O empreendedor Rafael de Oliveira manteve seu estabelecimento gastronômico aberto por dois anos, proporcionando renda para a família e pelo menos mais duas vagas de emprego. Agora, o espaço está fechado para reformas, fora da temporada. Para ele, dificuldades existem em qualquer localidade, mas aponta desafios enfrentados por quem deseja investir em Foz do Iguaçu.
Em seu ramo, expõe, é difícil atrair visitantes para os negócios locais, por mais paradoxal que possa parecer essa constatação, já que costumeiramente Foz do Iguaçu é considerada uma cidade com economia vinculada ao segmento do turismo. Da parte do poder público, sugere, deveria haver maior facilitação e incentivos.
“Principalmente para quem quer promover algo diferente na cidade”, enfatiza à reportagem. “Eu mesmo já fui atrás de tentar criar um evento gastronômico, no formato de feira aberta ao público, sem custos, focada em hambúrguer e comidas de rua. E não obtive respostas”, revela Rafael, decepcionado.
Entre uma ideia na cabeça e os instrumentais na mão para a sua realização há as condições econômicas, determinantes para a concretização ou não de sonhos e projetos. O matemático Luiz Carlos Kossar apresenta uma série de estudos para ampliar a compreensão sobre a realidade, os problemas e as perspectivas de Foz do Iguaçu.
O estatístico destrinchou informes do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). A constatação, grosso modo, aponta para estagnação da economia iguaçuense em relação às localidades da região e gestão ineficiente dos recursos financeiros municipais.
A radiografia traz à luz, ainda, outros resultados inquietantes, os quais demonstram que Foz do Iguaçu tem a pior distribuição de renda e o menor índice de investimentos, ainda que apresente a maior receita corrente líquida, quer dizer, dinheiro que entra no caixa. A comparação é com cidades vizinhas e de porte similar, a partir da fonte de dados oficiais da última década.
Olhar para os vizinhos
Em uma dimensão de seus estudos, Luiz Carlos Kossar compara produção, massa salarial e relação per capita entre as cidades do Oeste paranaense de Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Medianeira, durante dez anos, de 2012 de 2021. Per capita significa por pessoa, termo usado comumente para indicar a média de um valor determinado.
As principais conclusões do matemático e estatístico são:
- O modelo de desenvolvimento agroindustrial, adotado pelas três cidades vizinhas, é baseado na produção do setor privado, abrangendo agro, indústria e comércio/serviços, sendo muito superior a Foz do Iguaçu.
- A massa salarial, que são as remunerações pagas aos trabalhadores pela produção, coloca Cascavel, Toledo e Medianeira em uma posição bem melhor do que a de Foz do Iguaçu.
- A matriz econômica adotada pelos três municípios do Oeste impulsiona o desenvolvimento socioeconômico de suas comunidades, gerando emprego e renda e, como consequência, bem-estar social, argumento assentado, entre outros indicadores, no crescimento de suas populações, sendo que Cascavel aumentou 22,46%; Toledo, 18,04%; Medianeira, 10,66%; e Foz do Iguaçu apenas 0,88%.
Para o estudioso da realidade econômica da região, esses dados indicam a “estagnação da economia de Foz do Iguaçu na comparação às cidades vizinhas”. Esse quadro resultaria, para Kossar, da falta de integração da cidade com o modelo de desenvolvimento do Oeste, dependência do turismo aos feriados, ausência de projetos e gestão ineficiente.
Segundo ele, no “turismo dos feriadões”, a maioria dos visitantes permanece em média dois dias na cidade e “gasta 70% dos recursos em compras na vizinha Ciudad del Este”. Adicionalmente, as obras estruturantes, pleiteadas por anos, estão sendo executadas, “mas não resolvem o problema, pois a população em idade ativa – a que produz riquezas – continua em êxodo”, avalia.
Olhar para cidades semelhantes
Em um segundo modelo, Luiz Carlos Kossar amplia os limites regionais e compara Foz do Iguaçu com cidades paranaenses de portes semelhantes: Cascavel, Maringá e Ponta Grossa. A avaliação compreende massa salarial do setor privado, dinheiro em caixa (receita corrente líquida) e recursos em investimentos.
A análise dos dados não permite traçar um cenário favorável. O levantamento propõe que Foz do Iguaçu tem a melhor receita corrente, mas registra a maior despesa com pagamento de pessoal per capita, na comparação com outras cidades. Detalhe: as demais localidades possuem três mil servidores a mais, em média.
Renda menor: massa salarial dos trabalhadores iguaçuenses com carteira assinada foi de R$ 77,9 mil na última década. Esse valor chegou, em Ponta Grossa, a R$ 104,5 mil; Cascavel, R$ 125,9 mil; e Maringá, R$ 162,2 mil.
