A administração municipal elevou o preço da tarifa de ônibus de R$ 4,10 a R$ 5, reajuste de 22%, quase o dobro da inflação acumulada nos últimos 12 meses, que atinge algo em torno de 12%. Um mar de protestos tomou conta do noticiário e das redes sociais com mais esse arrocho no preço dos serviços públicos que castiga o iguaçuense.
Diante da reclamação generalizada, a prefeitura iniciou um malabarismo, adiando o aumento e, depois, afirmando que dará “desconto” para parte dos usuários. O bilhete sairá a R$ 4,50 no cartão e a R$ 5 para quem utiliza dinheiro no seu ir e vir de ônibus. Estudantes, que aplicam o cartão, não terão o “desconto”, precisando desembolsar R$ 2,50.
A medida da gestão de Chico Brasileiro divide o morador de Foz do Iguaçu em duas classes: cidadão com ou sem cartão. Atropela o princípio da isonomia, o qual confere igualdade de direitos. Pune os segmentos mais vulneráveis, como trabalhadores informais e precarizados, que muitas vezes trabalham pelo sustento do dia, sem poder armazenar créditos.
Chamar aumento da passagem de ônibus de “desconto” é achincalhar a população, desdenhar da inteligência de cada pessoa. O reajuste ocorre pouco mais de três meses após a entrada da Viação Santa Clara, apresentada pela administração da cidade como a redentora dos problemas e condutora do “novo transporte coletivo de Foz do Iguaçu”.
Quando a concessionária foi levada pelo poder público a operar o serviço, em março, o contexto já era de escalada no preço dos combustíveis e de beligerância no mundo, com a guerra deflagrada no Leste da Europa, fator de pressão no custo desse insumo. Porém, para justificar o contrato emergencial, que adveio praticamente sem concorrência, os gestores públicos insinuaram manter o valor da passagem como estava.
Tratar aumento de preço como desconto é um engodo. A conta da subtração no valor da tarifa no cartão será cobrada de todos os iguaçuenses, mesmo de quem não acessa o transporte público. O aviso já foi dado pela administração no comunicado que informa os valores reajustados da passagem:
“Para não haver o repasse integral do reajuste aos usuários, o prefeito informou aos vereadores que irá enviar uma proposta de suplementação orçamentária por parte da prefeitura para subsidiar esse custo.”
Será mais subsídio, quer dizer, dinheiro público para um sistema que nem de longe atende às necessidades do passageiro. É necessário lembrar que hoje o valor concedido já é o dobro do que foi anunciado no período da assinatura do contrato. Diz o Foztrans que o benefício mensal à concessionária é de R$ 1,2 milhão, ante R$ 6 milhões totais autorizados, à época, pela Câmara.
A realidade se impõe a quem imaginou que novos tempos no transporte coletivo poderiam vir sem uma transformação nesse setor e pelas práticas de gabinete que prescindem da ampla participação da sociedade. O itinerário dos tempos de hoje leva a um reencontro com o passado.
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