Estudantes saíram às ruas de Foz do Iguaçu para pedir a revogação do Novo Ensino Médio, o NEM, em conjunto com professores da rede estadual. A crítica principal a esse modelo, instituído nos últimos anos, é que ele não formaria para a vida nem para o trabalho, sendo denominado, por esse motivo, de nem-nem.
A proposta surgiu acenando para algumas expectativas e desafios reais, prometendo aumento da carga horária, formação técnica e profissional, e aplicação da tecnologia à educação. Outro apelo indicava para a autonomia, em que o adolescente e o jovem poderiam escolher o seu projeto de vida com o NEM.
São três elementos centrais. Na prática, a carga horária das disciplinas, geral e básica, passou de 2.400 para 1.800 horas. O restante dependerá das condições de cada escola. De cara, foram reduzidas as matérias fundamentais de Português e Matemática, e outras podem desaparecer, caso do Espanhol, já que o NEM prioriza o Inglês.
Com a estrutura calcada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), houve redução de 25% das disciplinas, que deverão ser compensadas por itinerários formativos, considerados aprofundamento. Mas o que se vê é a substituição de conteúdos de caráter universal por muita superficialidade e até modismos, com professores formados nas licenciaturas perdendo campo.
Se um dos objetivos do Novo Ensino Médio era ampliar a autonomia, o processo começou às avessas, pois os jovens não foram convidados a discutir o que deveria interessar ou ser melhor para eles próprios. A norma vigorou por medida provisória, em que o presidente da República determina o texto, aprovada no Congresso Nacional sem amplo debate com a sociedade.
Já a articulação entre tecnologia e educação esbarra na falta de investimentos em infraestrutura e formação docente. Escolas sofrem até mesmo com a precariedade de suas sedes físicas e falta de concurso público, não sendo rara a constatação de edificações inadequadas e salas superlotadas, com número de alunos acima do que a lei determina.
As disciplinas que “fazem pensar” e promovem o senso crítico foram rebaixadas. O mesmo aconteceu com o ensino de Artes, que deveria levar o jovem a experimentar o rico acervo criativo acumulado pela marcha humana ao longo dos séculos. Aliás, as humanidades são imprescindíveis neste momento em que a escola está sob ataque, na mira da violência.
O idioma Espanhol deve desaparecer do ensino médio já no próximo ano. Para Foz do Iguaçu, cosmopolita e conectada às nações vizinhas hispanofalantes, é um retrocesso. Além de repertório cultural, a língua é fator de integração nas Três Fronteiras e campo de trabalho no turismo e outros ramos, sendo ministrada em curso superior na Unioeste e praticada na bilíngue Unila.
Importante registrar que o Novo Ensino Médio é aplaudido por fundações privadas financiadas por grandes bancos e corporações, inclusive conglomerados da chamada grande mídia, o que exige pensar fortemente a quem interessa esse modelo. Nas instâncias decisórias, é sabido, esses segmentos exercem profundo poder e influência, sai governo, entra governo.
Quase quatro a cada dez adolescentes e jovens de 15 a 29 anos estão fora da escola ou não terminaram o ensino básico, revela a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O que se quer não é muito, apenas que o ensino médio contribua para formar a juventude para a vida e pessoas agentes da própria história, levando ao acesso à universidade. Precisando mudar, o que não se admite é dar passo para trás como se fosse à frente.
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