Casa de garrafas de vidro: projeto sustentável pede apoio
Reaproveitamento de materiais, que costumam ser descartados, deveria ser incentivado e divulgado.
Por Aida Franco de Lima e Paulo Bogler | H2FOZ
Ao comemorar 110 anos, Foz do Iguaçu contempla o passado com incontáveis conquistas e mira um futuro com enormes desafios também. De que modo transformar a cidade da Tríplice Fronteira, que hospeda cidadãos do mundo todo, atraídos pelas mundialmente famosas Cataratas do Iguaçu, e compatibilizar a vida cotidiana com a sustentabilidade? Afinal, como já foi dito aqui neste H2FOZ, “Nem só de Cataratas é formada a biodiversidade de Foz”.
Algumas iniciativas do cidadão comum deveriam ser louvadas pelo município e replicadas. Como o caso da casa de vidro, na Vila C, um projeto iniciado em 2020 pelo casal Dóris Dias (50) e Lopes (54), que precisa de ajuda para ser finalizado e, quem sabe, inspirar outras famílias. Somente nesse projeto, são 20 mil garrafas de vidro que deixaram de ter um destino incorreto, afinal nem sempre o morador as encaminha para a coleta seletiva. Muitas vezes, elas viram detritos ou ficam jogadas em um canto qualquer, inclusive servindo de criadouro de mosquito.
Além de outros materiais comuns em construção, o casal usou isopor, para ajudar a preencher os espaços entre as garrafas. Jogado na natureza, esse produto não se decompõe, apenas vai transformando-se em pequenas partículas, sendo altamente poluente.
Além do mais, como se trata de um projeto feito em torno do reaproveitamento de materiais diversos, se há uma boa organização, é possível dar um novo destino a sobras de construções, que normalmente vão para caçambas de lixo. Estima-se que até 33% do valor de uma obra acaba sendo transformado em entulho. E boa parte disso poderia ter um destino, como a casa de Dóris e Lopes. Eles lutam para finalizá-la e realizar o sonho que boa parte dos brasileiros tem, que é um teto para chamar de seu.
Tudo começou quando Dóris, que atua como mãe social, e Lopes, repositor, resolveram casar-se, no final de 2019, depois de estar juntos há bastante tempo. Com as contas apertadas, ela decidiu fazer os enfeites da festa com materiais recicláveis. Passado um tempo, notou que havia uma quantidade enorme de garrafas que precisavam de um destino final. Ela foi pesquisar o que fazer com aquele monte de vasilhames e viu que na Argentina e em Santa Catarina havia gente construindo casas usando garrafas no lugar de tijolos.
E se quem casa quer casa, sendo que ela e o marido viviam de aluguel, por que não construir uma casa a partir daquelas garrafas também? “Eu olhei pro meu marido, ele olhou pra mim e falou: ‘Essa olhada que você me deu, vai sobrar pra mim!’”
Os pais de Dóris cederam espaço no terreno deles, então as bases da casa começaram a ser construídas. A comunidade contribuiu com a doação das garrafas, com outros materiais necessários para a obra e até mesmo com uma “vaquinha”. Porém, foi bem na fase da pandemia, e de repente o projeto, que estava acelerado, teve o freio de mão puxado.
“Falta a cobertura, rebocar, fazer piso. Mas já tem estrutura para água, rede elétrica e esgoto. A gente tentou ir atrás de parcerias, mas até agora não conseguimos”, explica Dóris. Atualmente, ela está restabelecendo-se de uma cirurgia na residência de sua mãe, e o marido faz “bico” em outra cidade.
“Eu quero muito terminar essa casa, para entrar nela e morar”, destaca. “Fui atrás de empresários, até em universidade. Mas parece que não dão importância. Da reciclagem, a gente pode tirar muito proveito, como construir casas e fazer outras atividades, e eu e outras pessoas precisamos de apoio. Muita gente me incentiva a continuar.”
- Dóris frisa que na fase atual não precisa mais de garrafas, e sim de material básico de uma construção: cimento, areia, cal, cerâmica, madeira para cobertura, janela, porta, vaso sanitário, pedra… “Se alguém tiver para doar, mesmo sendo usado, não tem problema. Eu ficaria feliz se conseguisse. Meio saco de cal talvez não sirva para quem terminou uma obra, para nós será um presente!”
Dóris sonha em transformar a casa, depois de pronta, em um ponto de visita para motivar que outras pessoas também se inspirem na ideia de reaproveitar materiais. O espaço tem 85m² e quando finalizado contará com suíte, um quarto, banheiro, cozinha, sala conjugada com cozinha, lavanderia e garagem.
Quem desejar ajudar com doações em espécie ou qualquer material pode contatar Dóris pelas redes sociais ou WhatsApp:
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