A conquista de viver mais e o envelhecer em Foz do Iguaçu

Leia a opinião do portal sobre o direito de envelhecer com qualidade de vida e dignidade.

Foz do Iguaçu avança na transição demográfica, fenômeno nacional e mundial que estabelece novo perfil da população, marcado pelo envelhecimento. O número de iguaçuenses com mais de 65 anos cresceu 230% em 12 anos, mostra reportagem exclusiva do H2FOZ que pormenoriza os dados do censo atual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

São 24.620 moradores na faixa dos 65+, fração de 8,6% da população. No Censo 2010, esse contingente correspondia a apenas 2,9% do total, com 7.406 pessoas, revela o conteúdo jornalístico. Pouco antes, em 1970, os idosos representavam somente 1,7% dos habitantes, conforme dados da Secretaria Municipal de Assistência Social.

Viver mais é uma conquista da sociedade, reflete a equação que resulta da redução das taxas de fecundidade e de mortalidade, por múltiplos fatores, dos avanços na medicina às novas formas de viver. Se envelhecer é uma realidade que deverá estender-se pelo século 21, impõe-se refletir sobre os desafios de Foz do Iguaçu para assegurar os direitos da pessoa idosa.

É lei estabelecida pelo Estatuto do Idoso que família, sociedade e poder público devem garantir o direito à alimentação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, dignidade e convivência. São as políticas governamentais, de fato, os meios capazes de promover cidades amigáveis aos 65+ e garantidoras do que está previsto na norma legal.

Em âmbito local, o Plano Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa requer ações integradas da governança, iniciativas para dar visibilidade ao processo de envelhecimento, programas específicos para esse público, fortalecimento de vínculos e convivência familiar. E prevê o aprimoramento da assistência à pessoa idosa.

Esse mesmo plano norteia o contexto social em que vivem os idosos de Foz do Iguaçu. Em junho de 2022, estavam inscritas no Cadastro Único mais de 12 mil pessoas idosas com perfil de fragilidade de renda, entre as faixas da extrema pobreza ao rendimento acima de meio salário mínimo, o que representa a metade dos 24 mil moradores com mais de 65 anos.

Significa dizer que o processo de envelhecimento de uns difere da experiência vivenciada por outros, considerando que as condições sociais são determinantes no acesso a bens e serviços promotores de qualidade de vida e bem-estar. Mitigar o hiato social e seus efeitos entre a população idosa deve receber atenção central das políticas públicas do município.

Assistência eficaz deve ser combinada com medidas para inserir e prolongar a vida profissional dos mais experientes. E o olhar também deve voltar-se para o que deveria ser básico. Foz do Iguaçu é eficiente em oferecer mobilidade para os 65+, como calçadas adequadas e sem obstáculos, e transporte público de qualidade? As iniciativas de esporte, cultura e lazer, incluindo praças e parques bem cuidados, são satisfatórias e suficientes?

A saúde pública é fator intrínseco à qualidade de vida da população idosa, não somente em programas no âmbito da geriatria. É preciso analisar em que medida o represamento do atendimento à população de todas as gerações, com longas filas de espera para exames, consultas e cirurgias eletivas, afeta o direito à prioridade do atendimento aos mais velhos.

Se os desafios do momento já são muitos, a exigência é ainda maior por planejamento para o futuro, o que deve começar imediatamente. Isso porque o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) projeta que a faixa etária acima de 65 anos irá superar 23% da população iguaçuense já em 2040, quase o triplo do percentual atual.

A ação governamental deve ser determinante na compreensão da sociedade sobre o envelhecimento e na garantia de direitos, sem a qual resta o risco da exclusão e o etarismo, que é a prática de estereótipos, preconceitos e discriminação. O que se espera são pessoas dos 65+ vivendo plenamente Foz do Iguaçu e menos rostos delas perfilando no trabalho precário nos semáforos, na população em situação de rua ou vivendo desprovidas do mínimo de dignidade.

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