Encontro de pioneiros preserva a história viva de Foz do Iguaçu
Proposto pela memorialista Rita Araújo, Causos de Foz reúne semanalmente moradores para partilhar lembranças e o amor pela cidade; leia o texto, assista à entrevista.
Amor incondicional pela cidade, memórias afetivas e carência de ações governamentais para zelar pela história coletiva levaram Rita Araújo a desenvolver o que se pode chamar seguramente de projeto de vida. A causa, no caso, é o encontro semanal de pioneiros Causos de Foz.
O propósito é reunir pessoas, resgatar e compartilhar lembranças, rememorar vivências e valorizar a contribuição daqueles que estavam ou chegaram antes a Foz do Iguaçu. Foram os tempos idos, mas não esquecidos, para fazer referência ao começo dessa empreitada.
Rita Araújo punha em contato moradores antigos da cidade que buscavam uns os outros. Em 2015, criou um grupo no Facebook para que os participantes pudessem publicar fotografias, reviver e conhecer histórias. Logo veio a necessidade de encontros presenciais.
O “encontrinho” Causos de Foz acontece aos sábados, no Clube Gresfi, reunindo pessoas de várias idades, inclusive muitas na faixa acima dos 90 anos. É aberto aos mais jovens interessados em conhecer a “história viva de Foz do Iguaçu”, narrada por muitos de seus protagonistas, e a professores e pesquisadores.
VÍDEO – ENTREVISTA RITA ARAÚJO
Cuidar de Foz do Iguaçu
Nascida na Santa Casa Monsenhor Guilherme, a comunicadora – que atuou como colunista social e apresentadora de tevê e rádio – é filha de Augusto Araújo e Conceição Ferreira Araújo. Os pais se casaram no município nos primeiros anos da década de 1940.
Ele, engenheiro mineiro, veio para Foz do Iguaçu no final dos anos 1930 para trabalhar em obras da empresa Dolabella, como a construção do Hotel das Cataratas. Iguaçuense, a dona “Ninita” teve uma vida dedicada ao altruísmo, transferindo à filha o amor por Foz do Iguaçu. E por causos e lembranças.
“Sempre fui muito companheira da minha mãe. Desde pequenininha, ficava no meio dela e de suas amigas ouvindo histórias”, relembra Rita. “Amo Foz do Iguaçu incondicionalmente. Aprendi isso com ela, que era apaixonada e tinha orgulho da cidade onde nasceu”, enfatiza.
Esse senso de pertencimento demarca o encontrinho. “Nos reunimos para falar apenas do passado. A única regra é não discutir política, religião e futebol – a menos que seja o futebol de antigamente: falamos sempre do Kid Chocolate”, diverte-se, citando esse personagem do esporte iguaçuense.
Com o grupo nas redes sociais “Foz do Iguaçu Dos Tempos Idos Mas Não Esquecidos…” veio o encontro Causos de Foz, como demanda pós-pandemia de covid-19 – os dois primeiros com apoio da Fundação Cultural –, e mais uma rede no WhatsApp. “Nossos pioneiros tinham a necessidade de se encontrar”, conta Rita Araújo.
Esse desejo cresceu principalmente entre os iguaçuenses que moram em outras cidades, estados e países. O primeiro encontro, de uma proposta inicial de quatro edições sazonais, foi no Gresfi em 2023. “Eram abraços, choro, alegria e muita emoção”, rememora.
Passo seguinte, a reunião de pioneiros ocorreu no Colégio Agrícola, com mais de 200 participantes, e foi para a Praça da Marinha, a Almirante Tamandaré. Voltou ao Gresfi convertida em data fixa, semanal, com abertura e apoio dados pela direção do clube.
“O encontrinho é para ouvir e contar a história que está indo para o ralo. O poder público falta, e falta muito, com a obrigação de zelar desse patrimônio, apesar de uma experiência positiva em 1997, com a publicação de um livro [Foz do Iguaçu: Retratos] importante”, opina. E deixa um recado: “Quem escolheu viver em Foz do Iguaçu, cuide da cidade, ame-a”, assevera Rita.
