Em uma sociedade mundializada, de comunicação instantânea e deslocamentos humanos intensos, as fronteiras físicas e simbólicas tendem a ser cada vez mais tênues. Foz do Iguaçu se orgulha de seu cosmopolitismo, ambiente de passagem, estada e moradia de pessoas de todas as partes do mundo, que se somam à gente da fronteira.
Porém, seus pressupostos de pluralidade foram solapados, mais uma vez, pelo recente relato policial de buscas em endereços de universitários acusados de integrar célula nazista na cidade. Discursos de ódio e conteúdo racista seriam disseminados na deep web, refúgio para obscurantistas de plantão.
A descoberta desse nicho, agora sob vigilância em tempo real e apuração de possíveis conexões, deve acender a preocupação de agentes públicos e da sociedade. Isso porque são vários os grupos neonazistas investigados, especialmente na Região Sul, que impulsionam pela internet a cultura da violência e a supressão das diferenças pela força.
A investigação da célula em Foz do Iguaçu ocorre no momento em que são perpetradas diferentes violências contra escolas, municiadas por redes no ambiente virtual. E também quando se conta um ano do assassinato do servidor público Marcelo Arruda, morto na própria festa de aniversário pelo ódio convertido em arma política, ainda sem punição ao autor.
Nesse sentido, há que ser lembrado o estudante haitiano espancado covardemente a golpes de garrafas, ao passar em um bar da cidade, em 2016. Homem negro, com 33 anos à época, Getho Mondesir disse que seus agressores gritavam que ele só estava no Brasil “por causa da Dilma”, presidente que havia sido afastada do cargo.
Investigação rigorosa e responsabilização conforme a norma legal são exigências contra o extremismo violento de uns e até de muitos. No plano local, também são necessárias ferramentas para coibir efetivamente qualquer pronunciamento odioso, xenófobo, preconceituoso ou de incitação à violência, muitas vezes propagado sem restrições.
A cidade de muitas cores e sotaques é real, mas convive com a Foz do Iguaçu dos desencontros. Pontuar que a miscelânea de povos e culturas não interage tanto quanto projeta a propaganda oficial equivale a dizer que há um caminho largo para o convívio baseado na harmonia e na tolerância, aqui entendida no sentido amplo de reconhecimento de toda forma de diferença.
Leia a opinião do portal sobre discursos de ódio e conteúdo racista na cidade.
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