Não há composição que mais será evitada pela oficialidade em Foz do Iguaçu do que “fila da dor”. Não por semântica. Esse palavreado remete a um problema grave de gestão, em uma área essencial para a população, a saúde. E dialoga com um passado recente.
Mas faltam outras designações de melhor desempenho para expressar o que passam mães, crianças e pessoas idosas à espera de atendimento na rede pública. O motivo é a dengue, mais um ano fora de controle, acrescida de síndromes respiratórias da estação.
A reportagem do H2FOZ acompanhou, ouviu e recolheu a preocupação e a angústia nas filas. O tempo de espera nas unidades de pronto atendimento do município, as UPAs, é de quatro horas, em média, podendo ser mais.
Já para remoção das unidades ao Hospital Municipal Padre Germano Lauck, além de espera, é preciso contar com uma dose de sorte. As transferências de pacientes podem demorar dias, pois o hospital da cidade está com os leitos 100% ocupados.
Tem-se, portanto, que dezenas de pessoas com encaminhamento hospitalar são obrigadas a permanecer nas UPAs, esperando vaga no nível terciário de atenção. Isso faz refrear o fluxo para novos pacientes que chegam aos pronto-atendimentos da saúde pública.
Para remediar, a prefeitura acaba de lançar edital para contratar leitos da rede particular, até fora do município. A situação de emergência em Foz do Iguaçu foi decreta pelo prefeito Chico Brasileiro (PSD) em março, dois meses passados.
Pacientes evitam unidades básicas, preferindo as UPAs. A gestão da saúde do município reclama. Só que diz o plano de contenção da dengue 2023–2024, da prefeitura, que é o poder público o ator responsável por informar o morador sobre a “porta de entrada para assistência ao paciente com suspeita” de arboviroses.
Desde o primeiro caso autóctone de dengue confirmado em Foz do Iguaçu, em 1998, a doença escala. Agora, a crise vem desencadeando-se ano a ano. Neste período epidemiológico, são 22 mil notificações e cinco mil casos da infecção transmitida pelo Aedes aegypti.
Se evitada pelos gestores públicos, “fila da dor” é uma expressão conhecida e sentida pelos moradores iguaçuenses que buscam a saúde pública. Eles têm direito e merecem atendimento digno. Afinal, não é de graça, custa o esforço que é de todos.
O atendimento pelos planos de saúde não são muito diferentes disso, infelizmente. E em termos de dengue, o diagnóstico e manejo ainda é melhor no público do que no privado.
Curiosamente não se fala sobre essa epidemia, não há placar diário de mortes ou show midiático para cima dos atuais gestores. O que $erá que mudou?
O boletim da dengue, semanal, é publicado pelo H2FOZ, que cobra do poder público ações de enfrentamento à doença, como no editorial acima.