O perfil do eleitor iguaçuense mudou, e o número de votos nominais – que vão para os candidatos – ficou estagnado em duas décadas. Essas duas constatações são do professor, sociólogo e matemático Luiz Carlos Kossar para sustentar que não terá chance o candidato a prefeito que deixar de apresentar uma visão estratégica para Foz do Iguaçu.
Kossar, que produz estatísticas e análises econômicas, sociais e políticas, foi entrevistado no Marco Zero, programa do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9. Ele expôs sua visão sobre a construção do voto na cabeça do eleitor e o xadrez eleitoral. Suas observações incluíram a aposta em uma Câmara de Vereadores fragmentada partidariamente na próxima legislatura.
Assista à entrevista:
Na eleição para prefeito de 2004, foram 138 mil votos nominais, os destinados a algum dos concorrentes, e em 2020, 131 mil. No pleito de 2024, esse número não deverá se muito maior, abaixo de 150 mil, argumentou. O eleitorado não cresceu muito em relação ao de outras cidades, acompanhando o que Kossar chama de estagnação econômica de Foz do Iguaçu.
“Mas o eleitor iguaçuense mudou de perfil. Ele é mais jovem e escolarizado, conectado, interage em ‘tribos’ e está em movimento, é economicamente ativo”, descreveu o estudioso. “Com idade de 16 a 44 anos, teremos 117 mil eleitores jovens. São 84 mil com ensino médio e 52 mil com graduação”, destacou.
Esse retrato impactará a escolha do candidato a prefeito de Foz do Iguaçu. “São consumidores ativos e buscam oportunidades de melhoras no emprego e renda. O candidato que vier com propostas pontuais não terá sucesso. Ele precisará ter uma nova visão estratégica sobre pautas estruturantes e de desenvolvimento”, avaliou Kossar.
“Eleição nacionalizada”
Na entrevista, o matemático e sociólogo mencionou que Foz do Iguaçu não deverá ter muitos candidatos ao Palácio das Cataratas. Isso difere de outras cidades que já têm a experiência de segundo turno há mais tempo e, portanto, os partidos se preparam para lançar maior número de postulantes na primeira volta do escrutínio, de olho em alianças no segundo turno.
Para Kossar, os partidos, que eram o elo entre o eleitor, o candidato e a política, foram enfraquecidos nas últimas décadas, e o processo eleitoral foi engessado. O que se tem hoje são comissões provisórias das agremiações nas cidades, em geral desconectadas dos anseios da comunidade, e as definições às eleições são tomadas por caciques políticos em Curitiba (PR) e Brasília (DF).
De acordo com ele, outras cidades da região estão estáveis social e economicamente, o que dá espaço para que o eleitor demande melhorias pontuais, como buracos nas ruas e vagas na educação infantil. “Não em Foz do Iguaçu. Aqui é um pouco diferente por causa do alto grau de informalidade, do número de desempregados e da questão social – quase 23 mil pessoas recebem Bolsa Família”, refletiu.
“A preocupação são com os temas estruturais da cidade. Aí entra a polarização”, observou. “E por ser uma fronteira, conexão com Cone Sul, com mudanças ocorrendo na Argentina e Paraguai, país que mais cresce na América do Sul, a eleição pode partir para uma nacionalização, e há candidatos, inclusive, que já estão dentro desse contexto”, realçou Luiz Carlos Kossar.
Vereadores
Sem coligação na eleição proporcional, apenas vigorando as federações partidárias e com número de candidatos reduzido pela legislação, o desafio para chegar ao Legislativo será significativo, pontuou, no Marco Zero. Para Kossar, as siglas precisarão fazer perto de dez mil votos para eleger um vereador.
“Assim, para eleger mais de um vereador, os partidos teriam que ter candidatos com grande potencial”, disse. “Acredito que a Câmara de Vereadores terá uma composição bastante fragmentada, mas o futuro prefeito não terá dificuldades de administrar”, concluiu.
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