Modelo de crescimento da região trinacional preocupa

Obras vão dar novo impulso à região, porém há lacunas na geração de renda, moradia e meio ambiente

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De um lado, o trânsito caótico nas fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Argentina; do outro, uma região ecologicamente viável que ainda não tem um modelo de desenvolvimento sustentável.

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 A centenária Foz do Iguaçu é cheia de gargalos que refletem nas vizinhas Puerto Iguazú, Ciudad del Este e Presidente Franco. Se por um lado projetos de infraestrutura e logística estão prestes a ser desenrolados, de outro os problemas com o meio ambiente, moradia e geração de renda persistem.

O complexo logístico Ponte da Integração/Perimetral Leste/Porto Seco é apontado como solução de curto prazo para vencer gargalos crônicos da fronteira na área da logística que trarão impactos na economia. Isso porque os efeitos, principalmente da Ponte da Integração, vão além da simples circulação de carros e caminhões.


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Em Presidente Franco, cidade que divide a Ponte da Integração com Foz do Iguaçu, a perspectiva é a de que surja um novo polo comercial após a efetiva inauguração da via, diz o presidente do Conselho de Desenvolvimento Trinacional (Codetri), Roni Temp. O Codetri reúne conselhos de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este, Puerto Iguazú e Presidente Franco.

“Há empresas de Salto del Guairá que compraram terrenos para fazer shoppings. Será uma nova Ciudad del Este”, frisa Temp. Pensando no futuro, o Conselho de Desenvolvimento de Presidente Franco (Codefran) encomendou um estudo para planejar a expansão e evitar que o crescimento comercial seja desordenado, a exemplo do que aconteceu em Ciudad del Este.

Além do polo comercial previsto, a cidade pretende investir no potencial turístico dos Saltos de Monday, que ficam a três quilômetros da ponte e que se somarão a um parque ecológico já instalado na cidade. 

A inauguração da Ponte da Integração depende da finalização de obras complementares, inclusive em Presidente Franco. Apesar disso, o Codetri defende a liberação do fluxo de veículos a partir do segundo semestre, quando a infraestrutura em construção no lado paraguaio será concluída.

Agilidade

Outra obra que terá impacto regional é o novo Porto Seco. O terminal – que será três vezes maior que o atual, situado na região da Ponte da Amizade – está sendo construído na entrada da cidade, às margens da BR-277, e terá acesso à Perimetral Leste.

Temp considera o Porto Seco fundamental para superar o gargalo da logística por permitir mais agilidade no desembaraço aduaneiro. “A cidade vai dar um salto, a infraestrutura é o maior gargalo”, aponta.

Filas de caminhões na BR-277 em Foz do Iguaçu: problema recorrente na atual localização do porto seco. Imagem: Marcos Labanca/H2FOZ

Com mais agilidade, a tendência é de que caminhões que hoje passam por Barracão (PR) e São Borja (RS) prefiram Foz do Iguaçu para chegar à Argentina em razão da maior rapidez nos despachos aduaneiros. Hoje, a demora nos despachos é o que mais incomoda e trava o crescimento do setor.

Em se tratando de Foz do Iguaçu, a conclusão da duplicação da Rodovia das Cataratas e o funcionamento da pista do aeroporto, que permitirá receber voos internacionais, são outras obras importantes para o turismo, diz Temp. Há inclusive grupos estrangeiros interessados em investir na região, que já é um corredor turístico de Foz.

As filas na aduana de Puerto Iguazú, outro entrave crônico na fronteira, estão longe de ser solucionadas, porque a fiscalização segue a lei do país. Nem mesmo a troca de presidente alterou o panorama. 

Modelo de desenvolvimento

As “grandes obras” em andamento são aguardadas há décadas e parecem dar novo alento à logística e ao turismo da cidade. No entanto, o modo pelo qual esse desenvolvimento ocorre é passível de questionamentos.

Obra Perimetral Leste
Aguardada há décadas, obra da Perimetral tem sido questionada pelos impactos urbanos e ambientais. Foto: Marcos Labanca

Professora doutora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) que pesquisa a área de urbanismo, planejamento urbano e paisagens, Patrícia Zandonadi lembra que um dos principais gargalos da região não é a falta de obras ou logística, e sim a compreensão do que é o desenvolvimento com justiça ambiental.

Não se tem, por exemplo, gestão do uso do solo e promoção de moradias, consideradas importantes gargalos, ressalta.

Tomando o exemplo de Foz do Iguaçu, ela diz que a cidade não apresenta economia industrializada e postos de trabalho bem remunerados, por isso as pessoas buscam outras formas de geração de riqueza, e a mais recente delas é a especulação imobiliária. “A terra se torna algo para riqueza”, avalia.

Já é notório que o turismo gera empregos precários e remunera mal. Por isso, é preciso pensar em outros modelos da relação das pessoas com o trabalho, a exemplo da economia solidária ou circular, que não são focadas na geração de riqueza.

Na análise da professora, Foz do Iguaçu vive um momento de virada, de uma cidade média com economia pouco dinâmica para uma intensa ocupação de território.

Segundo ela, há uma dissonância no debate relativo ao desenvolvimento da cidade. Os caminhos das políticas públicas precisam ser democratizados e envolver outros atores, para além de conselhos, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz do Iguaçu (Codefoz) e o próprio Codetri.

O Conselho das Cidades (ConCidades), por exemplo, tem um papel reduzido no contexto das discussões.

O interesse da maioria da população é viver com moradia, saúde e segurança ambiental, e isso não é prioridade dos conselhos, frisa.

A professora ainda reflete que, em pleno ano de 2024, não se pode fugir da realidade que bate à porta: a crise climática. Por isso, também é preciso de uma cidade que preserve rios, banhados, e responda às demandas habitacionais dignas e que produza alimentos em áreas urbanas e pense no transporte público, que já poderia ser descarbonizado. “Não falta tecnologia.”

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3 Comentários
  1. RUTH ROZO PIVA Diz

    Concordo com a professora. Pensar só nos ganhos turísticos é desumano para os cidadãos Iguacuences. Haja vista a falta de atenção a praças e parques públicos. A exploração absurda nos preços de aluguel de imóveis. Pensa-se só que por ser uma cidade turística tudo deva ser super valorizado. E os moradores? Trabalhadores de baixa renda? Tem que se jogar no lago? Parece.

  2. Martin Othmar Schneider Diz

    Porto Franco é Paraguai ?
    Quanto está custando um terreno lá ?

  3. Luis Claudio dos Santos Diz

    Já éra pra estar pronto éssas obras,mudou o governo e parou o desenvolvimento da perimetral,tem que fazer uma reportagem falando disso,

Comentários estão fechados.