Foz do Iguaçu, 110 anos: transformações com grandes obras e 15 desafios antigos
Apesar de investimentos em andamento ou conclusão, a cidade enfrenta a sina de arrancar do papel projetos estratégicos.
Registra o anedotário da política local resmungos e leves cotoveladas em palanque improvisado no acostamento de uma rodovia em Foz do Iguaçu, no corredor turístico, para solenidade oficial de anúncio de aguardadas melhorias na pista. Farpas decorrentes da disputa pela “paternidade” de lado, ao trabalho. Nem deu tempo para esquentar as máquinas, a execução foi embargada, e a obra, adiada por mais alguns anos.
Não é missão fácil para a cidade quando se trata de arrancar do papel e das promessas de agentes públicos de diferentes matizes os investimentos estratégicos, os projetos com densidade e alcance. É quase uma sina. Ao recuar um pouco na história, à década de 1980, a construção da Ponte Internacional Tancredo Neves foi uma verdadeira briga, precisou ser praticamente arrancada da burocracia para ser realidade.
Combinação de contexto econômico e decisão política, algumas das obras estruturantes saíram dos projetos executivos para o canteiro de serviços. Parecia, enfim, que Foz do Iguaçu entraria no período da bonança quanto às demandas mais urgentes por infraestrutura elencadas por entidades e governança da cidade, e o tempo daria razão à sabedoria popular, a qual ensina que sempre alcança quem sabe esperar. Não tem sido bem assim.
Estão em andamento grandes investimentos, projetados com o objetivo de fomentar segmentos econômicos relevantes para a região trinacional, como turismo, comércio e logística, além da mobilidade. Por outro lado, persistem gargalos, cronogramas de entrega atrasados e uma série de necessidades ainda à espera de efetivação pelo poder público, o qual também não possui um plano de presente e futuro que ligue os vetores econômico, social e ambiental.
Infraestrutura e grandes obras
1 Ponte da Integração
Conexão entre Brasil e Paraguai, ligando Foz do Iguaçu e Presidente Franco, a Ponte Internacional da Integração começou a ser construída em 2019, foi inaugurada em 2022 e declarada 100% concluída, pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), em agosto de 2023. Entrará em uso com o avanço das obras complementares à via.
A ponte é uma reivindicação que remonta há 32 anos. O objetivo é dinamizar a circulação de pessoas, veículos e cargas entre Argentina, Brasil e Paraguai, reduzindo a pressão de tráfego sobre a Ponte Internacional da Amizade, a fim de fomentar setores econômicos e melhorar o trânsito para fronteiriços. Conforme a Itaipu Binacional, que pagou a obra, o investimento total foi de R$ 373,6 milhões.
2 Porto Seco
O novo Porto Seco em Foz do Iguaçu visa a fortalecer a fronteira como polo logístico na América do Sul. A empresa Multilog foi a vencedora da licitação para a construção da unidade alfandegada, junto à BR-277 e à Perimetral Leste, modernizando e dobrando a movimentação de cargas de importação e exportação.
A previsão é de que as obras fiquem prontas no fim de 2025, com investimento total de R$ 500 milhões, em uma área de 550 mil metros quadrados. Está prevista a geração de três mil empregos diretos e indiretos. O projeto contempla amplo pátio para caminhões, área de armazenagem e vistoria, modernização de equipamentos, com balanças de precisão e escâner de cargas, e reforço da segurança.
3 Aeroporto
O prolongamento da pista do Aeroporto Internacional das Cataratas foi inaugurado em 2021, a partir de investimentos de órgãos federais, a fim de dotar o terminal de maior capacidade operacional, ampliando a demanda. O trecho foi acrescido de 664 metros, aumentando de 2.194 para 2.858 metros.
Após impasse com a Infraero, antiga operadora, a CCR, administradora atual do terminal, sob concessão privada desde 2022, comprometeu-se em concluir a homologação da extensão da pista na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que estava pendente por disputa de atribuições. Esse procedimento permitirá que o aeroporto receba voos comerciais e cargueiros de maiores proporções.
