Sem Tempo

Professor Caverna reflete sobre o tempo e a correria do dia a dia.

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Por Professor Caverna | OPINIÃO

Se você acha que vive na correria, é porque não conheceu Muriel. Imagina só a vida desse cara há 10 mil anos, bem antes de qualquer coisa parecida com “férias” ou “fim de semana”. Pra ele, cada segundo é precioso e tem uma única missão: sobreviver. A diferença é que, ao contrário de nós, o problema dele não é o chefe cobrando, mas um tigre-dentes-de-sabre esperando ele piscar pra dar o bote.

Acordar cedo não é uma escolha, é uma questão de vida ou morte. Muriel começa o dia antes do sol aparecer, não porque ele quer, mas porque não pode perder nem um minuto. Na pré-história, a ideia de “ficar de boa” simplesmente não existe. A vida dele é tipo um reality show de sobrevivência onde não dá pra apertar “pause” ou “voltar amanhã”. Ou ele caça, ou fica com fome; ou ele encontra abrigo, ou vira comida de algum predador. Cada amanhecer é uma nova corrida contra o tempo e contra as condições extremas ao redor.

Café da manhã? Caça da manhã! Esqueça qualquer coisa parecida com “o café da manhã é a refeição mais importante do dia”. Pro Muriel, é assim: ou ele acha o que comer, ou é ele que será comido. Com a lança na mão, ele se embrenha na floresta com os olhos atentos, caçando qualquer coisa que possa virar alimento. Não é questão de escolher entre torrada ou cereal, é pegar o que o dia oferecer e às vezes, o dia não oferece nada.

Ele vê uma ave voando e pensa: “seria um ótimo lanche”. Mas só de pensar, ela já foi embora. Então ele segue em frente, correndo contra o tempo, tentando caçar um coelho, uma cabra, qualquer coisa. E assim é o “café da manhã” de Muriel: uma caçada com muita adrenalina e um pouquinho de sorte.

Vida social? Só se for pra sobreviver. Não tem nada de rolê, balada ou happy hour pra Muriel. A “galera” dele é a tribo, e eles só se juntam quando precisam de ajuda ou proteção. A vida em grupo é tipo um contrato não assinado: cada um cuida do outro porque sabe que sozinho é mais perigoso. Se ele encontra algo pra comer, compartilha com a tribo; se alguém descobre uma nova caverna, avisa pro grupo. Mas é tudo muito prático sem papo furado ou conversas aleatórias.

Ficar de olho nos perigos: a tensão não acaba nunca. A sensação de “relaxar” é inexistente. Mesmo enquanto caminha, Muriel precisa ficar de olho em qualquer movimento suspeito, atento a predadores, como leões, hienas e outros caçadores. Pra ele, cada segundo é uma escolha: a trilha certa pode levar a uma fonte de água, mas a trilha errada pode levar direto pra um grupo de predadores. É como se ele estivesse em uma “luta ou fuga” constante.

À noite, a correria continua. Com o pôr do sol, a sensação de “ufa, acabou” nunca vem. Ao contrário, é quando a tensão aumenta. Muriel e sua tribo acendem fogueiras em volta do acampamento pra tentar afastar os animais. Cada um tem seu turno de vigia, e dormir é quase uma questão de sorte. Afinal, qualquer barulho pode significar que um animal decidiu se aventurar pelo acampamento, e isso acaba com o sono de qualquer um. A noite passa devagar, e o descanso completo é um luxo que Muriel simplesmente não conhece.

Os sonhos de Muriel? Sobreviver ao próximo dia! Quando a gente fala de “sonhos” ou “metas”, pensa em viagens, novas experiências, melhorar de vida. Mas Muriel? O único objetivo dele é acordar no dia seguinte. Sua “meta” é garantir comida, segurança e proteção contra os perigos. Ele não tem um “futuro” como a gente pensa, e o conceito de “tempo livre” é quase uma piada.

A cada amanhecer, Muriel tem que correr mais uma vez atrás do que comer, de onde se esconder e de como sobreviver. Pra ele, não existe planejamento a longo prazo, nem “tempo de qualidade” tudo é uma corrida constante.

Se nós temos a impressão de que vivemos na correria, Muriel é o exemplo de que a vida sempre foi, de algum jeito, uma luta contra o tempo. Ele não tem horários definidos, aplicativos pra organizar a rotina ou momentos de lazer. A diferença é que a “correria” dele era literalmente uma questão de viver ou morrer, sem intervalo, e sem nenhuma chance de descanso real.

“Tiraram o primata da selva, mas não a selva do primata” – Prof Caverna

Caro leitor, entendeu?


Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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