São muitas as desculpas para a ineficiência do transporte coletivo em Foz do Iguaçu, problema que perdura por muitos anos. Os mandatários de plantão gostam de lembrar que é culpa do contrato firmado entre a prefeitura e o Consórcio Sorriso em 2010, quando o prefeito era Paulo Mac Donald Ghisi. Errados não estão.
Mas quem pulou do projeto e do grupo político do ex-prefeito para outras freguesias conta a história parcialmente. Parece síndrome de ex, em que ex-amigos e ex-aliados descarregam na camarilha do passado a culpa por situações do presente, na conveniente apropriação sartreana em que o “inferno são os outros”.
O prefeito Chico Brasileiro (PSD) foi um participante ativo do processo que culminou no contrato atual do transporte coletivo. O atual gestor da cidade era secretário de Administração e vice de Paulo Mac Donald. Nessa condição, por exemplo, em agosto de 2009, conduziu a audiência pública que era uma exigência formal para liberar a licitação do transporte coletivo, a qual resultou no contrato assinado em 2010 para vigorar até 2025.
Ou seja, na época, Chico Brasileiro ajudou a criar uma atmosfera para representar que o processo que estava ocorrendo previa inclusive a participação popular. Não consta que ele tenha questionado ou se insurgido contra os termos do contrato em construção, nem rompido com aquele grupo político. Pelo contrário, foi o candidato da continuidade na eleição de 2012, sendo derrotado.
Esse resgate é para dizer que Chico Brasileiro tem a obrigação de resolver os problemas do serviço de ônibus para a população, de uma vez por todas, porque é o prefeito da cidade e a responsabilidade é inteiramente sua. E também porque fez parte desse histórico de erros e equívocos que castiga o passageiro com um transporte público de má qualidade e caro.
Hoje, na esteira da contenda jurídica entre a prefeitura e o Consórcio Sorriso, o município já pediu autorização da Câmara Municipal para remanejar R$ 6 milhões dos cofres municipais para as despesas de contratação emergencial de uma empresa para operar o transporte coletivo. São recursos que sairão da divulgação turística, meio ambiente, obras e esporte.
Mas ainda pairam dúvidas em torno da contratação emergencial. Um ponto de interrogação é o número de ônibus. A contratação emergencial retomada pela prefeitura prevê 66 lotações a serviço do município, abaixo da frota atual de pouco mais de 100 veículos. Justifica a administração que o novo modelo será por quilometragem, não pelo número de ônibus, sem mais informações sobre o funcionamento na prática.
Não é possível repetir ou continuar com os erros. A votação dos R$ 6 milhões de remanejamento pela Câmara de Vereadores não pode ser meramente um jogo de sim ou não. Cabe a cada vereador fazer perguntas, buscar esclarecimentos e recorrer a outros expedientes se necessário. Simplesmente dizer sim ao votar pode manter as portas do Palácio das Cataratas abertas, porém pode não resguardar o interesse público e o direito da população a um transporte de qualidade.
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