Das escolinhas às universidades, Foz se torna polo da educação

No período da Vila Militar, educação era privilégio para ricos; hoje a cidade atrai alunos de vários países.

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Das primeiras casas escolares de madeira erguidas no início do século 20 às atuais universidades públicas e privadas, Foz do Iguaçu galgou um lugar de destaque quando o assunto é educação. A cidade de fronteira tem hoje três instituições de ensino superior públicas gratuitas, seis privadas e dez polos de ensino a distância.

Localizada em um dos extremos do Brasil, Foz do Iguaçu registrou um desenvolvimento lento e tardio na educação. As primeiras escolas gratuitas foram criadas com ajuda da Igreja Católica e do centro espírita CEPAC.

APOIO ESPECIAL

Já na década de 1970, foi a Itaipu Binacional que deu impulso ao setor com a construção, em 1976, de duas unidades do colégio Anglo-Americano, uma na Vila A e outra na Vila C, para atender exclusivamente filhos de funcionários da empresa. Em 1982, as portas do Anglo foram abertas para os moradores de Foz, e o colégio se tornou o maior do Paraná com 14.600 alunos.

O ensino superior também surgiu, mas tardiamente. A primeira instituição foi a Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu (Facisa), criada em 1979 após protestos feitos por estudantes contra o descaso da educação. Muitos deles precisavam deixar a cidade para obter diploma superior. Administrada pela extinta Fundação Educacional de Foz do Iguaçu (Funefi), a Facisa cobrava mensalidades simbólicas.


APOIO ESPECIAL

A partir de 1986, teve início outro movimento estudantil, dessa vez para fazer o ensino público chegar à cidade. Foi a partir dessa iniciativa que acabou surgindo a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em 23 de dezembro de 1994, época na qual as principais cidades do estado já contavam com universidades gratuitas.

A Unioeste encampou a estrutura existente na Facisa, que já tinha cursos de Administração, Ciências Contábeis, Letras e Turismo.

Somente a partir da década de 1990 o polo educacional começou a germinar. Surgiram, além da Unioeste, várias instituições de ensino superior privadas. As principais foram a Faculdades Unificadas de Foz do Iguaçu (Unifoz), em 1993; o Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (Cesufoz), em 1993; o Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC), em 2000; a Faculdade de Educação Física de Foz do Iguaçu (FEFI), em 2000; a Faculdade União das Américas (UniAmérica), em 2001; e mais recentemente, em 2022, a Faculdade Multiversa.

Em 2008, foi criado o Instituto Federal do Paraná (IFPR), que ocupa as instalações do antigo Floresta Clube, na Vila A.

Polo educacional

Pode-se dizer que o polo educacional se consolidou de fato com a criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em 2010, que trouxe professores e alunos de vários países, com predominância de latino-americanos.

Hoje, a universidade federal oferece 29 cursos de graduação. Atualmente conta com 4.241 alunos de graduação, incluindo africanos, asiáticos, refugiados, portadores de visto humanitário e indígenas, e 843 de pós-graduação. São ofertados 11 mestrados e dois doutorados.

diploma da unila
Criada em 2010, hoje a Unila é uma opção para estudantes de Foz e outros países. Foto: Divulgação/Unila

Na outra ponta, a Unioeste tem 13 cursos de graduação, cinco mestrados e um doutorado. São 2.053 alunos na graduação e 267 na pós-graduação.  

Para o professor e sociólogo José Afonso de Oliveira, a expansão da educação em Foz foi notável, configurando um dos setores que mais cresceram na cidade nos últimos anos. Na avaliação dele, a educação se organizou conforme o crescimento da cidade e as necessidades dela.

“À medida que a cidade foi se expandindo horizontalmente, colégios e escolas foram sendo criados.” Para Oliveira, enquanto a rede particular caminha, de alguma forma, sem nenhuma fiscalização e controle de órgãos estatais e está mais ligada a questões de mercado, a escola pública, enfatiza, está mais voltada para questões de cidadania.

Lista de vagas disponíveis por curso será divulgada no próximo dia 3. Foto: Assessoria/Unila
Unila reúne alunos de diversos países. Foto: Assessoria/Unila

No âmbito do ensino médio, Oliveira destaca a presença do Colégio Agrícola Manoel Moreira Pena, que recebe alunos da região e até mesmo do Paraguai; o Colégio Bartolomeu Mitre, o mais antigo da cidade; o Colégio Monsenhor Guilherme e a Escola Normal, cujos cursos foram oferecidos em alguns colégios para formar professores.

Fenômeno EaD

Após a consolidação do ensino presencial, Foz do Iguaçu vive o fenômeno do ensino a distância (EaD), seguindo a tendência da educação nacional. Por isso, nos últimos anos, passou a ser comum a sobra de vagas nas universidades gratuitas, principalmente em alguns cursos da Unila e Unioeste, e a redução do número de alunos em algumas instituições particulares.

Coordenador de Estudos de Mercado da Hoper Educação – Consultoria Educacional com sede em Foz do Iguaçu, Paulo Presse diz que o movimento das universidades na cidade segue o panorama brasileiro em alguns aspectos.

Um deles é a preferência pelos cursos de Direito e Psicologia na modalidade presencial na rede privada. Outro ponto que chama atenção é a expansão da modalidade EaD, a exemplo do que já ocorre no Brasil.

