Foz do Iguaçu viveu dois dias caóticos pelas chuvas recentes, com alagamentos nos bairros e no centro, o que representou transtornos e prejuízos à população. Foram registradas inundações na Avenida JK; no cruzamento das avenidas Paraná e Costa e Silva; da baixada do Rio Boicy ao Morenitas, incluindo Jardim Canadá, Vila Brás e a via paralela à BR-277, entre muitos outros locais.
A chuva veio forte: no sábado, 28, o volume foi a metade da média prevista para o mês de outubro. Além da intempérie natural, o cenário de cidade alagada recobra o debate sobre planejamento e uso do espaço urbano, políticas ambientais e obras estruturais não realizadas, inadequadas ou não concluídas, o que mantém um sistema de drenagem deficiente e o morador iguaçuense seriamente exposto aos fenômenos da natureza.
Em janeiro deste ano, a população enfrentou os dissabores dos alagamentos, que afetaram mais severamente as regiões do Jardim Canadá e Lancaster. Na ocasião, o secretário municipal de Obras afirmou à imprensa que a sua pasta executa o que a área de planejamento projeta. Sem isso, restam serviços de manutenção, disse. Em março, novo temporal deixou várias casas alagadas na região do Morumbi, uma das maiores de Foz do Iguaçu.
Com a diversidade de soluções de engenharia e tecnologia disponível, e uma enormidade de medidas que podem ser obtidas com a própria natureza, o que não é possível aceitar é que a população fique à mercê da próxima chuvarada para contabilizar os estragos. Avarias, aliás, que têm impacto muito maior sobre quem é mais vulnerável, nas regiões populares, muitas delas desprovidas de qualquer infraestrutura urbana.
Mesmo porque o problema não é novo. Em 2018, a prefeitura divulgou mapeamento com 35 pontos urbanos de alagamento, para o que requereu e recebeu autorização da Câmara Municipal para pegar empréstimo bancário de R$ 30 milhões. No ano seguinte, ocupante da diretoria extraordinária de acompanhamento de projetos e planos de contenção de enchentes, da gestão municipal, disse no Legislativo que havia “mais de 50% de ação em andamento para resolver os pontos críticos”. Fato é que a solução definitiva não chegou até hoje.
Na legislatura passada, os vereadores instituíram uma comissão especial e entregaram ao prefeito Chico Brasileiro (PSD), em 2019, relatório com ações para mitigar o drama dos alagamentos. Nele, reproduziam os pontos críticos, como a região da microbacia do Ouro Verde, centro, Jardim Canadá e Morenitas, Jardim São Paulo e Jardim São Luiz. A julgar pela permanência do problema, o documento foi parar nas gavetas da burocracia.
Especialistas convergem em afirmar que o processo de urbanização desenfreado e sem planejamento impacta o meio ambiente e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas. A cobertura do solo, com elevada impermeabilização, contribui para criar cidades alagadas. Diante da complexidade, portanto, a ação do governante municipal deve ser sistêmica.
É dever do poder público consolidar um programa de educação ambiental efetivo e abrangente, que englobe desde noções básicas, como o descarte correto do lixo, à reflexão sobre a ação humana na natureza, em um contexto de mudanças climáticas. Nesse sentido, cabe conscientizar a comunidade para diminuir a área de concreto em seus imóveis, mudança de cultura que deve vir pelo exemplo da administração, que hoje privilegia a concretagem.
O município ainda pode inovar, recorrendo ao vasto banco de projetos, ferramentas e tecnologias sustentáveis, que são as chamadas soluções baseadas na natureza. Amplamente utilizadas em vários países, elas abrangem desde a requalificação de cursos d’água a moradias populares ecológicas. Nessa perspectiva, exemplo de sucesso é o Parque Barigui, cartão-postal de Curitiba (PR), criado na década de 1970 para conter enchentes.
É preocupante notar que as propagadas obras de contenção de alagamentos da região do São Luiz e Jardim São Paulo voltem a figurar, para a sua conclusão, na lista de serviços a serem custeados com um novo empréstimo da prefeitura, agora de R$ 37 milhões, autorizado pelos atuais vereadores.
Que a cena de um homem remando num caiaque em plena Avenida JK, como ícone do fracasso das iniciativas governamentais para superar os alagados, nutra a indignação coletiva que leva à cobrança. Cobrança direcionada a todos os envolvidos.
Leia a opinião do portal sobre os constantes alagamentos nos bairros e no centro.
A urbanização desenfreada sem limites e sem critérios ambientais em nome da falso desenvolvimento e da especulação imobiliária explica o problema . Melhor se acostumando pois estamos bem no meio do regime do novo normal da catástrofe climato energético ambiental em curso! As atividades humanas são culpadas mas quem detém o poder da caneta e do dinheiro ainda é mais responsável.! Sem perdão !
Curioso. A prefeitura orienta os moradores a usar pavers em suas calçadas, no entanto a mesma fez calçadas de concreto ao redor de uma de suas unidades de saúde, localizada na vila Yolanda. Isso sem contar outras discrepâncias mas paremos por aqui. Do que adianta cobrar os munícipes se o exemplo que deve vir de cima, sempre é distorcido. O que falta na administração são pessoas competentes, responsáveis e engajadas nas suas áreas de atuação.