Professor Caverna defende a filosofia como remédio para o desemprego

Você sabia que, no latim, trabalho designa tortura e emprego significa unir? Pensador traz essas e outras curiosidades e reflexões.

Pensador lança provocações e inquietações ao público em sua última participação no Marco Zero.
O Professor Caverna tem promovido debates para lá de importantes em Foz do Iguaçu. Ele estimula os jovens iguaçuenses a pensar do ponto de vista filosófico, tirando a filosofia do pedestal e colocando-a no dia a dia das pessoas.

O “Homem de Neandertal” quer despertar o pensar em corações e mentes, tirar as pessoas do automático e do senso comum. Atualmente, ele ministra aulas no ensino médio e cursinhos de Foz e conduz o Café Filosófico e o Caverna Cast (clique aqui para ouvir).

O homem não para. Caverna lançou várias provocações ao público em sua última participação no Marco Zero (programa conjunto do H2FOZ e Rádio Clube FM), numa conversa franca com os apresentadores Paulo Bogler e Moacir Dalla Palma.

Durante quase uma hora, o papo foi “a filosofia como remédio para o desemprego”. A partir dessa deixa, foram várias as inquietações expostas ao microfone. Assista à entrevista na íntegra e leia os principais trechos da entrevista.

H2FOZ – Bem, para começarmos a discutir o tema, essa relação filosofia e emprego, seria interessante apresentarmos algumas conceituações de trabalho. O que é o trabalho?
Professor Caverna –
No sentido tradicional, trabalho vem do latim tripalium, termo utilizado para designar instrumento de tortura. Então se eu perguntar para você “qual é o seu trabalho?”, e você responder “eu sou jornalista”. Bom, se formos fiéis à tradução, você é um cara que está sofrendo. Já o conceito mais moderno, a partir da revolução industrial, transforma o trabalho em algo que dignifica o homem, que é algo muito bom e que você vai ter sucesso na vida. No sentido moderno ou pós-moderno, atual, se você tem um trabalho, você está sendo um ser humano, você está existindo. No sentido contemporâneo, a felicidade do sujeito está atrelada ao sucesso no trabalho. Então, por exemplo, quanto mais você ganha no trabalho, supostamente mais bens materiais você compra e mais feliz você demonstra estar. Não significa que internamente você esteja [feliz], porque o problema é a questão da tortura. Para fechar a ideia, você é jornalista, você é feliz com o que trabalha?

H2FOZ – Nesse sentido, estar desempregado é uma das situações mais temidas pelo ser humano adulto. O desemprego é um drama, a pior das coisas após a falta de saúde. Estar empregado é uma questão de sorte?
Professor Caverna –
Não existe sorte, vamos tentar desmistificar essa ideia de que existe sorte. Eu coloquei essa mensagem [na vassoura usada como parte da vestimenta do personagem]. Respeito do fundo do coração, mas quem quer construir algo que seja realmente válido não pode ficar à mercê da sorte.

H2FOZ – “A filosofia como remédio para o desemprego.” Vamos lá: como é possível essa equação? Como os pensadores ao longo da história podem ajudar nesse momento difícil e assim vencer o desânimo?
Professor Caverna –
Tem dois caminhos para essa pergunta. Podemos brincar e lembrar que trabalho é tortura, então o Dia do Trabalhador seria o Dia da Tortura. É uma interpretação no limite da brincadeira. Os filósofos, para mim, o maior ganho existencial com eles foi o fato de que todos eles se esforçaram muito para superar a si em termos de pensamento. Com os exemplos de Platão e Schopenhauer, que viveram como eles queriam dentro do processo filosófico, pense: em o que você acredita? O que você quer da tua vida?
Tentando desenvolver a ideia, vamos à ideia do emprego, que vem do latim implicare, que é agregar ou ligar. Quando eu arrumo emprego, estou me ligando, por exemplo, à empresa. Estou aceitando as normas. Quando você pensa na ideia de remédio para filosofia, que vem do latim remedium, ele vai significar aquilo que cura. A filosofia cura? Sim, a filosofia cura, porque cada filósofo se encaixa perfeitamente nos seus dilemas existenciais ao ponto de que você pode desenvolver as suas próprias ideias.

H2FOZ – Vamos tentar nos colocar no lugar de quem perdeu o emprego faz pouco tempo ou mesmo está desempregado há muito tempo. Essa pessoa está por aí entregando currículos, buscando indicações ou fazendo cursos de qualificação visando a novas oportunidades. Por que e como encaixar a filosofia nesse dia a dia?
Professor Caverna –
Isso é muito complicado. Estou desenvolvendo um método extremamente banal. Faz um exercício. Eu desafio você… eu duvido que você consegue se olhar no espelho durante, no mínimo, 20 minutos. Não é para olhar sua espinha ou sua ruga. Olhe, nem que sejam dez minutos, para os seus olhos, que você saberá a resposta com o que você tem que fazer com a sua vida. Ou seja, se você realmente terá coragem de entregar o seu currículo em algum lugar. O que eu estou querendo dizer? Que você já tem a resposta quando vai entregar um currículo. Independentemente se você vai conseguir o emprego, nesse sentido de ser um ato de juntar pessoa e empresa, você já sabe se aquilo vai te fazer bem ou mal. Para você arrumar o melhor emprego pra ti, primeiro olhe para dentro de ti, olhe nos olhos. Se encare para descobrir o que está rolando com você.

H2FOZ – Nós lançamos uma enquete relacionada ao tema filosofia e emprego. A pergunta foi: “Você é livre para escolher o próprio emprego?” O que é ser livre para escolher o próprio emprego?
Professor Caverna
– Qual é o método que estamos utilizando? No sentido tradicional, a partir do momento em que aceitamos as regras, nós não somos livres. De quem é a última palavra, de quem é a resposta? Do contratante, do dono do negócio. Podemos escolher a nossa ocupação profissional, mas onde você vai trabalhar já é outra coisa.

Pausa para respirar e abrir mais espaço para novas ideias

Durante a entrevista, as perguntas ao Professor Caverna seguiram a toada, com o filósofo lançando ainda mais reflexões. Outros aspectos comentados pela bancada do Marco Zero. Pegue a visão (as respostas) assistindo à entrevista na íntegra.

  • Ocupação versus prazer. Você escolhe uma profissão, mas é levado a trabalhar em outra área por uma questão de sobrevivência. Isso é contraditório?
  • O dinheiro existe? O que faz o dinheiro existir?
  • Por que a solução para o desemprego seria a filosofia?
  • Como o empresário pode escolher no que empreender? É uma questão de livre escolha do seu trabalho?
  • “A filosofia como remédio para o desemprego” é o nome de um livro do escritor francês Jean Louis Cianni. Qual é a contribuição dessa obra?
  • Como a busca pelo autoconhecimento pode ajudar nesse processo?
  • Como explicar a afirmação de que existem vagas ociosas por falta de mão de obra qualificada?
  • A meritocracia existe?
  • A meritocracia funciona?
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