Área das Cataratas do Iguaçu pode ter abrigado missão jesuítica

Com a ameaça de invasão dos bandeirantes paulistas, redução de Santa Maria teria sido transferida para a Argentina.

Antiga morada de indígenas, o Parque Nacional do Iguaçu pode ter abrigado uma missão jesuítica erguida no século 17. Os indícios da existência da estrutura, situada acima das Cataratas do Iguaçu, constam na pesquisa realizada pelo historiador e museólogo Pedro Louvain.

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Resultado de uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) com o título “Santa Maria do Iguaçu: Trajetória e Relações de Contato”, a pesquisa de Louvain mapeou alguns personagens indígenas de Foz do Iguaçu até então desconhecidos, tais como o cacique Taupá, o grande “Rei das Cataratas do Iguaçu”, e seu filho, Miguel Taupá, o “Príncipe do Iguaçu”. Também aponta a passagem de um santo da Igreja Católica por Foz.

Manuscritos feitos por jesuítas são algumas das fontes que revelam a existência das missões, que funcionaram durante sete anos, entre 1626 e 1633, até serem levadas para as margens do Rio Uruguai, na província de Misiones, Argentina, para evitar a destruição por bandeirantes paulistas, conta Louvain. As missões, também conhecidas por reduções, foram um tipo de comunidade indígena criada e organizada por padres jesuítas vindos da Europa com o objetivo de evangelização.

Nesta entrevista ao H2FOZ durante o evento Pint of Science, promovido pela Unila, Louvain falou do trabalho.

Onde você acessou as informações sobre os vestígios da missão?

Existem várias fontes, muitas são manuscritos jesuítas que chegaram até a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e foram paleografadas. Os dados, todos públicos, são fontes do século 17, 16, publicados em sete volumes pela Biblioteca Nacional já na década de 50/70; e alguns por Antônio Ruiz Montoya, que esteve em Santa Maria; e também pelo Nicolas Del Tejo.

Como foi a transferência das missões?

A missão foi fundada em maio de 1626 e translada em junho de 1633. Em meados de 1633, 2.200 pessoas saíram da região das Cataratas do Iguaçu em centenas de embarcações, desceram os rios Iguaçu e Paraná e foram recebidas pelas reduções de Corpus Christi e Itapua. Depois realizaram uma marcha terrestre por dezenas de quilômetros, atravessando a atual província de Misiones, até chegar nas proximidades das margens do Rio Uruguai e iniciar o processo de reconstrução, recriando o povoado com o nome de Santa Maria la Mayor.

A redução teve uma estrutura similar às demais?

Possivelmente. Temos relatos sobre a construção original da igreja e sua expansão em três lances. Originalmente foram 150 metros quadrados da igreja, e temos a Ordenança de Alfaro, que estabelecem os regramentos para se criar uma igreja. Por exemplo, você tem que ela seja construída em quatro meses depois da fundação. Também foi possível ter detalhes sobre retábulo, o altar feito artesanalmente pelos indígenas, o sino, a escola, o ensino de música, de letras, de latim, o coral, o grupo de músicas, e trazer essas evidências para entender melhor toda essa movimentação.

VÍDEO – ENTREVISTA

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