUTRO LADO DA PONTE
A situação é completamente diversa do outro lado da Ponte Internacional Beato Roque Gonzáles de Santa Cruz, que liga Posadas à cidade paraguaia de Encarnación.
Lá há desemprego, trabalhadores informais rogam ao governo uma renda para sobrevivência e todos os setores se ressentem da falta dos visitantes argentinos.
Há protestos por todo lado. Um grande número de “paseros” (pequenos contrabandistas) fechou por vários dias a entrada da Administração Nacional de Navegação e Portos, em Encarnación, bloqueando o ingresso e saída dos caminhões que levam e trazem mercadorias entre os dois países. Eles querem ajuda (“subsídio”) do governo, como informou o jornal El Independiente.
Os comerciantes, na semana passada, puseram pra correr funcionários do Ministério de Indústria e Comércio, que foram a Encarnación fazer o controle de mercadorias e depósitos. “Ao invés de nos ajudar, o governo nos manda fiscais”, disse um comerciante, em nome de todos, ao jornal ABC Color.
E dá-lhe passeatas de protesto, enquanto não sai por parte do governo paraguaio uma definição do montante que será destinado a atender os empresários e trabalhadores formais e informais do município.
ZONA FRANCA
Pra Misiones, fronteira fechada é o melhor dos mundos. Mas, como uma hora ou outra vai reabrir, eles querem que o governo aprove uma lei que torne a região uma espécie de zona franca.
O presidente Alberto Fernández não aprovou, mas, em conversa na quinta-feira passada com o governador Herrera Auad, segundo o portal Misiones on Line, ele disse que é favorável à implementação de um artigo da lei das pequenas e médias empresas, que poderia beneficiar as regiões de fronteira.
Segundo o presidente, esses benefícios teriam que ser circunscritos a certas atividades que se desenvolvem nas províncias do Norte do país, onde se inclui Misiones.
“VERANITO”
Essa questão do artigo das pequenas e médias empresas atende parcialmente o que quer Misiones, diz o prefeito de Posadas, Leonardo Stelatto, mas ele vai continuar lutando por uma zona franca no municípios e outros locais da província.
Para ele, “o fechamento das fronteiras pode significar um veranito econômico para alguns setores, mas não resolve a questão de fundo”, que são as assimetrias existentes em especial nas cidades que fazem fronteira com o Brasil e o Paraguai.
O TURISMO
Ao contrário de outras atividades, o turismo em Posadas, especialmente em Puerto Iguazú, foi fortemente afetado pelo fechamento das fronteiras.
Só com a liberação de viagens entre províncias, principalmente a de Buenos Aires, é que Puerto Iguazú conseguiu recuperar uma parte do movimento normal. Mesmo assim, o turismo da cidade é altamente dependente do Brasil, ainda mais que atualmente não recebe turistas do exterior.
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