O início da vacinação a conta-gotas contra a covid-19 em Foz do Iguaçu tem sido marcado por espetáculos de alto risco. Agentes públicos vêm transformando o recebimento das caixas com os primeiros lotes da vacina em marketing que pode transmitir falsa sensação de segurança à população.
A série de exibições com o imunizante estreou no embalo do show midiático lançado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 17 de janeiro. Brasil afora, políticos de plantão seguiram o roteiro nos dias seguintes. Aqui na fronteira, o script é seguido à risca.
O evento para anunciar o começo da vacinação na cidade foi uma cena à parte. Pelo menos 19 pessoas ficaram lado a lado para a pose oficial na linha de frente das autoridades, entre elas a secretária municipal de Saúde e primeira-dama, Rosa Maria Jerônymo Lima, em evento realizado no Hospital Municipal, no dia 20 (foto acima).
As sessões seguintes aconteceram ainda na pista do aeroporto, protagonizadas pelo prefeito Chico Brasileiro (PSD) e pelo secretário estadual de Saúde, Beto Preto, no dia 24, e depois pelo vice-prefeito, delegado Francisco Sampaio (PSD), no dia 29. Em ambas as situações, a caixa foi segurada com a ajuda de outras tantas mãos. Quem será o próximo da vez?
Esses três momentos tiveram como saldo 2.531 pessoas vacinadas na cidade até o dia 29, conforme o “Vacinômetro” da prefeitura. Ou seja, apenas 1% da população. Vidas que integram do grupo prioritário (profissionais de saúde da linha de frente, idosos com mais de 75 anos de idade e pessoas acima de 60 em instituições de longa permanência).
Aqui está o xis da questão. Diante da falta de planejamento do governo Jair Bolsonaro e da ausência de um plano nacional de imunização, quando será concluída a vacinação dos 258 mil moradores de Foz? A pergunta é quase impossível de ser respondida. Os mais otimistas estimam que a vacinação deva ser concluída somente no fim do ano.
Vejamos. Ao seguir critérios do Ministério da Saúde e do Governo do Estado, Foz do Iguaçu contabiliza somente nos grupos prioritários para as três primeiras fases no município cerca de 40 mil habitantes – além dos já citados, inclusos moradores de 60 a 74 anos e pessoas com morbidades. Estamos muito longe de cumprir essa meta.
A máxima dita pelos profissionais continua válida: a pandemia não acabou (número de mortes e de casos continua em alta), e pelo andar da carruagem vai demorar para todos serem vacinados. Além de álcool em gel e máscara, é preciso retomar a fiscalização sobre as festas clandestinas, resolver a superlotação no transporte coletivo e evitar toda e qualquer aglomeração desnecessária.
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