A Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu voltou a ocupar o centro do noticiário, não por suas finalidades, mas por investigação tendo uma parlamentar como alvo do Ministério Público, conduzida pelo núcleo de combate ao crime organizado. No gabinete da Protetora Carol Dedonatti (PP), uma devassa nos documentos e equipamentos em busca de provas.
Recai sobre a vereadora, a mais votada da cidade nas últimas eleições, com 2.700 votos, acusação da prática de “rachadinha”, que é o confisco de parte do salário de assessores. A investigação ainda apura possível intervenção política e ingerência da edil em uma diretoria da administração municipal, criada no ano passado pelo prefeito Chico Brasileiro (PSD).
A operação foi batizada de “Tudo pela Causa”, referência à defesa dos animais, bandeira que guindou Carol Dedonatti ao Legislativo. A vereadora concorreu no último pleito em coligação que se opunha ao atual prefeito, mas depois de eleita passou a fazer parte da base de sustentação da gestão municipal, votando matérias de maneira alinhada ao Palácio das Cataratas.
Votar projetos em prol da população, independentemente da autoria, mais do que uma prerrogativa, é uma obrigação dos representantes eleitos à Câmara. O que não pode ocorrer é a promiscuidade que leva à cegueira dos edis e à perda da independência, elemento indispensável para o vereador e sem o qual a defesa dos interesses coletivos se torna inviável.
E isso tem um preço alto. Não apenas na perda da capacidade de fiscalização, a principal função dos legisladores, mas com o custo advindo da troca de favores. Indicação de apadrinhados a cargos da administração, aparelhamento da máquina pública e favorecimento na liberação de verbas de emendas são alguns exemplos.
No caso específico que envolve o gabinete da Protetora Carol Dedonatti (PP), além de investigar a possível prática de “rachadinha”, a promotoria deve trazer à luz a verdade sobre a relação entre a vereadora e a Diretoria de Bem-Estar Animal (Diba). Há ingerência? Se há, como ocorre? Quem a permite?
E não é só o eventual loteamento da Diba que deve ser passado a limpo, com possíveis indicações políticas para o cargo, como desconfia a promotoria. Há que se voltar ao começo e apurar se essa diretoria, imprescindível para a proteção do bem-estar animal, foi criada para acomodar interesses e ajudar a compor maioria política na Câmara Municipal a favor da gestão.
Como em maio deste ano, quando o Legislativo enterrou pedido de investigação sobre “rachadinha” e ingerência na Diba por parte da Protetora Carol Dedonatti. A vereadora nega todas as acusações. Diz que elas têm origem em opositores que querem prejudicar a sua imagem pública e que provará ser inocente.
Para ela, que considerou a operação “desproporcional”, a intenção dos adversários é “atingir a sua carreira política, danificar sua imagem e campanha eleitoral”. Sua defesa declarou que a vereadora já havia se colocado à disposição para esclarecimentos e que irá “restabelecer a verdade dos fatos, deturpada”.
Para os agentes políticos que têm disponibilidade para retirar lições, o enredo envolvendo Carol Dedonatti poderia ecoar como um alerta, um chamado. A Casa de Leis iguaçuense precisa empunhar uma causa, uma das mais nobres e que está vinculada a todas as demais, que é a da independência entre os poderes.
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