Ciclos, estagnação e desafios: rumos para Foz do Iguaçu crescer

O matemático e sociólogo Luiz Carlos Kossar analisa as perspectivas socioeconômicas da cidade: “Perder pessoas é perder desenvolvimento”.

O matemático e sociólogo Luiz Carlos Kossar analisa as perspectivas socioeconômicas da cidade: “Perder pessoas é perder desenvolvimento”. Assista à entrevista. 

Foz do Iguaçu é marcada por diferentes ciclos econômicos. E também por estagnação. A cidade passou pelo extrativismo da erva-mate e da madeira e pelo período da construção da Itaipu Binacional e do “comprismo”. Nos 107 anos da cidade, cabe a pergunta: qual é o seu rumo para o desenvolvimento econômico e social?

Assista à entrevista.

O matemático e sociólogo Luiz Carlos Kossar analisa a trajetória do município e detalha os principais ciclos econômicos e as mudanças ocorridas para expor a sua visão sobre os atuais desafios socioeconômicos de Foz do Iguaçu. Ele foi entrevistado no programa Marco Zero, produção do H2FOZ e da Rádio Clube FM.

O Marco Zero é um programa conjunto produzido pelo H2FOZ e Rádio Clube FM. Entrevista, opinião, enquete, entretenimento, esporte, cultura e agenda. Todo sábado, das 10h às 12h. Participe do grupo no Whatsapp para receber as novidades.  https://bit.ly/3ws5NT0

Kossar faz um recorte histórico a partir da construção da Itaipu Binacional. Na época, na década de 1970, a população da cidade saltou de aproximadamente 30 mil para mais de 130 mil moradores, já no começo dos anos 1980. Veio o chamado “ciclo do comprimo” de Ciudad del Este (Paraguai) e nova expansão.

“Imagine a explosão que houve em apenas dez anos, no início da obra de Itaipu”, frisa. “Depois, com os mercados brasileiros fechados, explode Ciudad del Este devido ao comprismo de produtos do Oriente. Foz do Iguaçu passa a receber romarias que vinham do Brasil inteiro e de novo a cidade passou por um up grade”, contextualiza.

De acordo com Kossar, pessoas vinham morar na cidade e investimentos eram feitos acreditando que o ciclo de crescimento seria vertiginoso, inclusive com projeções de aumento exponencial da população. “Mas isso não ocorreu. Acabou a obra e o processo da muamba também. Temos hoje os mesmos 260 mil iguaçuenses de há 20 anos, a população estagnou.”

Perda de capital e de pessoas

O matemático e sociólogo volta para meados de 2005 acerca do que chama de refluxo, com êxodo de capital e de pessoas. “Até agora, Foz do Iguaçu não arrumou o rumo”, afirma, apontando para as experiências de outras cidades vizinhas, como Cascavel, Medianeira e Toledo, as quais “não sofreram esses abalos” cíclicos, pondera.

“O que é fundamental em uma cidade para que ela cresça de maneira constante e agregando valor?”, indaga. Segundo Kossar, as cidades da região possuem indústrias e conseguem manter a economia e a geração de emprego de forma fluida, mesmo com a crise provocada pela pandemia de covid-19.

“O que gera desenvolvimento em uma cidade é investimento em pessoas. Foz do Iguaçu tá perdendo mão de obra, trabalho, que é o que faz a economia girar”, avalia. “As pessoas estão indo embora de Foz do Iguaçu em idade produtiva, com capacidade de gerar riqueza”, sublinha Luiz Carlos Kossar.

Foz do Iguaçu completa 107 anos nesta quinta-feira, 10 – Foto: Marcos Labanca

Rumos 

Em seu diagnóstico, sustenta que o município não está integrado aos vizinhos. “Demos as costas para o Oeste. Cascavel e Toledo, por exemplo, estão com a economia bombando, recebendo investimentos de cooperativas, com exportações para o mundo. Não fomos capazes de nos agregar a essa riqueza”, constata.

Kossar defende que Foz do Iguaçu precisa associar-se às demais cidades da região. “Tem que se integrar. Alianças assim acontecem no mundo todo. Do contrário, vamos perder mais gente, enfrentar mais dificuldades”, relata. Para ele, é possível estimular indústrias na cidade para atender a demandas pontuais das cooperativas da Região Oeste, sem perder os benefícios do turismo.

Conforme o sociólogo, o primeiro passo para fortalecer o desenvolvimento pode ocorrer com a integração regional, com as cidades próximas. O segundo exige observar a experiência da fronteira. “Precisarmos olhar o que está acontecendo com o Paraguai, que recebe investimento pesado em indústrias e outros setores”, sugere.

“Uma cidade é fundada pelo seu território e pelas suas pessoas. Foz do Iguaçu tem que cuidar mais das suas pessoas”, reflete. “Quando se perde gente, se perde desenvolvimento. Quem desenvolve uma cidade são as pessoas e seus movimentos”, finaliza Luiz Carlos Kossar.

Vc lê o H2 diariamente? Assine o portal e ajude a fortalecer o jornalismo!
LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.