4 Perimetral Leste
A Rodovia Perimetral Leste atravessará Foz do Iguaçu, entre a BR-277 e as pontes da Integração (com o Paraguai) e Tancredo Neves (com a Argentina). Após mediação da Justiça acerca de demandas envolvendo a execução, a via teve o prazo de conclusão alterado, para o fim de 2025, e ajustes no projeto.
A construção pública inclui duas aduanas para fiscalizar a entrada e saída de mercadorias dos países das Três Fronteiras. A Perimetral Leste é resultado de uma parceria entre os governos estadual e federal e a Itaipu, que custeia a obra. O valor total é de R$ 335,6 milhões, de acordo com a binacional.
5 Rodovia das Cataratas
A duplicação da Rodovia das Cataratas, a BR-469, abrange trecho de 8,7 quilômetros, entre o trevo de acesso à Argentina e entrada do Parque Nacional Iguaçu. Além de ser o caminho para as Cataratas do Iguaçu, a estrada federal comporta acesso para o aeroporto, atrativos, hotéis, resorts e entradas para bairros.
A obra prevê implantação de vias marginais, passeios, ciclovia, ponte sobre o Rio Tamanduá, passa-faunas, iluminação de LED e quatro viadutos. O convênio atual é de R$ 271,8 milhões para o projeto, incluindo a contrapartida do Governo do Paraná e abarcando custos de obras, supervisão e desapropriação de áreas.
Após contenda na execução, o DER-PR informa ao H2FOZ que o consórcio responsável pelos serviços está remobilizando frentes de trabalho e maquinário para voltar ao “ritmo apresentado até o final do ano passado”. Estão sendo finalizados, para isso, um aditivo de prazo, reorganizando o cronograma, e outro de novo valor.
6 Mercado Municipal
Após idas e vindas, a previsão de abertura do Mercado Municipal de Foz do Iguaçu ficou para o início do segundo semestre deste ano. As obras foram iniciadas em março de 2018, na área da antiga Cobal, na Vila A, com prazo de finalização estipulado para o semestre de 2019. O desafio, depois de abertas as portas, será aplicar e ter êxito com o modelo de gestão, o que está a cargo do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).
A estrutura tem três mil metros quadrados de área construída. A proposta é implementar um mix de produtos e gastronomia, além de espaço para atividades de cultura e lazer, de música a teatro. A Itaipu Binacional contabiliza que serão 54 espaços: 12 boxes sociais, para cooperativas e associações, e 42 estão para locação.
7 Avenida JK
Parceria entre a Prefeitura de Foz do Iguaçu e a Itaipu, responsável pela maior parte dos R$ 23 milhões previstos para a obra, a revitalização da Avenida JK está no início do recapeamento asfáltico, serviço apontado pela administração como prioritário. A previsão de conclusão é maio de 2025.
O projeto prevê novo sistema de drenagem pluvial entre o viaduto da BR-277 e a Avenida Carlos Gomes, e recapeamento de toda a via, do viaduto até a Avenida Jorge Schimmelpfeng. O serviço abrange a reforma e adequação do canteiro central, para possibilitar a construção de ciclovia e pista de caminhada, nova iluminação e mobiliário urbano.
15 desafios antigos
Listagens derivadas de diferentes fóruns e espaços de discussão da sociedade civil e poder público requerem dezenas de investimentos prioritários para contribuir com o desenvolvimento de Foz do Iguaçu. Muitos são gargalos que reclamam por soluções há anos, e outros tantos vêm sendo emoldurados em promessas e projeções. O H2FOZ lista 15 projetos principais à espera de concretização, de uma lista que é bem maior.
1 Trincheiras
São demandas por quatro intervenções, na Vila Portes e Jardim Jupira, Trevo do CTG Charrua, Portal da Foz e na frente do Mercado Municipal, como soluções de melhoria da mobilidade.
2 Alagamentos e enchentes
Necessidades prementes são obras em áreas como Jardim Canadá, Morenitas e Jardim Universitário, entre outras mapeadas pela prefeitura. Um dos gargalos, na Avenida JK, tem previsão de ser solucionado com a revitalização da avenida. A conclusão dos serviços de drenagem na região de Três Pinheiros/Jardim São Paulo prevê uso de parte do financiamento recente da gestão municipal com a Caixa.