Dinheiro em caixa: Foz do Iguaçu conta com maior receita corrente líquida per capita, com R$ 46,9 mil. Maringá obteve R$ 45,8 mil; Cascavel, R$ 36 mil; e Ponta Grossa, R$ 30,3 mil.
Menos investimento: Foz do Iguaçu teve menor investimento público próprio por pessoa, totalizando R$ 1,6 mil. Ponta Grossa destinou R$ 1,8 mil; Cascavel, R$ 2,1 mil; e Maringá, R$ 3,1 mil.
Assim, no oposto da moeda, Foz do Iguaçu apresenta o pior investimento por pessoa, apesar de ter uma das melhores receitas do Paraná, revela o comparativo com Cascavel, Maringá e Ponta Grossa. Esses municípios “distribuem mais renda entre seus habitantes”, sustenta Kossar, ao analisar os indicadores do Ipardes.
“Os indicadores per capita demonstrados nos gráficos mostram a fragilidade da economia de Foz, baseada no turismo, em comparação com outras cidades baseadas na agroindústria”, conclui. Somam-se a isso “a má gestão dos recursos públicos administrados pelos gestores” iguaçuenses na década, enfatiza Kossar.
O matemático prossegue afirmando que a elevada receita de Foz do Iguaçu se deve ao aporte de royalties e de ICMS gerado pela Itaipu Binacional. Esse dinheiro deveria priorizar investimentos para o desenvolvimento socioeconômico, porém é usado pelo poder público municipal para o custeio e contribui para manter uma faixa de servidores públicos.
“Esse montante foi ‘sequestrado’ por uma elite de servidores que ao longo do tempo criaram leis e regras em seu próprio benefício”, assevera Kossar, com base nos dados que extraiu. “Como exemplo, nos últimos dez anos, a prefeitura gastou R$ 2 bilhões a mais com despesas de servidores que a nossa vizinha Cascavel”, calcula.
Fragilidades e desafios
É preciso advertir eventuais interpretações apressadas que o estudo de Luiz Carlos Kossar não sugere transformar Foz do Iguaçu em uma lavoura de soja ou em um imenso frigorífico. A radiografia é para elencar limites da economia que possibilitem chegar a políticas públicas para a superação de problemas estruturais.
A matriz econômica iguaçuense é frágil, dependente do fluxo de visitantes sazonais, crava o matemático e professor. A consequência é que a cidade não gera empregos perenes nem supera a informalidade de baixa qualidade em termos de atividades exercidas e renda, e que não é garantidora de direitos laborais à população.
O Paraguai, contextualiza, possui um modelo de desenvolvimento baseado em três vetores, que são energia barata, legislação desburocratizada e custo-país de 10%. “Isso facilitou maciços investimentos nas duas últimas décadas, tanto no comércio de Ciudad del Este como no setor do agronegócio”, analisa.
“Portanto, como Foz do Iguaçu é a cidade mais movimentada da fronteira com o vizinho país, serve como um município auxiliar do que ocorre do outro lado da ponte [Internacional da Amizade]”, reflete. Para Kossar, exemplo desse papel acessório é a oferta de mão de obra iguaçuense informal servida à cidade paraguaia do outro lado do Rio Paraná.
PIB e polo universitário sem mitificação
Os últimos dados divulgados pela prefeitura dão conta de que Foz do Iguaçu ocupa a 59.ª posição do ranking nacional do Produto Interno Bruto (PIB), sendo a sexta maior economia do Paraná. Com efeito, estaria à frente de Ponta Grossa, Cascavel, Paranaguá, Guarapuava e Colombo, e figurando como a maior entre 57 cidades do Oeste.
Para Luiz Carlos Kossar, essa posição no PIB não reflete concretamente a realidade da economia iguaçuense, já que a Itaipu Binacional representa 84% da produção. “E como é uma fábrica de energia, cuja matéria-prima é água estocada, pouco usa mão de obra e ainda não capilariza os setores produtivos da cidade”, frisa.
A representação das somas de Itaipu na mensuração econômica “maquia” a realidade, diz. “A massa salarial dos seus 1.700 empregados, renda média de R$ 15 mil mensais, é maior do que a massa salarial dos 11 mil trabalhadores do setor do turismo, que possui renda média de R$ 2.174 ao mês”, compara e exemplifica o matemático.
Em outra abordagem, Kossar discorda da afirmação de que Foz do Iguaçu seja uma cidade universitária. “Esse é outro dado falso”, declara, ao recorrer aos números. “Vejamos Ciudad del Este: nossa vizinha tem 12 mil estudantes apenas cursando Medicina. Estamos longe de ser uma cidade universitária”, pontua, fornecendo um quadro (abaixo) de matrículas.
