Enquanto a palavra educação pipoca nos discursos e promessas de campanha de candidatos aos mais diferentes cargos eletivos, alunos de uma escola estadual em Foz do Iguaçu fecharam os livros para protestar e cobrar o básico. Falta-lhes o transporte para chegar à instituição de ensino e a refeição do meio-dia, porque não haveria funcionários para produzi-la.
Uma mãe de aluna, que expressou o seu apoio ao movimento discente, disse que precisa levar marmita todos os dias para que a filha, matriculada em curso integral, possa permanecer na escola. O depoimento de uma estudante indica a ausência de material didático, professores e laboratórios na formação técnica.
A reivindicação não ficou por aí. Os discentes do Colégio Flávio Warken chamaram a atenção da sociedade para os efeitos, que relataram sentir, da nova modelagem do ensino técnico, em que os conteúdos on-line avançam em substituição à presença do professor em sala de aula, alterando o processo de ensino e aprendizagem.
O clamor dos jovens estudantes do colégio da Vila C repõe o debate sobre o projeto educacional em torno do chamado “novo Ensino Médio”. Trata-se de uma modificação significativa instituída com medida provisória de 2016, transformada em lei no ano seguinte e que começou a promover efeitos práticos em plena pandemia.
O “novo Ensino Médio” é apresentado como “mais flexível” por dividir o currículo entre uma base nacional comum e os itinerários formativos, que podem ser projetos, oficinas ou outras abordagens. Introduz o ensino a distância e torna a disciplina de espanhol não obrigatória, o que tem um impacto direto para a escola na fronteira.
É irrefutável o argumento dos que criticam as mudanças pela insuficiência do debate, que não alcançou efetivamente os principais interessados, que são os estudantes e suas famílias. Um dos riscos apontados por quem questiona o “novo Ensino Médio” é que ele pode ser fator legitimador de duas escolas distintas.
Ao estudante de família mais abastada, a possibilidade de planejar o futuro e mergulhar em uma formação com tudo o que oferece o conhecimento humano. Aos pobres, um ensino mais restrito, de caráter técnico, para a possibilidade de emprego ou, na pior análise, o “Ensino Médio nem-nem”, que não forma para a vida nem para o mercado de trabalho.
A eleição é um bom momento para o debate sem falácias e promessas vazias.
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