Moradores da fronteira estão desistindo de visitar Puerto Iguazú pela demora na fila

Esse dado indica haver um obstáculo para integração e intercâmbio social, econômico, humano e cultural na região trinacional.

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Resultado de pesquisa sobre a circulação de pessoas pela aduana da Ponte Tancredo Neves põe em números uma realidade conhecida e um problema evidente na fronteira, que é o transtorno causado pelas longas filas para o movimento de ir e vir entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú. Moradores e turistas estão desistindo de visitar a cidade vizinha argentina.

Quase metade (46%) dos entrevistados que responderam à consulta, elaborada por uma instituição empresarial, deixaram de visitar Puerto Iguazú por causa da demora na fila. Esse dado indica haver um obstáculo para integração e intercâmbio social, econômico, humano e cultural na região trinacional.

É importante notar que 90% dos participantes da pesquisa são moradores da região fronteiriça, de Foz do Iguaçu (71%), Ciudad del Este e Presidente Franco (22%); 89% usam veículo particular para o cruzamento da fronteira. Os dois primeiros principais fatores que levam as pessoas a Puerto Iguazú são alimentos e bebidas e a gastronomia.

Essas informações apontam ser o morador fronteiriço o principal afetado pelos instrumentos de controle migratório. Seccionado ou reduzido o movimento humano por esse procedimento, os efeitos ganham forma como prejuízo à integração e ao comércio, serviços e turismo, ou seja, atuam refreando o desenvolvimento.

Esses efeitos são mais enfáticos a partir dos indicativos recentes de recuperação da economia e do turismo, ainda dentro do atual cenário pandêmico. Acrescenta-se que as diferenças das moedas, neste momento, são elementos que ampliam o comércio entre as cidades, de ambas as margens do Rio Iguaçu, sobre o qual se arca a Ponte Tancredo Neves, a da Fraternidade.

Há que se respeitar as resoluções de cada país. Entre as autoridades argentinas, o debate sobre segurança costuma reavivar o atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1994, que matou dezenas de pessoas. Apurações não comprovadas sugerem que os terroristas teriam acessado a capital portenha pela fronteira.

E a má-fé de alguns veículos internacionais, a serviço do jogo geopolítico, inseriu a região, multiétnica, cosmopolita, pacífica e harmônica, em acusações infundadas durante o atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001. O desmentido de alguns desses meios veio depois, mas a conta paga pelo estrago à imagem permanece até hoje.

Fato é que o Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado tem três décadas, se avançou deficitariamente em políticas de integração econômica entre os países que o compõem, deu passos trôpegos para fomentar as interações sociais. E permanecem os limites impostos ainda hoje à gente fronteiriça.

As fronteiras não podem dividir ou causar estranhamento. As pontes devem ser elementos de conexão. Nesse contexto, há que se ter ou se construir, dialogicamente, procedimentos adequados para que nosotros, que moramos na região, possamos vivenciar plenamente essa geografia fronteiriça.

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