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Amiga, querida, humilde e dedicada aos projetos e sonhos. É assim que colegas lembram Zarhará Hussein Tormos, jovem de 25 anos encontrada morta dentro de seu veículo, em uma área rural, depois de a família denunciar o desaparecimento.
Era vida que reluzia em torno da estudante universitária. Mas seu corpo foi localizado amarrado e com sinais de lesões por arma de fogo, de acordo com as informações preliminares da Delegacia de Homicídios, que investiga o caso.
Depois de registrar solidariedade aos familiares e amigos, não há o que propugnar, antes de tudo, senão a resolução urgente, imediata e objetiva das circunstâncias da morte de Zarhará. As autoridades devem mobilizar todos os recursos e técnicas possíveis.
À sociedade, cabe refletir com rigor sobre o embrutecimento cada vez mais nítido. Como recebe, processa e reage a um fato brutal na comunidade. Como se comunica…, pois perdas humanas não podem ser usadas para sensacionalismo.
São tempos em que o ódio é disseminado como rastilho de pólvora, na mesma proporção em que as referências humanistas perdem relevância, até tornando-se chacota. Nesse terreno, a violência vai sendo normalizada.
A filósofa alemã Hannah Arendt alertou para o que chamou, palavra mais, palavra menos, de banalização do mal, aquele que é recorrente e praticado pelos indivíduos sem titubear. É um mal, em geral, que só pode operar sob a omissão da sociedade.
A morte de Zarhará Hussein Tormos ocorre perto do Dia Internacional da Mulher. O período é o mesmo de uma década antes, quando a também estudante, a também jovem, a também cheia de vida e sonhos Martina Piazza Conde foi assassinada barbaramente.
Zarhará e Martina não são coincidências trágicas. A violência contra mulheres e meninas é diária. A cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no país, ou seja, são quatro assassinatos por dia, apenas pelo fato de serem mulheres.
O plural é necessário, pois são violências. Um terço das brasileiras já sofreu agressões no lugar que deveria ser o mais seguro: a casa. Estudo recente, feito por uma universidade e divulgado pelo Instituto Patrícia Galvão, mostra que a violência sexual é mais comum contra crianças de 2 a 5 anos.
A banalização do mal não pode vencer. Por Zarhará, por Martina e por todas as mulheres e meninas, com rostos, nomes e sonhos, para quem o mundo está ficando um lugar cada vez mais perigoso para viver.
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