Que fazer
Conforme Luiz Carlos Kossar, Foz do Iguaçu precisa, de maneira urgente, pensar em uma nova matriz econômica, capaz de agregar empregos perenes aos seus habitantes, principalmente aos em idade ativa. Um dos caminhos é a integração com o modelo de desenvolvimento em vigência na Região Oeste, aposta.
“Nossas autoridades públicas e do setor privado passaram décadas reivindicando obras estruturantes. Elas vieram, mas de forma alguma resolvem o desejo do cidadão em idade ativa que busca emprego”, realça. “Esse é o principal motivo do êxodo pelo qual passamos. Nossa população, no ano 2000, era de 260 mil habitantes. Duas décadas depois, em 2021, era de 257 mil”, critica Kossar.
O que diz a prefeitura
A reportagem questionou a prefeitura quanto ao posicionamento da gestão sobre o estudo do matemático Luiz Carlos Kossar. O H2FOZ também quis saber das ações do município para aumentar a massa salarial e, por consequência, melhorar a distribuição de renda, como incrementar os investimentos e fomentar o desenvolvimento.
A administração, por nota, disse que a “Prefeitura de Foz do Iguaçu não reconhece o estudo em questão como oficial”, escreveu. “Ressalta ainda que a análise sobre a distribuição de renda não leva em consideração importantes atividades econômicas para o município, como os empregos informais e o microempreendedorismo individual”, lê-se do documento da gestão municipal.
[…] Foz do Iguaçu está estagnada na comparação com cidades da região,… […]
Mas é claro… as MAFIAS existentes aqui nao deixa nada evoluir juntamente com a mebtalidade retrógreda do Iguaçuino que só sabe olhar p/ rabo dos outros inves de cuidar de suas proprias vidas … fica dica!
Parabéns pela robusta matéria Paulo. A verdade dói. Um ponto econômico que merece ser observado é do setor logístico, que está em expansão em Foz.
Nossa prefeitura só serve pra cabide de emprego, o quadro de pessoal é grande e imcopetente! Infelismente!
É de se indignar, temos uma receita maior que Cascavel, Maringá, etc. e os investimentos na população são pífios. E a nota da prefeitura no final é uma vergonha!
Não precisa de estudo para elencar o óbvio: os donos do dinheiro em Foz do Iguaçu não estão nem aí para a cidade. Exploram a cidade para investir em seus próprios carros de luxo e mansões, e mandam o resto do dinheiro para o Oriente Médio.
Até da a impressão que Cascave e Foz do Iguaçu estão em PLANETAS diferentes!
acredito que se a tarifa de energia fosse mais baixa teria um melhor resultado em investimento, para o município.
Ótima matéria, os moradores de Foz reconhecem no dia a dia essa triste realidade. A má gestão pública é o principal fator para a estagnação da cidade.
Parabéns, Chico Trambiqueiro e cia!!
E só ir na polícia militar vê quantos carros estão fora da frota porque não tem verba pra consertar em pouco tempo estamos com polícias correndo atrás de bandido apé dinheiro some vai no posto de saúde não tem médico da família lógico desvio de verba e um buraco negro .
Bom, esse dados levantando pelo matemático e um fato qualquer iguaçuense médio que não é favorecido pelo sistema da cidade percebe isso de forma simples e lógico e impressionante como toda a administração de Foz é e foi incompetente são coisa simples que demonstra isso, a cidade não ter um paço municipal por exemplo, são anos de incompetência de toda a administração que a cidade já teve não se salva um. Não há uma preocupação com formas de atrair investimento que deixe um legado para a cidade, que melhores a condição do trabalhador médio que é a maioria da população. Sempre tem os mesmos puxando a sardinha para o seu lado pessoal, o alto funciolimismo público, alto escalão do turismo entre outros, falta representação dos interesses da população do grande bairros, falta tudo, já passou da hora de começar planejar outras vias de desenvolvimento para a cidade, para se ter resultados nos próximos 10 anos pois tudo leva tempo, até la boa parte dos que levam vantagem e não tem interesse em largar a teta do estado já não estarão sobre essa Terra.
VISH!!!!! E A PREFEITURA PRA PIORAR A EXPECTATIVA DO “IGUASSUENSE” SE PORTA COM MACRO ARROGÂNCIA E ORGULHO. A RECEITA DO CAOS. VAI FOZ !
E o péssimo prefeito, junto com seu bando de secretários e diretores inúteis e incompetentes (com raríssimas exceções), acham que Foz está em franco desenvolvimento. Não conseguem administrar nem a prefeitura, que é uma bagunça interna, imagina o município inteiro.