Precisou o Procon do Paraná emitir uma recomendação administrativa para que carcaças de frango e peixe ou ossos de boi deixem de ser comercializados e sejam doados a pessoas em condição de vulnerabilidade social. Essa medida, além do efeito que pretende atingir, repõe o sentido da empatia, palavra tão usada nestes tempos pandêmicos.
Para o órgão de defesa do consumidor, vender esses produtos no momento em que as pessoas de baixa renda sofrem o impacto da pandemia significa a obtenção de uma vantagem excessiva. Não é humanamente admissível tal vantagem enquanto famílias inteiras não conseguem pôr na mesa o alimento diário.
A inflação, que em setembro foi a mais alta para o mês desde 1994, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já passa de dois dígitos no acumulado dos últimos 12 meses, pressionando os preços dos alimentos. Isso em um cenário de crise social e econômica, muito dela agravada pela pandemia.
A FAO, órgão das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, mantém atividades durante a semana para marcar o Dia Mundial da Alimentação, celebrado nesse 16 de outubro. A organização estima que, atualmente, quase 50 milhões de pessoas vivam em situação de insegurança alimentar grave ou moderada no Brasil.
Aproximadamente um em cada quatro brasileiros não consegue comer por um ou mais dias ou não sabe se terá alimentos suficientes nas próximas refeições, tendo de racionar alimentos. E o país, vale o registro, produz comida em abundância e está entre os maiores exportadores internacionais de víveres.
Que as cenas de brasileiros disputando a fila da doação de ossos ou tateando um pedaço de pelanca ainda aproveitável em um caminhão de supermercado sirvam como um chamado à ação dos governantes. E que sejam capazes de estimular a empatia como um senso humanitário que leva à prática, ao fazer de forma solidária que possa minimizar o sofrimento de alguém que está próximo.
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