Na segunda-feira, 6, reabrem as fronteiras argentinas com Uruguai e Chile. E depois?
A vacinação nos países da tríplice fronteira está assim:
Argentina: 61,4% da população recebeu uma dose e 32,4% as duas
Brasil: 63,8% receberam uma dose e 29,7% as duas
Paraguai: 31,4% imunizados com uma dose e 23% com as duas
Fonte: Our World in Datas
Pra reabrir a fronteira com o Paraguai, a Diretoria de Saúde da Argentina disse à diretora de Migrações paraguaia, Ángeles Arriola, que o país precisa aumentar o índice de pessoas totalmente imunizadas.
Arriola contou ao jornal Última Hora que foi apresentada aos argentinos a situação do departamento de Itapúa, onde fica Encarnación, que se liga a Posadas, na fronteira mais importante entre os dois países.
Itapúa registra uma queda de casos de covid-19 e o sistema de saúde está aliviado e com disponibilidade de leitos, afastando o temor dos argentinos de que a reabertura faria os paraguaios lotarem os hospitais de Posadas.
“Eles nos manifestaram que o departamento (de Itapúa) se encontra em bom estado, mas o que mais importa (para eles) é a vacinação e a quantidade de pessoas vacinadas com segundas doses. Eles exigem que a população de imunizados seja superior”, contou a diretora de Migrações do Paraguai.
Para Ángeles Arriola, a reabertura da ponte pode não trazer o benefício esperado pelo comércio de Encarnación, já que se daria com a exigência de testes negativos de covid-19 e cumprimento de quarentena, tanto dos paraguaios quanto dos argentinos que cruzarem a fronteira.
E isso valerá pelo menos até o final do ano, como ela soube dos argentinos. Assim, a ida e volta de compradores argentinos, que entupiam o comércio de Encarnación antes da pandemia, fica inviabilizada.
REINVENTANDO-SE
Pelo menos por mais algum tempo, portanto, a ponte San Roque González de Santa Cruz, entre Posadas e Encarnación, vai permanecer exclusiva para o tráfego de caminhões que transportam mercadorias entre os dois países.
Enquanto isso não acontece, os setores público e privado de Encarnación se unem para impulsionar o turismo durante todo o ano. A ideia é tornar a cidade um polo de encontros nacional e regional, como informa o jornal La Nación.
O esforço é reflexo da grave crise que assolou a cidade desde que a fronteira fechou, secando a maior fonte de renda – o dinheiro dos compradores e também dos turistas argentinos. Além de comprar, eles se hospedavam, frequentavam restaurantes e aproveitavam tudo o que tem de bom em Encarnación, a “joia do Sul” do Paraguai.
“Temos muito para oferecer, com passeios não só nas praias e na costanera, mas também diferentes atrativos, desde o comércio acessível, lugares históricos, culturais e patrimoniais, até grandes infraestruturas que podem ser usadas para o turismo de eventos ou desportivo”, disse o presidente do Conselho Consultivo de Turismo de Encarnación, Diego Aquino.
O problema, para a reabertura da fronteira entre Posadas e Encarnación, é que o governo da província argentina de Misiones teme justamente que os seus habitantes voltem a frequentar o comércio e a infraestrutura da cidade paraguaia.
Depois que fechou a ponte, os argentinos se viram obrigados a comprar no comércio local. E houve uma recuperação da economia da província, inclusive no que é mais importante para o governo: a arrecadação. A província foi a que mais cresceu na Argentina.
PUERTO IGUAZÚ – FOZ
Já a reabertura da fronteira entre Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu conta com total apoio do governador de Misiones, Oscar Herrera Ahuad.
As fronteiras, por sinal, ganham cada vez mais espaço na imprensa argentina. A exceção é a agência de notícias oficial do governo, a Télam, que pouco se manifesta.
Talvez porque fronteira, para quem está longe dela – e isso vale também para a grande imprensa brasileira -, seja um assunto de pouco interesse. Foz do Iguaçu é exceção por ter as Cataratas do Iguaçu e a usina de Itaipu, mas qual outra fronteira no Brasil tem espaço na mídia, a não ser pra notícias ruins?
Mas, para a imprensa de Misiones, o assunto da reabertura é “quente”, por causa do turismo. E está, agora, diariamente na mídia.
O portal El Territorio noticia que o projeto-piloto de reabertura das fronteiras entre Argentina e Chile, na segunda-feira, 6, “gera uma luz de esperança ao turismo”, e por isso Misiones “espera (do governo nacional) definições para a passagem entre Puerto Iguazú e Foz”.
Mesmo assim, persiste o medo da covid-19. O coordenador de Saúde de fronteira, Walter Villalba, em entrevista à Radioactiva 100.7, disse que, depois da experiência com Chile e Uruguai, será avaliada a solicitação de Misiones para o corredor turístico Puerto Iguazú-Foz.
Mas “temos que olhar com muito receio a questão sanitária, porque embora a situação epidemiológica esteja estável, a variante Delta está no Brasil e no Paraguai, e esperamos que quando chegue (à Argentina) tenhamos a maior quantidade de pessoas já imunizadas”.
Villalba contou que já foram construídos os hospitais modulares em Posadas, Bernardo de Irigoyen e Puerto Iguazú.
“São pequenos, com equipamentos para um consultório com paciente em isolamento, mais uma área de espera e outra de segurança, e ainda uma ambulância de alta complexidade”, disse.
Ressalvou que o de Puerto Iguazú é mais complexo, com guardas permanentes e nove leitos disponíveis. Na terça-feira, dia 7, autoridades do Ministério da Saúde virão verificar como se está lidando com a questão sanitária em Misiones, mas Villalba garantiu que “estamos na vanguarda”.
BUSCA DE EMPREGADOS
Só o anúncio de que a fronteira com Foz do Iguaçu será liberada já gerou aumento na contratação de empregados no comércio, hotéis e restaurantes de Puerto Iguazú, confirmou o presidente da Associação de Hoteleiros e Gastronômicos, Jorge Antonio, conforme o portal Misiones on Line.
Os empresários estão procurando os empregados com maior experiência, para estar preparados para a reabertura. A maioria dos empreendimentos fechou total ou parcialmente, mas prepara-se para voltar à ativa.
Boa parte dos demitidos passou a empreender e até criou novos negócios, mas como “é gente qualificada, que sabe trabalhar”, os patrões vão tentar a recontratação deles.
Jorge Antonio não tem expectativa de que a reabertura ocorra ainda em setembro, porque depende de autorização nacional.
E a operação de reabertura é muito complexa, porque envolve a retomada dos controles de segurança, a volta do funcionamento da Aduana e ainda a implantação dos controles sanitários. “Não se faz de um dia para o outro”, afirmou.
Lembrou, também, que a Argentina ainda precisa negociar a reabertura com o Brasil, já que por decreto presidencial também está proibida a entrada de estrangeiros pela Ponte Tancredo Neves.
Mas o Brasil é bem mais maleável, quando se trata de fronteira, como se viu com o Paraguai.
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