Para se ter uma ideia, o número de matrículas EaD na cidade passou de 1.471 em 2012 para 7.360 em 2022, na rede privada, enquanto na modalidade presencial caiu de 9.832 para 6.596 no mesmo período, conforme estatísticas levantadas pela Hoper. 

Apesar disso, Presse acredita haver uma sinalização para a retomada do ensino presencial, que começou em 2022 no país, após a pandemia. “Pela primeira vez, se vê uma sinalização do ensino presencial crescendo”, menciona.

Um dos motivos da procura pelo ensino à distância são os valores das mensalidades. No EaD, o valor médio da mensalidade é R$ 210, enquanto no presencial chega a R$ 786.

Para o professor José Afondo Oliveira, a preferência pelo EaD aumentou na pandemia da covid-19 e tem várias e diferentes origens, incluindo facilidade para quem trabalha e a própria era digital. Ele considera uma inovação fabulosa em um país imenso e com grandes diferenças. No entanto, chama atenção para o estilo de ensino.

O EaD, afirma, não é uma sala de aula tradicional resumida em um computador. “É uma forma de ensino diferente, centrada no aluno, que a princípio parece fácil, mas muitos simplesmente desistem.” 

A educação, nos primórdios

Foz do Iguaçu efetivamente teve uma escola de fato apenas após o período da Colônia Militar (1889–1912). Nessa época, o ensino ficava a cargo de pessoas que se dispunham a trabalhar como professores particulares, geralmente em residências, por isso era restrito a famílias com recursos financeiros e a funcionários do governo.

Por isso, até a criação do município, o ensino era particular e domiciliar. As famílias mais abastadas levavam crianças para Guarapuava, Curitiba e até mesmo para cidades argentinas e paraguaias para estudar, a exemplo de Posadas, na Argentina, e Assunção, no Paraguai, conforme relatam Denise Sbardelotto e João Jorge Correa, em artigo publicado em 2009 na Revista Teoria e Prática da Educação.

Com a fundação do município Vila Iguassú, em 1914, e a chegava de mais famílias, viu-se a necessidade de uma escola. Por isso, o município teria construído uma casa escolar entre 1915 e 1916, ainda bastante precária.

Grupo Escolar

A partir de 1914, o governo federal sentiu necessidade de alfabetizar a população, para que fosse possível assinar o voto, criando casas escolares. Mas antes disso, o Governo do Estado já começou a institucionalizar os grupos escolares.  

E foi assim, somente a partir de 1927, que o acesso ao ensino gratuito chegou à cidade. Um acordo feito entre o Governo do Estado e a Igreja Católica resultou no primeiro grupo escolar de Foz do Iguaçu e do Oeste do Paraná, o Caetano Munhoz da Rocha, que se tornou posteriormente o Colégio Bartolomeu Mitre.

Fundado em 1927, o Grupo Escolar Caetano Munhoz da Rocha tinha dois professores padres e duas professoras de Foz do Iguaçu. As atividades tiveram início em uma construção de madeira onde em um terreno em frente à antiga Câmara de Vereadores, na Praça Getúlio Vargas.

Grupo Escolar Caetano Munhoz da Rocha
O Grupo Escolar, de 1927, foi denominado “Caetano Munhoz da Rocha”; depois, a escola foi rebatizada para “Bartolomeu Mitre” – fonte da informação e foto: Biblioteca/IBGE

O primeiro diretor foi o monsenhor Guilherme Maria Thiletzek (que dá o nome ao atual Colégio Monsenhor Guilherme), e o corpo docente inicial era formado pelos professores João Worth, José Winks (ambos padres), Aretuza Reis da Silva e Francisca Vesino Correia.

Entre os alunos da primeira turma formada no curso chamado Complementar, com seis anos de duração, estavam Rui Ferreira, Valdemar Fairtag, Maria Dolores A. Padilha, Agripina Vera, Alberto Rangel Baptista, Rufino Lafuente e Antonio Ayres Aguirre (primeiro cartorário de Foz do Iguaçu).

Em 1929, as professoras Iguassuína Ferreira e Mercedes Braga passaram a fazer parte do corpo docente. Na década de 1930, o grupo escolar foi denominado Grupo Escolar Bartolomeu Mitre, nome escolhido pelo então prefeito Jorge Sanwais.

O primeiro corpo docente, conforme Sbardelotto e Correa, era formado por Catarina, Maria Reis da Silva, Ottília Schimmelpfeng, Iguassuína F. Coimbra, a diretora Iolanda Fava Lenzi e a inspetora conhecida como Iaiá. Nessa fase, os padres deixaram de dar aulas. 

Apesar da troca do nome, o Grupo Escolar Bartolomeu Mitre foi criado oficialmente em 1944, por meio de decreto, e na época era dirigido pela professora Ruth Sottomaior Pedroso.

Casa Escolar Jorge Schimmelpfeng surgiu por uma iniciativa do CEPAC, o primeiro centro espírita de Foz do Iguaçu. Foto: Acervo CEPAC

A presença do grupo escolar não garantia o acesso às crianças mais pobres. Por isso, em 1940, o Centro Espírita CEPAC construiu a Casa Escolar Jorge Schimmelpfeng, cujo prédio está preservado até hoje e passa por restauração. A escola acolheu muitas crianças que até então não tinham acesso aos estudos. 

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