3 Parques lineares
Implementação de parques lineares dos rios Boicy e Poti. Projeto que previa a transformação de toda a extensão dos principais rios urbanos da cidade, o Reinventando Foz não tem orçamento em 2024 nem na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
4 Bosque Guarani
Fechado desde a pandemia, requer a reabertura para uso público, educação ambiental e conservação integral do remanescente de Mata Atlântica. É listado como unidade de conservação municipal.
5 Centro Cívico
Espaço para a nova prefeitura, concentrando secretarias e reunindo outros órgãos. Conforme a administração, o município está elaborando o projeto e orçamento da obra, para o terreno atrás da Polícia Federal, sendo que os trâmites para uso da área foram oficializados, informa.
6 Parque Remador
Revitalização completa do espaço ambiental, de lazer, arte e cultura que fica no Porto Meira.
7 Bairros
Equipamentos de lazer nos principais bairros, mediante levantamento técnico de demandas de construção, reforma e ampliação de quadras esportivas, campos de futebol, espaços ambientais, entre outros.
8 Mobilidade urbana
O Plano de Mobilidade Urbana de Foz do Iguaçu (Mobifoz) virou lei por decreto municipal de 2018, mas não saiu do papel. A prefeitura informa que está sendo montada uma comissão para acompanhamento e renovação do documento.
9 Campus da Unila
Conclusão do campus universitário da universidade, desenvolvendo o ensino público superior e contribuindo para a consolidação da instituição. As obras foram interrompidas em 2014, com 41% de execução e desembolso de R$ 100 milhões até aquele momento. No ano passado, governo federal, Itaipu Binacional e Unila definiram a retomada das obras, que custarão cerca de R$ 700 milhões, com prazo de conclusão em três anos.
10 Terminais de ônibus
Os terminais para passageiros de ônibus no centro e na Vila Portes são inadequados, carecendo de intervenções para melhorias na funcionabilidade, segurança e comodidade a moradores e visitantes.
11 Praças da Bíblia e do Mitre
Redefinição das chamadas Obras do Centenário, com revisão e adequação da estrutura das praças da Bíblia e do Mitre.
12 Teatro Municipal
A construção do Teatro Municipal é uma deliberação de sucessivas conferências municipais de cultura, pois Foz do Iguaçu não dispõe de um equipamento público e de caráter multiuso capaz de receber grandes espetáculos e públicos, e, simultaneamente, como alavanca para o trabalho de artistas e realizadores iguaçuenses.
13 Centro Municipal de Inovação
O edital para a reforma do espaço ao Centro Municipal de Inovação é de 2018. O CMI-FI foi criado por lei em março de 2022. Em janeiro deste ano, prefeitura e PTI anunciam que avança a sua implementação, com previsão, na ocasião, de investimento de R$ 10 milhões pelo Parque Tecnológico na infraestrutura do serviço.
Apuração da reportagem sobre o status atual indica que o convênio está sendo elaborado; a prefeitura cedeu os espaços ao PTI e deu início a estudos financeiros e de engenharia para precificar o projeto. Quando foi lançado, o Centro de Inovação pretendia abrigar 50 startups de tecnologia, impulsionar negócios no setor e atrair investimentos.
14 Beira Foz
Desde que foi anunciado, o início dessa intervenção vem sendo postergada, além de gerar indagações das comunidades vulneráveis que vivem próximas do Rio Paraná. Em nova formatação, o projeto executivo deverá ser concluído pelo PTI.
15 Patrimônio cultural
Requer aplicação da lei municipal, com ações públicas de preservação e promoção de edificações históricas e a criação de museus e casas de memória.
Excelente panorama!
Faltou so falar do projeto da ferrovia ferroeste .. ja foi aprovado na Camara estadual
Faltou falar da Estrada de ferro
Esse povo de rua…arrumar um lugar pra essa gente ficar e de repente produzir algo de bom pra sociedade iguaçuense…. Ha muito trabalho pra fazer ….
Ótima matéria. Nas trincheiras, faltou citar a do cruzamento da Paraná com a Costa e Silva /República Argentina. E a construção do ramal da Ferroeste até Foz.
Muito boa a matéria……
Excelente sintese.Parabéns