Fila ‘visível’: epidemia de dengue lota sistema de saúde em Foz do Iguaçu

Os casos e as notificações beiram 20 mil, além de quatro mortes no período epidemiológico iniciado em agosto de 2022 – com três desses falecimentos ocorridos neste ano.

A epidemia de dengue em Foz do Iguaçu evidencia um drama inocultável vivenciado pela população, que é a espera por atendimento e vagas no sistema de saúde. Pacientes transitam entre unidades básicas e de pronto atendimento, revelam relatos diários. E, nos casos mais graves, o aguardo é por um disputado leito de hospital.

Se até então o poder público torcia o nariz para refutar demoras no atendimento, hoje o morador iguaçuense se aglomera nos equipamentos sanitários, escapando da invisibilidade conferida, muitas vezes, pelas listagens digitais. As cenas repõem, como exercício de memória, as recorrentes filas nos “postinhos” de anos passados. 

Nesta semana, à guisa de exemplo, um jovem morador da região da Vila Borges desistiu do atendimento na UPA do Morumbi, após duas horas e meia de espera. Voltou para casa com 39 graus de febre, mal-estar e forte dor de cabeça. Passou apenas pela triagem. Depoimentos assim se replicam no dia a dia.

Foz do Iguaçu vive uma das piores epidemias de dengue da sua história, comparável com a severa crise sanitária provocada pela doença no biênio 2019–2020, também sob a atual gestão. A diferença, agora, é que está acompanhada da ameaça de chikungunya e dos efeitos da pandemia de covid-19 sobre a saúde do morador.

Os casos e as notificações beiram 20 mil, além de quatro mortes no período epidemiológico iniciado em agosto de 2022 – com três desses falecimentos ocorridos neste ano. Somente nas três primeiras semanas de março, as ocorrências mais que dobraram, sugerindo um estágio de epidemia explosiva.

É preciso perguntar sobre a necessidade de um plano de prevenção e enfrentamento às arboviroses em cenário não epidêmico e epidêmico, constituído a partir da ampla participação da sociedade e submetido ao controle social, com objetivos, metas e métricas. Esse instrumento deve prever desde ações mobilizadoras da comunidade até as contingências relacionadas ao atendimento direto no ecossistema de saúde.

Na região fronteiriça, não é possível pensar em enfrentamento da doença sem ações articuladas com os países vizinhos. As municipalidades devem dialogar, trocar experiências, planejar, fortalecer os instrumentais disponíveis e aplicados em cada cidade, bem como desenvolver ações efetivas conjuntamente.

Erros individuais dos moradores, pela falta de cuidado com suas propriedades, devem ser cobrados veementemente pelo poder público. Porém, no âmbito das narrativas, empurrar a reponsabilidade da epidemia à população parece indicar o caminho para possível remédio, a multa pesada, mas não responde integralmente à solução do problema.

Por ora, virar o jogo nessa verdadeira guerra contra o mosquito segue sendo desafiador para Foz do Iguaçu. As condições de vida da população contam muito, como a prevalência de cobertura vegetal, limpeza urbana e acesso a saneamento. A isso, some-se a necessidade de proposições de envergadura na educação ambiental, na educação em saúde e na conscientização.

Há anos, a Organização Mundial da Saúde preconiza a participação da comunidade como elemento básico para a prevenção e o controle da dengue. O poder público é posto à prova para realizar uma campanha de educação, com a complexidade que o tema demanda, que supere o esquema emissão-recepção de informação, mas que seja capaz de levar à construção coletiva de práticas de mobilização social de controle da dengue.

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