Gasolina argentina a quase metade do preço: professor explica o porquê

As diferenças na composição do combustível no Brasil, Argentina e Paraguai, e o efeito antidetonante nos motores, também foram abordados na entrevista; assista.

As diferenças na composição do combustível no Brasil, Argentina e Paraguai, e o efeito antidetonante nos motores, também foram abordados na entrevista; assista.

O preço do combustível nas cidades das Três Fronteiras apresenta uma disparidade grande. Em Puerto Iguazú, na Argentina, por exemplo, o consumidor chega a pagar, em determinados momentos, a metade do valor cobrado em Foz do Iguaçu. O motivo? Escolha política, sustenta o professor Ricardo Hartmann, em entrevista ao programa Marco Zero.

Assista à entrevista:

Segundo o docente de Engenharia de Energia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), o Brasil abriu mão de fazer a mediação entre o preço no mercado internacional do petróleo e o consumidor. O governo argentino mantém essa decisão, o que resulta em uma contenção do custo nas bombas.

Na Argentina, “há o amortecimento do preço internacional que não é passado diretamente ao consumidor”, explicou. Em analogia, o docente diz que sistema de amortecimento de um carro moderno é como a mediação entre o mercado e o consumidor; os buracos na pista são as oscilações de preço.

“Se você não tem um sistema bom de amortecimento, o passageiro vai sentir”, frisou. “Quando se tira todas as proteções, o consumidor da gasolina sofre. A resposta para isso é bem objetiva: escolha política; escolheu-se não ter essa mediação no nosso país”, sublinhou.

Conforme Ricardo Hartmann, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é o órgão que define os preços que a Petrobras irá cobrar pelos combustíveis no mercado. Esse órgão é formado por ministros da Economia, Casa Civil, Minas e Energia, entre outros agentes do governo federal.

“A escolha política do conselho influencia no preço”, enfatizou. A renúncia à mediação governamental dos valores foi a partir de outubro de 2016, contextualizou, afirmando que antes desse período era adotada uma espécie de média entre vários meses para a formulação dos valores.

Para o professor, o momento atual de alta dos preços no Brasil e a diferença gritante dos custos da gasolina na fronteira podem ser compreendidos ao se analisar a linha do tempo. “Isso tem origem há seis anos, ainda no governo de Michel Temer”, lembrou.

“Desde então, a Argentina continuou com essa política de mediação. Assim, esse histórico de seis anos acaba culminando nessa diferença de preços na fronteira”, apontou o professor Ricardo. “Não foi de um dia para o outro, temos que pensar os efeitos na indústria do petróleo historicamente”, completou.

Refinarias

O professor disse que a partir da década de 1970, quando o país também sofreu com as políticas internacionais, a Petrobras começou a explorar petróleo em águas profundas, feito tecnológico enorme, até chegar à autossuficiência na última década.

“Depois que Brasil se tornou autossuficiente com o pré-sal, produzíamos mais petróleo – isso não quer dizer que vai gerar gasolina e óleo diesel suficiente – e foi feito investimento na Petrobras para construção de refinarias”, frisou. “Tem que produzir Petróleo e construir refinarias.”

Até meados de 2014/2015, a capacidade de refino aumentou, restando cerca de 10% do produto a ser importado. “A partir de 2016, isso se inverteu. Por isso a Petrobras está obtendo tanto lucro, pois ao invés de investir está pagando dividendo ao acionista, ao investidor”, avaliou o docente.

Ricardo Hartmann, em entrevista ao programa Marco Zero, produção do H2FOZ e Rádio Clube FM – Foto: Marcelo Oliveira

Dolarização da gasolina

Com efeito, ao reduzir a capacidade de refino do petróleo e a consequente produção de combustível, “a gente [o país] exporta o produto bruto e importa gasolina que é paga em dólar. Quando a moeda sobe, o consumidor sente. Quando o dólar baixa, nem sempre é igual a diminuição do preço”, analisou.

“Se formos pensar um sistema autônomo, onde o Brasil consegue se proteger das oscilações internacionais, tem que fugir do dólar”, propôs. “Segundo, tem que produzir o combustível internamente”, elencou o professor Ricardo Hartmann.

Diferenças da gasolina

O professor lembra que há diferenças na composição da gasolina, em que a brasileira e paraguaia são mais parecidas. Isso é por conta da quantidade de adição de etanol, um combustível mais limpo, que tem poder antidetonante, que aumenta a octanagem nos veículos.

“O motor tem uma espécie de memória” que, com uso da gasolina brasileira, vai ser acionada pelo veículo. “Sempre o produto argentino vai ter maior composição de gasolina, por isso as pessoas falam que ela é mais forte”, apontou Hartmann.

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1 comentário
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