Cinema e passeios na Avenida Brasil
Se a mãe deixou para Rita Araújo o amor pela cidade e a sua história, o pai lhe transferiu a crença no desenvolvimento. “Foi vereador duas vezes, na melhor época, quando não se recebia um centavo e, se faltasse às sessões, tinha que pagar”, pontua, sobre o homem que era getulista.
Foi sócio em diversos empreendimentos, como o posto de combustíveis pioneiro na Brasil, o Esso Avenida, que funcionou até 1975, na Avenida Brasil, 1.004, onde hoje fica a loja Riachuelo. Ajudou na expansão do serviço de telefonia na cidade. Rita lembra, de pronto, dos três dígitos dos números de telefones de casa e do autoposto: 213 e 248.
Foi sócio em revendedora de carros, no local do antigo Whiskadão, na esquina da Jorge Sanwais com Almirante Barroso. Comprometido com o comércio, ajudou a criar a Associação Comercial, a ACIFI, sendo o seu segundo presidente (1953–1955), depois de Pedro Basso (1951–1953).
“Sempre estava na ativa. E naqueles tempos todos os comerciantes eram muito unidos, se ajudavam”, comenta, contextualizando o grande número de empresários turcos que se instalaram na Avenida Brasil, destaca. “Meu pai, seu Augusto, acreditou em Foz do Iguaçu”, orgulha-se.
A mãe de Rita Araújo se dedicou à beneficência, ajudando na manutenção dos serviços de várias entidades de assistência às pessoas vulneráveis. Por dez anos, esteve ao lado dos projetos encampados por Léa Vianna, fundadora da Guarda Mirim de Foz do Iguaçu.
“Mamãe sempre foi envolvida em trabalhos para ajudar as pessoas”, sublinha Rita. “E era bingueira. Se tinha bingo, dona ‘Ninita’ estava presente. Cansou de ganhar prêmios, até um Fusca, em sorteio no Gresfi, que precisou da ajuda de papai para trazê-lo”, relembra.
A memorialista percorre as próprias lembranças. Antes de Itaipu Binacional, na década de 1970, eram tardes no Cine Star e passeios pela Avenida Brasil até o Batalhão do Exército. E idas para Presidente Stroessner, no Paraguai, do outro lado da Ponte da Amizade, para cine a céu aberto, chipa e Coca-Cola.
A expansão sem planejamento da cidade, ela observou com certa dose de estranheza. “Tive uma infância maravilhosa, todo mundo era amigo. Foz do Iguaçu era uma família, uma cidade pequena que funcionava plenamente, em que seus moradores tinham acesso às mesmas escolas e hospitais. Tenho falta disso”, conclui Rita, com saudades.
Cheguei em Foz aos 6 anos em 1985, me criei no Bairro Porto Belo, Vila c. Etc…muitas são às Lembranças e memórias…vivi a era anterior a informática e mundo virtual hj é tudo extremamente diferente….enfim, saudades não idade.
Chegamos em Foz em 1959,meus pais viveram nesta cidade até os seus passageiros.Fizemos muitas traquinagens,somos 6 irmãos, todos vivendo em diferentes cidades,Restaram três que ainda moram em Foz,sou seu contemporâneo e tudo que vc descreveu também vivi.A saudade daqueles tempos é grande.
Por incrível que pareça me tornei professor,por 30 anos,hoje aposentado.
Acho que vai lembrar.
Parabéns Rita pela dedicação de resgatar a história de Foz do Iguaçu.
Muito obrigado.
sou neto de Patrício Moleda e Joana Paniagua Yedros Moleda, nascida em 1900 na Argentina, primeira parteira de Foz, tive 11 tios todos nascidos também em Foz, me criei nas barrancas do rio Paraná e do rio Iguaçu… eita saudadesssssss
Rita sou neta do Júlio Pasa que foi prefeito em Foz, minha família toda é daí,
RITA Parabéns pelo seu trabalho lindo.
Cheguei emFoz do Iguaçu em 1963, morei no bairro Maracanã até 1980. Acompanhei o lançamento da linha da crista da barragem da Itaipu Binacinal, quando transportei o engenheiro responsavel e seu teodolito até a barranca do Rio Paraná. Não nasci em Foz, mas tenho ótimas recordações dessa cidade. Nas tardes de verão, íamos até as cataratas levando uma caixa de picolés e jogando general. O acesso ao parque naquela época era livre. Velhos tempos , belos dias.