Produto sai do Paraguai e entra ilegalmente no Brasil. Somente neste ano, PRF apreendeu mais que o equivalente a 2019
Sem controle sanitário e com alto potencial para comprometer a saúde de quem consome alimentos, agrotóxicos vindos do Paraguai inundam cada vez mais as lavouras brasileiras e da Região Oeste. Conforme dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2020 um total de 2.142 quilos do produto foi apreendido em Foz do Iguaçu, contra 153 quilos retidos em 2019 – o que representa um crescimento de 1.300%.
As apreensões são comuns em todo o Oeste. Na madrugada deste sábado, 27, os policiais rodoviários encontraram uma tonelada do produto na região de Campo Mourão, em duas caminhonetes, uma Hilux e uma Toro.
O produto que ingressa ilegalmente no Brasil via fronteira em Foz do Iguaçu e região é distribuído para todo o país, com destaque para o interior do Paraná e de São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia.
Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), Luciano Barros avalia que o aumento das apreensões se deve à alta do dólar e ao fácil acesso aos produtos que têm origem duvidosa, além da concentração química mais alta em comparação aos produzidos no Brasil com controle sanitário.
Ele chama atenção para a necessidade de haver uma equiparação da legislação dos países vizinhos em relação à composição para evitar que defensivos agrícolas adquiridos em um país prejudiquem os demais, incluindo o meio ambiente. “Faltam acordos internacionais e maior respeito às legislações para não ter distorções que gerem contrabando.”
A diferença do preço praticado entre os países também é um estímulo para o ingresso do produto no Brasil. Preço e composição química diferente, mais potente, são combustíveis para o contrabando, que causa prejuízos econômicos ao país e à saúde do brasileiro. As altas dosagens de agrotóxicos podem provocar mutações genéticas e câncer e comprometer a saúde de quem aplica o produto nas lavouras. Para Barros, o contrabando de agrotóxicos “envenena o brasileiro”.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 mil intoxicações são provocadas pelo uso irracional dos agrotóxicos, o que pode resultar em diversos malefícios à saúde, incluindo desde uma simples intoxicação até convulsões, impotência, aborto e câncer.
Os tipos mais procurados são inseticidas e herbicidas, segundo Barros, principalmente aqueles que não são vendidos no Brasil por falta de autorização e controle feito pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ibama e Ministério da Agricultura.
O agrotóxico adquirido por quadrilhas no Paraguai é importado de outros países, incluindo a China, porém a PRF sinaliza que já há produção local do defensivo no Paraguai, a exemplo do que ocorre com o cigarro. “É um trabalho sob demanda”, diz o policial rodoviário Guilherme Fontana.
Na contramão, o agrotóxico legal exportado pelo Brasil passa por rígido controle sanitário para atender às exigências de outros países que compram o produto. Porém, defensivos submetidos ao aval da Anvisa são considerados ameaça porque muitos dos que são autorizados para serem usados no país foram banidos em alguns países europeus.
Apreensões
É comum os policiais apreenderem o agrotóxico em veículos de passeio, hoje bastante usados pelos contrabandistas e traficantes. Os agentes constataram que quem transporta o produto muitas vezes não tenta ocultar nos carros, ao contrário do que ocorre com drogas. Em uma apreensão realizada no dia 28 de janeiro, os policiais encontraram 250 quilos de agrotóxicos com um casal em Céu Azul. O defensivo agrícola estava em um automóvel que saiu de Itaipulândia em direção a Corbélia.
Os agrotóxicos apreendidos pelas corporações policiais e fiscais são encaminhados à Receita Federal do Brasil. Boa parte das cargas retidos tinha como destino lavouras da região Oeste.
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