Nem só de Cataratas é formada a biodiversidade de Foz
Recursos naturais de Foz merecem olhar mais atento e medidas efetivas de proteção.
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Quando falamos de Foz do Iguaçu, imediatamente nos lembramos das Cataratas. Mas e o restante da biodiversidade que compõe a cidade? Parece mesmo relegada a sua própria sorte… ou azar.
Sabe a geração que guarda objetos de mesa e lençóis mais bonitos para a visita e no dia a dia usa os copos de requeijão e o edredom velhinho? Pois bem, Foz do Iguaçu não parece dar a importância necessária a seus moradores e a seu meio ambiente.
A impressão é de que o brilho das Cataratas é tanto que ofusca a beleza e a relevância de todas as demais áreas naturais que compõem a rica biodiversidade de Foz. É como se as árvores urbanas, as praças, os rios e a fauna não tivessem importância. Como se fossem apenas um acessório. E isso é típico de cidades que ostentam grandes áreas verdes, em que as menores, além de ofuscadas, são abandonadas.
Com as árvores urbanas é a mesma coisa. Os clarões pela cidade vão ampliando-se, onde havia árvore se abre vaga para estacionamento. E tudo vai ficando cada vez mais cinza. Aproveitam pra derrubar o verde que atrapalhava o caminho da Perimetral Leste ou duplicação da Rodovia das Cataratas em nome de um destino ecológico.
Os responsáveis pelos órgãos que deveriam zelar pela biodiversidade parecem dormir em berço esplêndido, sob a brisa do ar-condicionado. E só acordam tarde, quando a imprensa ou a comunidade os provocam.
E não é por falta de legislação. Isso existe. Mas precisa ser colocada em prática. Por exemplo, o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA). Criado em 2020, ele tem por finalidade:
I – diagnosticar a situação do município quanto aos fatores que influenciam o bioma; II – definir a visão futura do município referente à preservação e recuperação dos remanescentes da floresta de Mata Atlântica de Foz do Iguaçu; III – propor plano de ações de preservação e recuperação dos remanescentes locais; IV – definir ações de monitoramento do Plano Municipal de Mata Atlântica.
No papel é muito bonito, mas a prática nos diz outra coisa. Lembra-se do Bosque dos Macacos? Precisou haver a derrubada de uma grande área para então o município anunciar que transformaria o local em um parque municipal e, assim, ainda ganhar com o ICMS Ecológico. E a Praça das Aroeiras ? Mais uma vez, a natureza foi sacrificada. Já viu o contrário? Já viu um prédio ser derrubado para que uma mata seja plantada? É sempre a mesma justificativa: é o progresso. Nesse caso, mesmo havendo outras áreas disponíveis para a escola, enumeradas pela própria comunidade, a prefeitura optou por “tratorar” a natureza.
E com o Parque Monjolo o cuidado também deixa a desejar, pois o local reflete a ausência de uma política pública eficiente, que realmente valorize as áreas naturais, que promova a educação ambiental e aja preventivamente. Um espaço que abriga inúmeras aves e poderia ser um atrativo turístico natural para o visitante que já gosta ou que pode ser despertado pela beleza dos animais alados não recebe a atenção merecida.
Mas todas essas reflexões parecem não chegar aos tomadores de decisões. O que será que se passa na cabeça desse povo? Acordam, vão trabalhar e pensam: “Hoje não vou desenvolver minhas funções?” Não, ao contrário. Os tomadores de decisões estão convictos de que suas ações e intenções são as mais certeiras.
Foz do Iguaçu, ao completar 110 anos, precisa urgentemente rever seus conceitos. Continuar servindo do melhor modo possível seus visitantes, mas oferecendo o melhor a seus moradores, o que está diretamente ligado à qualidade de vida, ao esgoto tratado, ao lixo reciclado, à mata ciliar regenerada, à floresta preservada, à fauna protegida e assim sucessivamente.
Não há mais como um lugar com tanto potencial turístico ser algo apenas para “inglês ver”. Tem de ir além, ser uma cidade para o iguaçuense morar – e morar bem! Com o copo de requeijão cheio, edredons novos e natureza preservada.
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