Eles pagam pelo subsídio e, na fronteira, enfrentam filas e falta de combustível.
Não pense que o fenômeno é novo: a gasolina argentina já foi tão barata quanto agora, proporcionalmente, em relação ao preço cobrado no Brasil.
Um dos motivos para essa diferença permanece: o real está valorizado ante o peso. O outro é que o Brasil se baseia no preço internacional, enquanto a Argentina subsidia o custo dos combustíveis.
Com o último aumento no Brasil, o preço da gasolina argentina torna-se ainda mais atraente para quem mora nas regiões de fronteira – já custa bem menos que a metade do valor cobrado aqui.
Como o Paraguai também reajustou os preços – e as distribuidoras privadas anunciam um aumento para os próximos dias -, agora há ainda mais filas entre Encarnación e Posadas, por exemplo. E o contrabando, em galões, virou rotina, praticamente sem condições de ser fiscalizado a contento.
(Do título: quando se fala em “argentinos sofrem duas vezes”, exclua-se o dono de posto de combustíveis. Quanto mais vende, mais lucra.)
“PERDEMOS A BATALHA”
Em Puerto Iguazú já tentaram estabelecer quotas de gasolina para estrangeiros, isto é, brasileiros e paraguaios. Na prática, não funcionou. E a venda em galões está cada vez mais em alta.
“Perdemos a batalha contra a venda ilegal e rogamos que apareça alguém iluminado que solucione isto e permita que os trabalhadores locais possam carregar um pouco de combustível”, lamenta Freddy Ríos, líder de taxistas e motoristas de veículos de aluguel de Puerto Iguazú.
Mesmo a fila exclusiva para esses profissionais de Puerto Iguazú, nos postos de combustível, não está resolvendo, segundo Ríos. “Não temos combustível nem pela manhã e nem à tarde”, disse ao jornal Primera Edición, de Posadas.
Ele mesmo enfrentou o problema, nesta semana. “Trabalhei das 17h às 23h e, quando fui abastecer, não havia combustível. Tive que ir a Puerto Libertad para encher o tanque, bem cedinho.” Puerto Libertad fica a cerca de 25 quilômetros de Puerto Iguazú.
PARAGUAI E ARGENTINA
Na fronteira entre a cidade paraguaia de Encarnación e Posadas, na Argentina, a situação é ainda mais grave, porque as filas estão cada vez mais longas, principalmente depois do último aumento de preços da gasolina no Paraguai.
Há gente que fura a fila, mediante propina, há brigas, estresse e muito nervosismo na espera para entrar na Argentina, o que pode levar algumas horas.
O presidente da Câmara Municipal de Encarnación, Juan Lichi, já conseguiu permissão da binacional Yacyretá para utilizar uma área pertencente a ela para criar um estacionamento no lado paraguaio, o que reduziria as filas nos trechos de acesso à ponte internacional San Roque González de Santa Cruz.
Os trechos cortam regiões populosas de Encarnación e o caos que se forma prejudica não só os motoristas, mas também os moradores da região.
DEMORA ARGENTINA
Mesmo com sinal verde, no entanto, serão necessárias obras complementares, e isso pode levar algum tempo para amenizar o problema. Antes disso, seria preciso entender e resolver o gargalo.
Segundo o vereador, no lado paraguaio, para quem vai atravessar a Posadas, o trâmite para cada veículo é de apenas 30 segundos. O problema está no lado argentino, onde a demora para atender à burocracia leva entre 10 e 12 minutos.
A burocracia é tanta que “até o número de telefone lhe pedem, e não entendemos o porquê”, disse Lichi, conforme entrevista ao jornal Primera Edición.
INTENÇÃO?
O repórter do Primera Edición perguntou ao presidente da Câmara de Vereadores de Encarnación se ele achava que a demora no lado argentino era intencional, para evitar que mais paraguaios cruzem a ponte para abastecer seus carros.
“Fala-se muito disso, porque aumentou o preço do combustível em Encarnación e, talvez, queiram desencorajar os encarnacenos a ir à Argentina”, concordou Juan Lichi.
QUEM PAGA A CONTA
O jornal Impacto Castex, da província argentina La Pampa, também publicou reportagem sobre a venda de combustíveis para os paraguaios.
Segundo o diário, o preço da gasolina argentina aumentou 9% no dia 2 de fevereiro, depois de ficar congelado por oito meses (o último reajuste havia sido em maio de 2021).
Mesmo com a guerra na Ucrânia e suas consequências sobre o preço internacional do petróleo, o governo argentino não autorizou novo reajuste, embora as petroleiras do país reclamem da defasagem.
Na verdade, o preço dos combustíveis é subsidiado, isto é, o dinheiro público banca parte dos custos que o consumidor teria.
E isso deixa revoltado o presidente da Associação de Proprietários de Postos de Serviços de Encarnación, Miguel Corrales.
Ele disse ao Impacto Castex que “o subsídio do governo argentino aos combustíveis subsidia o consumo do cidadão paraguaio”.
Com isso, os postos de serviço das regiões de fronteira do Paraguai estão vendendo 70% menos do que antes de serem reabertas as fronteiras com a Argentina. O consumo de gasolina do país vizinho por parte dos paraguaios, segundo Miguel Corrales, chega a 1 milhão de litros por mês.
PREÇOS POR AQUI
Em Foz do Iguaçu, o preço médio da gasolina está em R$ 7,21, hoje, de acordo com o site Preço dos Combustíveis. O menor preço é de R$ 6,68 e o maior de R$ 7,39. Então, vale a pena pesquisar antes de abastecer.
Quanto ao etanol, está na média em R$ 4,94, com o mínimo de R$ 4,89 e o máximo de R$ 4,99.
Pelos preços médios, o litro de etanol custa hoje 68,5% menos que o litro de gasolina.
Compensa encher o tanque com etanol? A “lenda” é que só vale a pena quando o etanol custar no mínimo 70% menos do que a gasolina.
CASO A CASO
Este percentual, no entanto, se baseia numa “falsa premissa”, de acordo com reportagem do suplemento Jornal do Carro, do jornal O Estado de São Paulo.
Quando o carro flex foi lançado, em 2003, explica a reportagem, chegou-se a este percentual, “a partir de testes de consumo não muito rigorosos nem padronizados, como são realizados hoje. Além disso, nestes últimos 18 anos foram muitas as modificações em motores, etanol e gasolina”.
Agora, “70% não significa mais nada. Quando muito, um valor aproximado entre as diferenças de consumo das dezenas de modelos comercializados no nosso mercado”.
A diferença de consumo entre modelos avaliados pelo Inmetro chega a variar entre 65% e 76%, conforme o veículo.
O suplemento cita como exemplo o Hyundai HB20, em que o consumo de etanol é apenas 24% maior que o de gasolina. Isso significa que, se o etanol custasse até 75% do valor da gasolina, ainda seria vantajoso, financeiramente, abastecer com ele.
Já alguns modelos importados, como o Mercedes, que teve motor adaptado para flex enquanto era produzido no Brasil, registram consumo de etanol bem superior aos 30%. Portanto, se o etanol custar 70% do preço da gasolina, ainda não será vantajoso, financeiramente, optar por ele.
TESTE PARA CRER
Você pode pesquisar sobre seu carro ou – melhor ainda – testar cada combustível e verificar como é o consumo de etanol e de gasolina.
A partir dali, ao chegar no posto, você saberá com segurança quando é mais vantajoso usar um ou outro combustível. Isso pode significar uma boa economia mensal.
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