Exatamente dois anos depois de freados os ônibus do Consórcio Sorriso por um decreto de extinção contratual assinado pelo prefeito Chico Brasileiro (PSD), o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) decide em favor do antigo operador, corroborando despacho de juiz de primeiro grau. E faz aumentar o imbróglio que envolve o serviço em Foz do Iguaçu.
A prefeitura rompeu com o consórcio alegando ter havido redução de frota, mas pôs a rodar número ainda mais baixo de lotações, 66, em março de 2022, com uma nova concessionária. Isso subverteu a finalidade e a justificativa da caducidade, entenderam os desembargadores. A administração pretende recorrer.
Se mantidas as duas determinações da Justiça, em Foz do Iguaçu e Curitiba (PR), o que se avizinha é, no mínimo, o risco de uma “catracada”, uma indenização milionária em favor das empresas com o contrato rompido, a ser extraída do lombo do morador. A gestão municipal diz não trabalhar com a hipótese de volta do Consórcio Sorriso e que o TJPR não cita reparo financeiro. Por ora.
O transporte coletivo é operado por uma permissão transitória. Licitação definitiva ficará a cargo do próximo prefeito, pois a atual gestão discorre não haver tempo hábil para estudos técnicos necessários para um processo efetivo. Após auditoria, o Tribunal de Contas do Paraná considerou o “planejamento inadequado do sistema de transporte coletivo urbano por desalinhamento à política nacional de mobilidade urbana” e cobrou providências em dezembro de 2022.
A qualidade do serviço permanece questionada pelos passageiros. O H2FOZ recolheu reclamações de seus leitores, que apontam principalmente a necessidade de mais ônibus nas linhas para diminuir o tempo de espera em pontos e terminais. A condição dos veículos, a integralidade da frota com ar-condicionado e a integração do terminal, a dinheiro, estão na lista.
No modelo atual, o custo da operação, além da passagem, como antes, voltou a ser repassado ao conjunto de contribuintes iguaçuenses. Assim é porque a administração passou a entregar subsídio financeiro à empresa de R$ 1,7 milhão mensalmente, valor informado pela prefeitura, sempre com aprovação da base governista da Câmara de Vereadores.
Foz do Iguaçu não conseguiu repetir a experiência de Araucária, cidade paranaense que também subsidia o setor. Lá, porém, a passagem custa R$ 1 e um terço dos usuários dispõe de gratuidade. A governança contabilizou aumento de 32 mil passageiros por dia para mais do que o dobro, cerca de 70 mil.
Enquanto isso, ainda não saiu do lugar a CPI do Transporte Coletivo da Câmara Municipal, criada em setembro do ano passado para apurar possíveis irregularidades no transporte coletivo. A lembrar: depois da quinta assinatura necessária para a comissão ser criada, outros dez vereadores da base de Chico Brasileiro aderiram, a fim de dirigir os trabalhos. É um caso raro em que a união não faz a força.
Se o Judiciário vier a impor ônus em espécie pelo fim do contrato que tinha prazo de vigência até 2025, não será, afinal, o único montante que a gestão de Chico Brasileiro deverá deixar para o seu sucessor no Palácio das Cataratas. Só o défice do Hospital Municipal supera R$ 70 milhões.
Leia a opinião do portal sobre o imbróglio jurídico em relação ao transporte coletivo.
Haja negociação política nas instâncias superiores, pois esse processo está num ponto em que técnicas jurídicas não serão suficientes para evitar uma bomba nos cofres do município. E a administração deve saber muito bem disso, mas claro que não irá assumir a besteira que fez nessa rescisão de contrato com o consórcio.
Se todos cumprissem as leis não haveria transtorno.
Enquanto nossa legislação abrir brechas pra não executar o serviço seremos um faroeste caboclo