Por AMILTON FARIAS | OPINIÃO
A violência dentro das escolas não acontece há pouco tempo. O Brasil já viveu cenas de massacres dentro da escola em outros tempos, segundo os dados do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, o país sofreu cerca de 20 ataques a instituições de ensino entre outubro de 2002 e março de 2023. O curioso é que metade deles ocorreu nos últimos dois anos.
De acordo com levantamento da Unicamp, pode-se perceber um padrão nos ataques: na sua maioria são meninos ou homens, boa parte deles é branca, atraída por discursos de ódio e racismo em grupos da internet.
Para a maioria, percebe-se que a motivação para cometer os assassinatos resulta de vidas marcadas pelo acúmulo de frustrações pessoais provenientes de relações sociais instáveis na família, na comunidade e na escola.
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Uma vez frustrado, o indivíduo tende a associar-se a grupos que compartilham as mesmas experiências e frustrações pessoais, e aí entram as redes sociais – que se tornaram terra sem lei, abrindo espaço para se organizarem, chegando ao ponto de promoverem uma grande campanha de massacre, como a que foi divulgada nas redes sociais para o último dia 20, colocando em desespero toda uma sociedade.
De onde vem tanta violência?
O país nunca viveu a promoção da violência e acesso às armas como nos últimos anos. Chegamos ao ponto de ter uma fabricante, a Taurus, fazendo promoção na Semana Brasil, criada em 2019 pelo então presidente da República Jair Bolsonaro, em comemoração ao 7 de setembro. A empresa oferecia a baixo preço fuzil T4 calibre 5.56 NATO e carabina CT9 calibre 9mm.
Nos quatro anos de mandato do ex-presidente, foram mais de 40 decretos apresentados. Os dados de acesso às armas foram alarmantes. No período, foram concedidos 904 mil novos registros de armamento para caçadores, atiradores e colecionadores. Com 691 registros de novas armas por dia. Além disso, nas redes sociais e nos grupos de aplicativos de mensagens, uma avalanche de posts e de incentivos à promoção da violência foi disseminada, como nunca na história do país.
Qualquer pessoa de sã consciência consegue entender que a venda de armas de fogo não apresentaria apenas um risco para toda a sociedade, mas também para seus detentores. Conforme documento elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), para cada 1% a mais na difusão de armas há aumento de 1,1% na taxa de homicídios e 1,2% nos latrocínios.
Ações de combate à violência nas escolas
Neste momento vemos os governos federal, estadual e municipal trabalhando com as forças de segurança para o combate à violência escolar. Em todas as propostas apresentadas, a solução está no aumento das forças policiais dentro do ambiente de ensino. Essas sugestões parecem mais a promoção da militarização das instituições do que medidas para realmente atacar a origem e a ordem do problema.
Precisamos saber que tipo de sociedade futura desejamos, bem como entender que parte da mudança depende da escola. Se a sociedade não se unir contra modelos educacionais que coloquem a escola, os alunos e a educação como produto de mercado, a tendência é piorar.
A escola é um dos primeiros modelos de sociedade vivenciados pelas crianças, adolescentes e jovens, por isso a falta de uma educação emancipadora e humanizada tem colocado em xeque o trabalho social das instituições, que é o de preparar os estudantes para o convívio em coletividade, ensiná-los como se apresentar à sociedade e como lidar com as situações do cotidiano no ambiente em que viverão, seja no trabalho, em casa ou na comunidade onde moram.
Para isso é importante abrir as portas à comunidade, promover a criação de grupos de teatro ou dança, clubes de leitura ou cinema, saraus literários; ajudar os alunos a criarem jornais, blogs e programas de rádio; oferecer aulas de circo e esportes de grupo, humanizando as relações. O fortalecimento dos laços de amizade entre a escola e a sociedade sempre foi o melhor remédio contra a violência!
Relembre algumas datas:
Blumenau (SC), abril de 2023;
São Paulo (SP), março de 2023;
Monte Mor (SP), fevereiro de 2023;
Ipaussu (SP), dezembro de 2022;
Aracruz (ES), novembro de 2022;
Sobral (CE), maio de 2022;
São Paulo (SP), março de 2022;
Morro do Chapéu (BA), setembro de 2022;
Barreiras (BA), setembro de 2022;
Saudades (SC), maio de 2021;
Charqueadas (RS), agosto de 2019;
Caraí (MG), julho de 2019;
Suzano (SP), março de 2019;
Medianeira (PR), setembro de 2018;
Goiânia (GO), outubro de 2017;
João Pessoa (PB), abril de 2012;
São Caetano do Sul (SP), setembro de 2011;
Realengo (RJ), abril de 2011;
Taiúva (SP), janeiro de 2003;
Salvador (BA), outubro de 2002.
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