Há décadas a monitorar o quadro econômico e social de Foz do Iguaçu, o estatístico, matemático e sociólogo Luiz Carlos Kossar acaba de lançar um estudo que busca desenredar o Produto Interno Bruto (PIB) do município. O objetivo é dar a César só o que lhe cabe, isto é, mensurar a riqueza real.
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Entrevista: PIBão ou PIBinho de Foz do Iguaçu?
Explica-se: Kossar sustenta que o PIB iguaçuense é irreal se mantiver o valor agregado pela Itaipu Binacional, estatal de energia sediada na cidade. É por isso que o levantamento que traz a público é denominado “Desmistificando o PIB de Foz do Iguaçu”.
O compilado reúne números de 2021, os últimos oficiais e disponíveis para essa projeção, e os compara com os das cidades vizinhas, de porte similar, como Cascavel. O estudioso planilhou a produção a preços básicos, a geração de impostos e o PIB per capita (por pessoa), com e sem estatais.
Em um dos quadros, o PIB de Foz do Iguaçu cai de R$ 18,4 bilhões para R$ 8,4 bilhões ao excluir-se a participação da Itaipu. Já nas demais cidades comparadas, retirando a contribuição de empresas governamentais, os valores permanecem praticamente inalterados.
É o caso de Cascavel, que tem produto interno de R$ 17,4 bilhões, no total, e contabiliza R$ 16,8 bi sem estatais. O mesmo ocorre com outras localidades pesquisadas e que integram o estudo, a exemplo de Medianeira e Toledo.
Fonte: Reprodução/Luiz Carlos Kossar
O autor do estudo é didático ao afirmar o que representa esse quadro. “Os valores do comparativo entre as cidades, em relação à produção de bens e serviços, demonstram que a produção da Itaipu Binacional infla o PIB de Foz do Iguaçu, tornando seu valor irreal perante a realidade socioeconômica do município”, defende Kossar.
“Com Itaipu, temos um PIB fantástico. Mas acontece que a Itaipu não capilariza a economia, ela é uma fábrica de energia, cuja matéria-prima é água estocada”, explanou Kossar ao H2FOZ. “Quando se retira a estatal da economia, o verdadeiro PIB de Foz do Iguaçu cai à metade”, contabiliza.
Por que comparar com outros municípios? É que a base econômica dessas cidades gera empregos e, consequentemente, renda e desenvolvimento. E qual é a base de Foz do Iguaçu?, indaga, para apontar o que chama de “dependência” em relação ao Paraguai.
“Temos a receita do turismo e comércio, e uma superdependência do que acontece do outro lado da fronteira [Paraguai]”, avalia, e do turismo nos feriadões. Sobre o país vizinho, afirma, “está crescendo e gerando desenvolvimento no serviço, no comércio, na indústria”, elenca.
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Na prática
Com efeito, ao retirar-se Itaipu da conta geral do indicador, o PIB per capita de Foz do Iguaçu é reduzido de mais de R$ 65 mil por pessoa para R$ 30 mil. Nos municípios comparados, a quantia sem estatal vai de R$ 40 mil a R$ 50 mil por pessoa.
“Os dados mostram a fragilidade da matriz econômica de Foz do Iguaçu, o que não consegue estancar o êxodo da população em idade ativa e o aumento da pobreza em suas periferias”, salienta Luiz Carlos Kossar. Para assentar a sua análise, ele faz um recorte em dois períodos distintos, que chama de “explosão” e “estagnação”.
Fonte: Reprodução/Luiz Carlos Kossar
O estudioso considera que, de 1975 a 2000, a construção da usina binacional em Foz do Iguaçu e o comércio de importados em Ciudad del Este promoveram uma grande geração de emprego e renda em Foz do Iguaçu. A cidade foi de 35 mil habitantes, na década de 1970, para 270 mil nos anos 2000. “Foi o período da explosão”, asseverou.
De 2000 a 2024, Kossar considerou que a cidade paralisou. “Nestes 24 anos, perdemos mais de 50 mil habitantes em idade ativa, a economia ficou refém da baixa empregabilidade no turismo e da informalidade de baixa qualificação profissional”, afirmou. É a fase de “estagnação”.
Para a prefeitura, “maior PIB do Oeste”
Tomando os números sem diferenciação, a prefeitura considera que Foz do Iguaçu tem o maior PIB e a maior economia do Oeste, e está entre os 70 maiores do país, com base nos dados do IBGE de 2021. Para o prefeito Chico Brasileiro (PSD), o quadro mostra que a cidade está no caminho certo.
A soma de todas as riquezas produzidas na cidade, o Produto Interno Bruto, foi de R$ 19 bilhões, à frente de Cascavel (R$ 15,8 bilhões), reportou a gestão municipal. Em relação ao ano anterior, 2020, o PIB de Foz do Iguaçu cresceu R$ 1,2 bilhão.
“O Brasil tem 5.568 municípios, e ficar entre os 70 maiores do país é resultado do trabalho de todos os setores da economia”, disse o prefeito, em dezembro do ano passado, quando o PIB oficial foi divulgado. “Mostra ainda que estamos no caminho certo com as políticas públicas”, analisou Chico Brasileiro.
Pior que sem contar Itaipu, a economia de Foz é irrisória. O turismo é mal explorado, remunera mal seus trabalhadores e tem potencial de desenvolvimento maior.
Só que os que comandam o turismo e a prefeitura acham que está bom…